Livro: Kupfer e Hasenclever - Economia Industrial (2013) - Capítulos 9, 10 e 11
Livro: David Kupfer e Lia Hasenclever - Economia Industrial (2013)
Pgs. 117-135
PARTE III - Interação Estratégica
"CAPÍTULO 9: "Uma Introdução à Teoria dos Jogos (Larry C. Cardoso e Luís Otávio Façanha)"
129 - Neste texto, discutiremos jogos não cooperativos com informação completa. (...) Os jogos são jogos de informação completa e perfeita quando os jogadores podem observar as ações escolhidas pelo oponente (preços etc.).
130 - Jogo dos investimentos elevados ou baixos em P & D. A empresa II joga depois da I. Os pares entre parênteses são a pontuação final de cada - primeiro a I e depois a II. Inicia com o nó raiz, passa pelos nós ramificados e vai até os quatro nós terminais. A Figura 9.1 mostra a dupla de números que denota os ganhos finais (payoffs).
131 - ...Na Figura 9.1 está representado um jogo com informação completa e perfeita, pois as ações do jogador I são sempre observadas pelo jogador II antes do jogador II tomar suas decisões. Nos leilões de envelope fechado, a informação é completa e imperfeita. Fica tudo bem mais incerto. A linha tracejada representa isso:
132 - ...Os supostos ganhos são os mesmos, mas agora não se sabe em que ramo da árvore está, antes de II fazer a decisão que vai terminar o jogo.
133 - Forma estratégica de jogo versus forma extensiva: ...a forma estratégica é um modelo estático de jogo, pois ignora questões temporais e trata o jogo como se os jogadores estivessem escolhendo suas estratégias simultaneamente (mesmo que haja hiato de tempo entre a tomada de decisão de um e do outro). Diferentemente, a forma extensiva é um modelo dinâmico de jogo, pois leva em conta e descreve de forma completa as sequências de movimentos e eventos possíveis de ocorrer ao longo do tempo, quando o jogo for jogado. A fim de que o assunto fique chato, passa a enfiar notações...
134 - Sobre equilíbrio de Nash, destaca: O equilíbrio, quando encontrado, não deve ser interpretado como imposição normativa, do tipo “o jogo deve ter este ou aquele desenlace” e/ou do tipo “o EN configura acordo autoimposto”, como se verá logo adiante. Acordos que se pretendem autoimpositivos devem possuir características adicionais de incentivo e/ou constituir referências virtuosas de convenções ou pontos focais, para que sejam tácitos, e não compulsoriamente adotados pelos jogadores. Se pretendermos supor a existência de acordos (que tenham a força de um equilíbrio), é recomendável que antes descrevamos e analisemos o jogo que permitiu a emergência do acordo. Tem a ver com o "razoável de ser jogado" e não com a maior pontuação possível. Porém... essa sugestão não deve levar o leitor a inferir que os desenlaces dos jogos venham a ser inequívocos. Inclusive, os jogos podem não apresentar equilíbrio (quando jogados por meio de estratégias puras – veja o Apêndice), podem ter equilíbrio único e podem ter equilíbrios múltiplos.
135 - Passa a explicar a eliminação de "estratégia dominada", mas da forma mais abstrata e chata possível ao contrários dos outros livros que li. Só fica legal quando volta para o exemplo (jogo do P & D): Por comparação entre linhas, pode-se observar que a estratégia (pura) E é forte e estritamente dominada para a empresa e jogador I: seja qual for a escolha da empresa/jogador II, a empresa I obtém pagamentos maiores escolhendo B (com probabilidade igual a 1) do que escolhendo E (com probabilidade igual a 1). (...) Podemos dizer que, dificilmente, a estratégia dominada E viria a ser escolhida pelo jogador I, fato que é também do conhecimento do jogador II, e que permite em princípio suprimir a estratégia E da representação do jogo, sem alterar as regras do jogo. (...) Diante dessa versão simplificada do jogo, é esperado que o jogador II preferirá a estratégia E à estratégia B, caso o jogador II fosse também “racional”, como o jogador I, e no sentido elementar em que a noção de racionalidade foi utilizada. Assim sendo, outra representação estratégica poderia ser apresentada, incluindo apenas as estratégias B e E, para os jogadores I e II, respectivamente, e o equilíbrio do jogo estaria definido por (B,E). (Um dos meus "poréns" a toda essa coisa é que tem coisa pressuposta, tipo "a aversão à desigualdade não joga um papel aí".)
136 - O equilíbrio de Nash pode compatibilidade de respostas:...se o jogador I escolhe E, a melhor resposta do jogador II é B. Mas a melhor resposta do jogador I à escolha de B pelo jogador II não é E, mas B. Portanto, (E, B) não é equilíbrio de Nash. Quando o jogador I escolhe B, a melhor resposta do jogador II é E e não B. Caso o jogador II escolha E, a melhor resposta do jogador I é B. Portanto, E é melhor resposta do jogador II à escolha de B pelo jogador I e B é melhor resposta do jogador I à escolha de E pelo jogador II, ou seja, compatibilidade mútua que aponta (B, E), como equilíbrio; e (B, E) configura conjecturas e previsões corretas dos jogadores, o que, podendo-se mais uma vez argumentar, não é imposição obrigatória do pressuposto de racionalidade, que apenas leva às estratégias racionalizáveis.
137 - ...Uma forma talvez menos trabalhosa de se chegar às estratégias racionalizáveis e ao(s) equilíbrio(s) de Nash – ENs, é a de assinalar os ganhos com barras, como se fez na Figura 9.5(a). Os ganhos que identificam melhores respostas do jogador I às conjecturas do jogador I acerca das escolhas de estratégias por parte do jogador II estão marcados com barras sob os números, e os pagamentos que identificam melhores respostas do jogador II às conjecturas do jogador II acerca das escolhas de estratégias do jogador I estão marcados com barras sobre os números. Células que vierem a conter barras sob e sobre os números identificam as estratégias que constituem ENs.
138 - O dilema do prisioneiro já "conhecemos/fichamos". ... o equilíbrio de Nash desse jogo é atingido quando os detentos decidem indiciar o colega e se negarem a cooperar (entre si). Surpreende no resultado o fato de os jogadores obterem pena de cinco anos cada, no lugar da pena de apenas um ano de prisão, que ocorreria no caso de ambos cooperarem. (...) O resultado do jogo dramatiza as possibilidades frequentes da interdependência estratégica resultar em perdas coletivas e em ineficiências sociais, o que já levou muitos filósofos a interpretarem o dilema como representação bastante fiel da “guerra de todos contra todos” anunciada pelo Leviatã, de Hobbes. Note que o resultado foi obtido sem que supuséssemos, como se faz correntemente, que, em cada célula, o ganho de um jogador é a perda do oponente, e que a soma dos ganhos em cada célula é nula (o famoso jogo de soma-zero).
139 - Uma interpretação corrente da literatura especializada de Microeconomia, Organização e Economia Industrial é a de que os jogos estáticos de oligopólio possuem a mesma estrutura do dilema do prisioneiro. Explica o duopólio de Cournot. Ambas as empresas se dariam melhor agindo como monopólio e produzindo apenas 1/2 da demanda total que o mercado comportaria. Assim, maximizariam o lucro desde que a outra nada produzisse. Entretanto, não se sabe qual será a escolha da outra. Pode ser qualquer coisa entre 0 e 50%, racionalmente falando. Se as duas vão "ao máximo", lucram menos, pois vira 100% concorrência. O Equilíbrio de Cournot-Nash, ECN, ficará definido pela interseção das duas correspondências, ponto em que as conjecturas mútuas estão corretas e se compatibilizam, prevendo 1/3 do mercado para cada uma das empresas e 2/3 de quantidade total produzida, com p=1/3 e lucros individuais de 1/9. Assim, a quantidade total a ser produzida é superior à de monopólio, com preços e lucros inferiores aos que este último arranjo propiciaria, mas inferior à quantidade total que seria produzida em concorrência perfeita.
140 - De fato, caso as regras do jogo e instituições fossem outras e as empresas pudessem se coordenar como um monopólio (dividindo igualmente a quantidade a ser produzida e agindo como se ambas cooperassem), a produção individual seria de 1/4. O problema é que isso cria incentivo para alguém burlar o conluio a fim de obter lucros extra: Segundo o modelo aqui proposto, porque, uma vez que uma das empresas venha a anunciar a produção de 1/4, a outra empresa teria incentivos para, obedecendo sua Correspondência de Melhor Resposta, responder com a produção (1 – 1/4)/2=3/8. No fim das contas, todas vão imaginar essa esperteza e concluir que ela só cessa com ambas em 1/3 já que não se pode confiar na combinação. No Cournot (ECN), nem as empresas são 100% beneficiadas, nem os consumidores.
141 - (Achei a explicação do de Bertrand (EBN) uma porcaria. Não sei em quê inova).
142 - Sobre a "Exemplificação da Indução Retroativa (backward induction)", creio que compreendi a lógica, mas foi explicado de forma ruim, com linguagem chata, aparentemente mais preocupada com conceitos. Umas partes nem entendi, outras são tranquilas. E tenho impressão de que já vi tudo isso em explicações melhores dos livros de economia anteriores. Mas enfim, a ideia pareceu ser dissecar as opções iniciais com uma empresa tentando apostar com base no que a outra vai escolher. Dá para criar dois jogos pra cada hipótese. ...Como se pode verificar, o jogo que se segue ao nó II.2 é um Dilema do Prisioneiro e o jogo que se segue ao nó II.1 é um jogo de coordenação.
143 - Passa ao "Modelo de Stackelberg". Entrantes (E) e estabelecidas (I). Também já vi explicações do tipo. Sobre ampliação da capacidade: ...Consideremos que os custos irrecuperáveis (sunk costs) comprometam as decisões da empresa I por certo período de tempo. Com isso, a empresa I estaria sinalizando à empresa E sua disposição de permanecer no mercado em períodos futuros. (...) Com as simplificações adotadas, pode-se dizer que a empresa E é concorrente potencial que pode ingressar sem custos no mercado, ou é empresa que já participa deste, como empresa marginal. No segundo estágio do jogo, a empresa E decide então pela quantidade a ser produzida, tendo observado a decisão prévia da empresa I.
144 - ...Como se viu, em jogos dinâmicos o jogador que tem a liderança – o responsável pelo primeiro movimento do jogo – pode se colocar no lugar dos demais jogadores e antecipar suas decisões. No caso, tudo se passaria como se a empresa I pudesse inspecionar as melhores respostas, dadas por RE, a serem selecionadas pela empresa E, dadas suas conjecturas a respeito das estratégias a serem selecionadas no primeiro estágio pela empresa I, vindo a empresa I a usar esta informação para decidir pela capacidade de produção que mais lhe convém, no primeiro estágio do jogo. Dada a decisão inicial da empresa I, e como a empresa E confere credibilidade à decisão da empresa I, a empresa E observa a decisão da primeira e decide sob o comando de sua correspondência de melhores respostas.
145 - Jogos com estratégias finitas que não possuem equilíbrio de Nash em estratégias puras possuem equilíbrio de Nash em estratégias mistas.
146 - (As páginas finais do capítulo ficam bastante chatas, só com exemplos abstratos-formais e uma chuva de conceitos que não me despertaram qualquer interesse. Li só por ler. Se for tudo pra dizer que em jogos repetidos a coisa é diferente... pelamordedeus!).
147 - ...Por vezes, parece isso, como quando ele conclui: Jogos repetidos são, assim, peculiarmente difíceis de serem descritos, mas configuram questionamento útil e obrigatório das situações estáticas que analisamos anteriormente. Em particular, a previsão do Leviatã e do Dilema do Prisioneiro, da “guerra de todos contra todos” merece ser cotejada por desenlaces que tenham a força das reciprocidades (coopero hoje, confiando que, no futuro, você, ou outro jogador que esteja no seu papel, venha a cooperar). Mais concretamente, é difícil antever que duas empresas venham a estabilizar um mercado no equilíbrio de Bertrand-Nash, com lucros nulos.
Pgs. 136-155
"CAPÍTULO 10: "Modelos de Concorrência em Oligopólio (Hugo Pedro Boff)"
(148 - Este eu resolvi pular, pois percebi que é ainda mais chato/formal/abstrato que o anterior e não sei bem pra que me serviria).
Pgs. 156-167
"CAPÍTULO 11: "Coordenação Oligopolista (Frederico Rocha)"
149 - Nos capítulos anteriores, vimos que a presença de interação entre empresas em um mesmo mercado – inseridas em processos de concorrência que podem ser descritos por jogos não cooperativos, com formato do Dilema do Prisioneiro – pode conduzir a soluções subótimas do ponto de vista das empresas. (...) A ideia de que as empresas assistirão passivamente sua eliminação do mercado por causa de concorrência predatória parece pouco plausível. Isto levanta, por um lado, algumas dúvidas sobre os processos concorrenciais puramente baseados em preços, por outro, sugere que – caso as escolhas dos consumidores permaneçam sensíveis aos preços – as empresas deverão empreender algum acordo para não reduzir os preços.
150 - ...A revisão estratégica em direção à maximização conjunta de lucros parece ser uma possibilidade. Este comportamento já havia sido previsto por Adam Smith: "Pessoas da mesma profissão [do mesmo setor de negócios] raramente se encontram, mesmo que seja para momentos alegres e divertidos, mas as conversações sempre terminam em conspiração contra o público ou em algum incitamento para aumento dos preços." São preços tácitos/formais, contra os quais, por vezes, os consumidores tentam lutar.
151 - Um exemplo de acordos formais é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que estabelece quotas de produção para cada um de seus membros, impedindo que a oferta exceda um determinado nível e permitindo o estabelecimento de preços acima do custo marginal.
152 - Cerveja na praia seria outro acordo tácito: Neste caso, não houve comunicação entre todos os agentes presentes, mas parece que eles têm algum mecanismo que possibilita a uniformização dos preços, mesmo quando as condições de demanda se alteram.
153 - Um oligopólio que produza ao custo marginal pode enfrentar até prejuízo, por não ter a escala ótima de custo médio (custos fixos são muito altos, digamos).
154 - Desta maneira, podemos pensar que os dois oligopolistas se veem diante das seguintes opções. Caso venham a trair o acordo, eles obterão o lucro de monopólio no primeiro período, mas receberão lucro 0 em todos os períodos subsequentes. Caso contrário, eles obterão metade do lucro de monopólio no período atual e em todos os períodos subsequentes. Suponha que o lucro dos períodos subsequentes seja descontado pela taxa de juros, de maneira que o lucro do período i seja contabilizado no primeiro período como d(i-1)π, sendo δ = + 1 1 r (os símbolos são outros lá, mas nem precisa, dá pra entender a lógica), onde d é o fator de desconto, r, a taxa de desconto e i, o período em que o lucro é percebido. Assim, a empresa decidirá cooperar desde que os retornos em caso de cooperação sejam superiores aos retornos em caso de traição.
155 - ...Também pode haver o medo de o mercado um dia terminar, então cresce o incentivo para conseguir lucro logo. Isto significa que quanto maior a instabilidade do mercado maior será a dificuldade para se chegar a um acordo em preços.
156 - Equilíbrios perversos: A história dos mercados não indica que, uma vez rompido o acordo, nunca mais haverá cooperação entre as empresas, como foi suposto anteriormente. (...) Uma vez encontrada uma violação, o mais provável é que arranjos sejam realizados para que a cooperação seja retomada.
157 - Cita aquele torneio de retaliação patrocinado por Robert Axelrod, em que o "olho por olho, dente por dente" teve desempenho vistoso na batalha pelo dilema do prisioneiro. É interessante perceber que muitas vezes esta não era a melhor estratégia contra cada uma das estratégias individualmente, mas, na média, foi a que obteve o melhor resultado. A cooperação geralmente depende muito de uma retaliação feroz.
158 - ...O mais interessante a respeito deste resultado é que, sob o ponto de vista da empresa que foi traída, conforme sugerido anteriormente, a competição impiedosa não é a melhor opção. Uma vez tendo sido traída, caso adote a estratégia impiedosa, seus lucros serão 0 em todos os demais períodos; caso retorne ao acordo, pelo menos em um período, seu lucro será superior a 0. Este problema levanta uma questão adicional: ainda que a ameaça de adoção de estratégias impiedosas seja a melhor opção para evitar a traição, sua credibilidade após a violação do acordo é pequena.
159 - Dificuldades para a cooperação: 1. Dificuldade de detecção da violação ao acordo; 2. Assimetrias nas estruturas de custos; 3. Heterogeneidade do produto; 4. Número de empresas presentes no mercado; 5. Estruturas de custos; 6. Alterações nas condições presentes no mercado.
160 - A empresa de custos mais elevados tenderá a aplicar preços maiores e a vender quantidades inferiores. A obtenção de um acordo tácito se torna mais difícil pela falta de convergência a um preço comum a prevalecer no acordo. (...) Uma alternativa a este procedimento é o estabelecimento de um cartel, em que as empresas dividam o mercado de acordo com o nível de seus custos marginais, conforme exposto na Figura 11.3. O cartel estará maximizando os lucros quando os custos marginais se encontram com a receita marginal na Figura 11.3C. Nesta situação, a empresa 1 terá uma produção muito superior àquela da empresa 2. Neste caso, o excedente total do produtor será definido como a área cinza na Figura 3C e o excedente destinado a cada uma das empresas será definido pelas áreas cinzas nas Figuras 3A e 3B. Como pode ser percebido, a empresa 1 recebe um excedente significativamente superior àquele da empresa 2. Isto pode gerar insatisfação, conduzindo a empresa 2 a solicitar partição mais equitativa. A solução requererá uma coordenação ainda superior, como, por exemplo, a formação de uma organização central encarregada de receber e distribuir lucros entre as empresas.
161 - A principal implicação da diferenciação de produto é a presença de assimetrias nas curvas de demanda individuais. Mais uma vez os preços de monopólio para as duas empresas tenderão a ser diferentes. Fica muito difícil a coordenação. Uma alternativa para a empresa 2 seria aproximar seu produto em relação àquele da empresa 1, acirrando a concorrência por preços.
162 - ...Em alguns setores a coisa é especialmente tensa: A indústria de máquinas e equipamentos em alguns casos prepara seus produtos com requisitos específicos de cada cliente. O grau de diferenciação do produto é tão grande que exige que a equipe de vendas seja da própria fábrica e que os vendedores sejam engenheiros especializados. A combinação de preços neste setor pode ter que chegar ao nível de especificar o preço de cada componente utilizado em uma máquina, exigindo a composição de um livro de normas. Cita o exemplo das ferrovias nos EUA ao fim do século XIX. Tinha tudo pra ser coordenado o oligopólio, pois os custos fixos eram muito altos e alguns irrecuperáveis.
163 - Sobre o número de concorrentes, com três ou mais piora. Mais incentivo à burla, parece. Apresenta matematicamente o problema. ...as condições em que o futuro é descontado têm de ser melhores do que quando só há dois concorrentes no mercado. Ocorre que a coordenação era muito difícil: As cargas transportadas variavam quanto aos locais de origem e destino e peso e forma de transporte. Como consequência, tarifas eram obtidas por acordos entre as estradas de ferro e seus usuários. Ainda que preços elevados fossem estabelecidos, o formato decrescente da curva de custos criava incentivos à redução de tarifas para atrair tráfego, diminuindo o custo médio. Como resultado, vários acordos foram rompidos. (...) Havia ainda um problema adicional que tornava mais difícil a manutenção do acordo. Enquanto alguns produtores tinham um horizonte de longo prazo, outros mantinham horizontes de curto prazo, refletindo-se em descontos muito elevados sobre os rendimentos futuros.
164 - ...Ainda tinha a sacanagem de Jay Gould: ...Com forte atuação na bolsa de valores, a maior parte de seus rendimentos advinha da especulação, ou seja, da venda de ações em períodos de alta e compra em períodos de baixa. Seu controle sobre uma das principais companhias de estrada de ferro permitia a obtenção de informação privilegiada sobre o andamento de negócios. Assim, tão logo se chegava a um acordo por preços, Gould ordenava que parte de suas linhas reduzisse secretamente suas tarifas, atraindo mais tráfego. Como consequência, seus lucros se elevavam. A traição só era percebida pelos demais membros conforme o fluxo de carga ia se transferindo de suas linhas para aquelas operadas por Jay Gould. Entre o período em que os lucros se elevavam e a reação das demais empresas, o preço das ações das estradas de ferro controladas por Gould se elevava. Gould então vendia parte de suas ações. Com a quebra do acordo e o início de guerra tarifária, os lucros caíam, tendo efeito negativo sobre os preços das ações. Gould atuava, então, no mercado, comprando as ações que vendera em alta. A instabilidade dos preços nesse mercado só foi solucionada após uma onda de fusões que permitiu a concentração da indústria.
165 - Sobre uma estrutura de custos que cria incentivo à traição, o acordo talvez precise ser especial: ... uma boa forma de garantir a coordenação tácita ou formal é a limitação da capacidade produtiva. Tipo o tamanho da planta.
166 - O último ponto cita debilidades de todas as análises anteriores: 1. O preço adotado no acordo será igual ao de monopólio; e 2. As condições gerais do mercado e da indústria permanecem inalteradas, ou seja, privilegiamos analisar as condições que dificultam a coordenação oligopolista em situação estática.
167 - Combinar nem sempre é fácil, podendo haver regulação legal inclusive de preço máximo. No mais, a comunicação entre as partes pode ser proibida legalmente; uma parte pode querer divulgar informação a respeito de seus custos, mas as condições gerais de concorrência podem ser tais que geram desconfiança quanto à informação concedida.
168 - Há condições que facilitam, pode haver desincentivo, pela natureza do produto, a reduções de preço: ...A curva de demanda individual da empresa apresentará uma quebra, conforme expresso na Figura 11.7, que apresenta a curva de demanda quebrada de Paul Sweezy, em que a curva de demanda é mais elástica para aumentos nos preços e inelástica para reduções. O resultado parece óbvio. Mudanças nos custos não deverão causar, pelo menos em um primeiro momento, alterações nos preços. (...) Este comportamento pode ser observado em muitas ocasiões em várias indústrias. Em períodos de redução da demanda por automóveis, fruto de algum choque macroeconômico, percebe-se, por exemplo, que a primeira reação das empresas é aumentar os estoques de automóveis nos parques das montadoras, ou seja, elas mantêm a produção. Uma razão para isto está no elevado custo de dispensa ou manutenção da força de trabalho. Em um segundo momento, as empresas dão férias coletivas, impactando a produção. Somente em períodos muito longos de crise são observadas alterações nos preços.
169 - A liderança de preços é uma importante forma de se chegar à coordenação de preços. Nesta concepção, uma empresa anunciaria mudanças de preços que seriam seguidas pelas demais existentes na indústria. Esta prática, além de gerar coordenação, pode evitar suspeitas de comunicação ilegal por parte de organismos de defesa da concorrência. Existem três formas de liderança de preços: (1) empresa dominante, (2) colusão (quando não há uma líder clara e aceita-se uma "liderança colusiva" para não ficar explícita uma colusão ilegal. Pode ser até por razões históricas: ...Por exemplo, ainda que a partir do início do século a parcela de mercado da US Steel na indústria de aço norte-americana tenha decrescido, sendo inclusive ultrapassada por outras empresas, ela se manteve como líder em preços durante todo o processo) e (3) barométrica (uma empresa qualquer, podendo ser até pequena, dá uma de "osada" e altera os preços. Dá a linha a seguir. Caso as demais empresas avaliem positivamente a mudança empreendida, ela será validada ...Se os preços das demais empresas são mantidos, a primeira empresa retorna ao seu preço inicial).
170 - ..Como age a empresa líder: Esta empresa adota, então, o preço que melhor lhe convém, dada a estrutura de oferta das empresas seguidoras, ou seja, ela antecipa a escolha de quantidade das empresas marginais para cada preço, calculando a demanda residual. A partir da demanda residual, ela estabelece o preço que maximiza os seus lucros, sendo seguida pelas demais empresas da indústria. A Figura 11.8 ilustra esta situação. A curva D é a demanda do mercado e "Sf" a oferta das empresas da franja. A empresa líder antecipa a oferta das empresas da franja, subtraindo da demanda total a quantidade que seria ofertada por estas empresas. A partir deste procedimento, ela obtém a curva de demanda residual d. Ela então maximiza os seus lucros a partir da curva de demanda individual, obtendo o preço PL e ofertando QL. No entanto, a este preço, a demanda do mercado é QT, sendo a diferença igual à quantidade ofertada pelas empresas da franja, QF.
171 - Liderança no mercado de ovos de chocolate: ...Devido ao grande número de empresas no mercado, a comunicação entre elas, para se chegar a um acordo, é muito difícil. Nesta situação, uma conhecida loja de departamentos brasileira adota um procedimento bastante interessante. Ela anuncia na televisão que detém os menores preços do mercado em razão de ter os menores custos e que qualquer redução de preços por parte dos concorrentes será respondida com mais redução. Desta maneira, solicita aos concorrentes que não reduzam preços. Este tipo de procedimento pode ser entendido como liderança de preços.
172 - Conclui dizendo que há tanta coisa em jogo e possibilidades que dificilmente os modelos matemáticos se saem bem em prever comportamentos em cada mercado. Na verdade, os processos de formação de preços são muito mais indeterminados do que preveem estes modelos.
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