Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. II - Capítulos "21", "22", "23" e "24"
Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. II (Os Economistas) (1890)
Pgs. 222-231
"CAPÍTULO 21: "Lucros do Capital e Capacidade Empresarial"
117 - Exemplifica com o homem de negócios que sai de uma pequena atividade de carpintaria individual para comando de uma grande empresa de serviços do tipo, com trabalhadores manuais assalariados. ...Se sua capacidade for maior do que a normal em sua categoria, ele será capaz de obter, com dado desembolso em salários e outras despesas, tão bom resultado como a maioria dos seus rivais com um desembolso maior: terá substituído alguns dos gastos deles pela sua capacidade extra de organização, e os seus ganhos de administração incluirão o valor do dispêndio que eliminou. Assim, ele aumentará seu capital e seu crédito, será capaz de tomar mais dinheiro emprestado, e a uma taxa menor de juros. Obterá mais ampla freguesia e ligações comerciais, um conhecimento cada vez maior de materiais e processos, e oportunidades para aventuras ousadas mas refletidas e lucrativas, até que afinal terá delegado a outros quase todos os deveres que lhe ocupavam o tempo, mesmo depois de ter cessado ele próprio de fazer qualquer trabalho manual.
118 - A inflação dos preços que culminou em 1873 enriqueceu os tomadores em geral, e em particular os empreendedores de negócios, às expensas de outros membros da sociedade. (...) Assim, Bagehot, escrevendo sobre essa época, afirmava que o surgimento de novos homens estava tornando o mundo dos negócios na Inglaterra cada vez mais democrático.
119 - ...Mas em anos recentes tem havido uma reação, em parte devido a causas sociais, e em parte à influência de uma contínua queda nos preços. Os filhos dos homens de negócios estão um tanto mais inclinados do que há uma geração a ter orgulho das atividades de seus pais, e julgam cada vez mais difícil satisfazer as exigências de um luxo crescente, com a renda a que ficariam limitados se se retirassem dos negócios.
120 - A idéia de uma arte comum de fazer dinheiro é muito moderna, pois quase tudo de antigo sobre a mesma era individual e particular.
121 - A vantagem do pequeno empreendedor sobre o trabalho especializado: é mais móvel, podendo estar em constante "estado de alerta". ...E conquanto às vezes possa ser tarefa mais difícil para o homem de negócios que para o trabalhador especializado descobrir se poderia melhorar as suas perspectivas mudando de atividade, contudo o homem de negócios tem grandes possibilidades de descobrir o que se apresenta sobre o presente e o futuro de outros ramos de negócio e, desejando mudar de atividade, será geralmente capaz de fazê-lo com maior facilidade que o trabalhador especializado.
122 - Conclusão de Marshall: ...podemos concluir que a raridade das habilidades naturais e o custo dispendioso do preparo especial exigido para o trabalho afetam os ganhos normais de administração, na mesma escala que em relação aos salários normais do trabalhador qualificado. (...) apesar de ser verdadeiro que um hábil homem de negócios, iniciando a vida com uma boa soma de capital e boas ligações comerciais, tem probabilidades de obter ganhos maiores de administração que um homem igualmente capaz, que inicie a vida sem essas vantagens, há, todavia, desigualdades análogas, embora menores, entre os rendimentos de profissionais liberais que iniciam a carreira com vantagens sociais desiguais. E até mesmo os salários de um trabalhador dependem do ponto de partida que se lhe tenha oferecido na vida, quase tanto quanto do dispêndio que seu pai pôde fazer para lhe dar educação.
Pgs. 232-245
"CAPÍTULO 22: "Lucros do Capital e Capacidade Empresarial (Continuação)"
123 - O correto cômputo dos lucros: Ao analisar as causas que regulam os lucros, a primeira dificuldade que encontramos é até certo ponto de caráter verbal. Resulta do fato de que o chefe de um pequeno negócio realiza ele próprio grande parte do trabalho que, numa grande empresa, é feito por gerentes e capatazes assalariados, cujos ganhos são deduzidos das receitas líquidas do negócio, antes que os lucros sejam apurados, enquanto os ganhos de todo o trabalho do pequeno negociante computam-se nos seus lucros. Boa parte do "lucro" pode ser simplesmente remuneração ao trabalho.
124 - ...Uma correção dessa anomalia de linguagem remove a principal fonte da opinião de que os lucros são altos num pequeno negócio. (...) A maior parte da desigualdade nominal entre as taxas normais de lucros por ano, em pequenas e em grandes empresas, desapareceria se o âmbito do termo lucro fosse estreitado no primeiro caso, ou ampliado no segundo, de modo que incluísse, em ambos os casos, a remuneração das mesmas classes de serviços.
125 - ...Pequenos negócios em ramos que oferecem grandes vantagens técnicas a grandes capitais produzem lucros muito pequenos.
126 - A taxa de lucros é baixa em quase todas as indústrias que exigem muito pouca habilidade da mais alta ordem, e nas quais uma firma, anônima ou de natureza pessoal, com uma boa freguesia e grande capital, pode manter-se contra os adventícios, enquanto for administrada por homens de hábitos industriosos, com sólido bom senso e moderado quinhão de iniciativa.
127 - Os ganhos normais de administração são naturalmente altos em proporção ao capital e, portanto, a taxa de lucros por ano sobre o capital é alta, quando o trabalho de administração é intenso em proporção ao capital.
128 - Giro muito rápido do capital? Há quem faça fortuna com 1% dele girando... Já sobre as mercadorias que levam anos - ex: navios - pra ficarem prontas, opera a lógica contrária. (...) é necessário um lucro sobre o giro de cerca de 100%, para remunerar o varejista de a1guns tipos de artigos de fantasia que não podem ser vendidos senão devagar, e dos quais devem ser mantidos estoques variados, que exigem local amplo para exibição, podendo ainda uma mudança na moda torná-los invendáveis, exceto com prejuízo; e mesmo essa alta taxa é excedida com freqüência no caso de peixes, frutas, flores e hortaliças.
129 - Ao que entendi, coloca que, na era medieval, havia uma consciência muito imperfeito dessas diferenças que o giro causa. Mas tolerava-se costumeiramente alguma forma.
130 - Viés de sobrevivência no cálculo da taxa média de lucro em setores ou até geral: Os lucros dos indivíduos diferem mais extensamente do que os ganhos ordinários, e seu valor médio é superestimado porque os que perdem todo o seu capital desaparecem. (...) É provável que os verdadeiros ganhos brutos de administração, isto é, o excesso dos lucros sobre o juro, não sejam em média mais de metade, e em algumas indústrias arriscadas menos da décima parte daquilo que parece às pessoas que fazem estimativas sobre a lucratividade de uma indústria somente pela observação dos que ganharam os prêmios. (...) Há um século atrás muitos ingleses voltavam das índias com grandes fortunas, e espalhou-se a crença de que a taxa média dos lucros que ali se obtinha era enorme. Mas, como Sir W. Hunter assinala (...), os fracassos eram numerosos, mas somente "os que ganhavam a sorte grande na loteria voltavam para contar a historia".
131 - Mobilidade e riscos na sociedade industrial inglesa do Século XIX: Wells diz (Recent Economic Changes, p. 351): "De há muito há um acordo substancial entre os competentes para formar uma opinião a respeito, de que 90% de todos os homens que tentam negócios por sua própria conta estão votados ao fracasso". E Mr. J. H. Walker fornece (Quarlerly Journal of Economics, v. li, p. 448) algumas estatísticas quanto à origem e à carreira dos fabricantes das principais indústrias de Worcester, em Massachusets, entre 1840 e 1888. Mais de 9/10 dos mesmos começaram a vida como operários diaristas; e menos de 10% dos filhos dos que figuravam na lista dos Industriais em 1840, 1850 e 1860 tinham qualquer patrimônio em 1888, ou haviam morrido deixando alguma coisa. Quanto à França, M. Leroy Beaulieu diz que, de cada cem novos negócios, vinte desaparecem quase imediatamente, cinqüenta ou sessenta vegetam, sem ascender nem decair, e apenas dez ou quinze são bem-sucedidos. (Répartition des Richesses. Cap. XI.)
132 - Vimos que, uma vez obtida a habilitação necessária para o trabalho, no que se refere ao artesão ou ao profissional liberal, parte dos ganhos é realmente, quanto ao futuro, uma quase-renda de capital e trabalho investido em habilitá-los para o trabalho e um começo de vida, em relações de negócio, e em geral oportunidades para fazer render as suas faculdades; e só o restante da receita representa verdadeiros ganhos de esforço.
133 - Extrema habilidade natural é um excedente que parece renda. Serve em qualquer âmbito. Artesão... Empreendedor...
134 - Marshall reconhece, porém, esses casos a que chama exceções: O negociante bisonho, que herdou um bom negócio, e tem apenas forças suficientes para não o deixar desintegrar-se, pode obter uma receita de muitos milhares por ano, que contém muito pouca renda de raras qualidades naturais.
Pgs. 246-251
"CAPÍTULO 23: "Renda da Terra"
135 - Nem tudo na terra está fora de controle (clima, calor, chuva, ar): ...as propriedades químicas ou mecânicas do solo, das quais depende em grande parte sua fertilidade, podem ser modificadas e, em casos extremos, inteiramente alteradas pela ação do homem.
136 - A riqueza ou fertilidade da terra, como vimos, não pode ser medida de forma absoluta, pois varia com a natureza do produto cultivado, e com os métodos e a intensidade do cultivo. Dois tratos de terra, embora cultivados pelo mesmo homem, com despesas iguais de capital e trabalho, têm probabilidade, mesmo que deem colheitas idênticas de cevada, de produzir colheitas desiguais de trigo. Se fornecem colheitas iguais de trigo quando cultivados descuidadamente ou de maneira primitiva, talvez deem colheitas desiguais quando cultivados intensivamente, ou com métodos modernos. Além disso, os preços pelos quais os vários requisitos agrícolas podem ser comprados, e pelos quais se podem vender os diversos produtos, dependem do meio industrial, e as mudanças que neste ocorrem estão constantemente alterando os valores relativos das diferentes colheitas e, portanto, os valores relativos da terra em situações diversas.
137 - Marshall usa um par de conceitos meio esquisito: ...podemos empregar o termo "valor-trabalho" para exprimir a quantidade de trabalho de dada espécie que o produto pode comprar, e "valor real" para significar a quantidade de artigos de primeira necessidade, confortos e luxos que dada quantidade do produto pode adquirir. Uma alta no valor-trabalho das matérias-primas pode implicar uma crescente pressão da população sobre os meios de subsistência; e uma alta no excedente do produtor, devido a essa causa, vem juntamente com a degradação do povo, da qual serve de medida. Mas se, por outro lado, a alta no valor real· das matérias-primas foi causada por um aperfeiçoamento das técnicas de produção, fora a agrícola, será provavelmente acompanhada por uma alta no valor aquisitivo dos salários.
138 - (Algumas outras partes dessa discussão eu nem entendi o que diabo ele está discutindo)
Pgs. 252-267
"CAPÍTULO 24: "Posse da Terra"
139 - Menciona a "bondade" do "proprietário liberal": ...Assim, corporações e muitos grandes proprietários particulares deixam que os seus arrendatários continuem, de ano para ano, sem fazer nenhuma tentativa para que as rendas em dinheiro acompanhem as mudanças no valor real da terra.
140 - Sociedade pré-capitalista (feudal?): ...Sempre que os pagamentos de todas as espécies, feitos pelo lavrador, lhe deixavam margem além das subsistências, para si e sua família, juntamente com os confortos e luxos estabelecidos pelo costume, o proprietário empregava provavelmente a sua força superior para elevar os pagamentos de uma forma ou de outra. Se os pagamentos principais consistiam em certa parcela do produto, ele poderia aumentar essa cota, mas, como raramente isso poderia ser feito sem parecer extorsão, provavelmente aumentava o número e o peso dos pequenos tributos, ou insistia em que a terra fosse mais intensamente cultivada, e que uma porção maior da mesma fosse destinada a cultivas que custam mais trabalho e são de grande valor. Assim, as mudanças prosseguiam, sem choques na sua maior parte, silenciosa e quase imperceptivelmente, como o ponteiro das horas de um relógio, revelando-se, porém, a longo prazo, muito substanciais. Coloca que, portanto, a parcela da "renda" variava muito à época e ao lugar.
141 - Com o arrendatário é diferente. ...o arrendatário tinha uma espécie de sociedade no solo, em parte graças à benevolência do seu senhorio, se acontecesse ter subido o verdadeiro valor líquido da terra, mas em parte também pela força coercitiva do costume e da opinião pública.
142 - Na América há poucos arrendamentos agrícolas de qualquer espécie, mas 2/3 dos existentes são pequenos tratos entregues a brancos das classes mais pobres, ou a negros libertos, segundo um sistema pelo qual o trabalho e o capital compartilham do produto. (...) Em 1880, 74% das propriedades rurais dos Estados Unidos eram cultivadas pelos seus proprietários, 18%, ou mais de 2/3 do restante, sob o sistema de parceria na produção, e apenas 8% eram exploradas pelo sistema inglês. (...) Em algumas partes da América, no entanto, onde a terra está começando a ter valor de escassez, e cuja vizinhança imediata de bons mercados esteja tornando proveitosa uma cultura intensiva, os métodos de lavoura e de posse estão se reajustando segundo o modelo inglês.
143 - Elogia essas "parcerias": Esse sistema permite a um homem que não tenha quase capital obtê-lo com um ônus mais reduzido do que lhe seria possível por qualquer outro meio, e ter mais liberdade e mais responsabilidade do que como trabalhador assalariado. Assim, o sistema tem muitas das vantagens dos três modernos sistemas: de cooperação, de participação nos lucros e de pagamento por tarefa.
144 - (Boa parte das discussões deste capítulo não me interessam minimamente, tipo qual o melhor sistema de arrendamento... Com suas tenebrosas notas de rodapé que às vezes parecem metade do livro)
145 - A "benevolência" do proprietário inglês, cobrindo grande parte dos custos de depreciação de modo a deixar lucro líquido reduzido para si mesmo: ...A sua parte consiste em terra, edifícios e benfeitorias permanentes, e atinge em média na Inglaterra cinco vezes mais que a do lavrador; e está disposto a cobrir sua participação na empresa com esse grande capital, a um rendimento líquido que raramente dá um juro maior que 3% sobre o custo. Não há outro negócio em que um homem possa tomar emprestado o capital que deseja a uma taxa tão reduzida, ou possa amiúde tomar por empréstimo tão grande parte do seu capital, sem qualquer taxa.
146 - ...o progresso tem sido lento. Porque os agricultores mais empreendedores deslocam-se para as cidades. (...) Além disso, embora um industrial esteja quase sempre seguro ao copiar um projeto que funcionou bem para o seu vizinho do mesmo ramo, o lavrador não pode estar, pois cada lavoura tem ligeiras peculiaridades.
147 - ...Coloca que a contabilidade agrícola também é mais difícil/complexa. A dificuldade é ainda maior nas pequenas explorações, pois o agricultor capitalista, de qualquer forma, mede o custo primário em termos de dinheiro. Mas o lavrador que trabalha com suas próprias mãos coloca em suas terras tanta atividade quanta se sente capaz, sem avaliar cuidadosamente o seu valor em dinheiro em relação ao produto. (...) Embora os camponeses proprietários se assemelhem aos chefes de outras pequenas empresas, em sua disposição de trabalhar mais arduamente que aqueles a quem assalaria, e por menor recompensa, nisto diferem dos pequenos patrões na Indústria - não alugam com frequência trabalho extra, mesmo quando isso lhes é vantajoso. Se tudo que eles e suas famílias podem lazer por sua terra é menos do que o suficiente, o terreno fica em geral subcultivado; se é demais, é amiúde cultivado além do limite remunerador. Coloca, ainda, que, com frequencia, deslocam tempo para atividades em que são piores, me vez de focarem na melhor.
148 - Se um industrial não é empreendedor, outros podem ser capazes de ocupar-lhe a vaga. Mas quando um proprietário não desenvolve do melhor modo os recursos de sua terra, os outros não podem compensar a deficiência sem trazerem à ação a tendência ao rendimento decrescente, de sorte que sua falta de sabedoria e de iniciativa toma o preço (marginal) de oferta um pouco mais alto do que seria de outro modo.
149 - Via possibilidades e tendências na agricultura. No sentido de virar, também, uma grande máquina capitalista, digamos assim. Porém, não deixava de ressaltar certas dificuldades da época, do tipo: A experiência de explorar fazendas em escala muito grande é difícil e dispendiosa, porque exige edifícios e meios de comunicação especialmente adaptados a tanto.
150 - O charme da pequena propriedade (ou: nem sempre a eficiência é o mais importante): São pessoas de temperamento tal que não se importam de trabalhar muito e viver com pouco, desde que não precisem chamar ninguém de patrão.
151 - Ainda mais, "há traços de parceria (métayage) mesmo nas posses inteiramente de tipo inglês". Quando as estações e mercados são favoráveis ao agricultor, este paga a sua renda completa, e evita fazer exigências ao proprietário, capazes de pô-lo a pensar sobre se a renda deveria ser aumentada ou não. Quando as coisas vão mal, o proprietário, em parte por simpatia, e em parte por questão de negócio, faz remissões temporárias da renda, e suporta as despesas de reparos etc., que do contrário recairiam sobre o agricultor. Há, portanto, muito "dá cá e toma lá" entre proprietário e arrendatário, sem qualquer mudança da renda nominal.
152 - O costume sempre deu ao arrendatário inglês certa segurança parcial de compensação pelas benfeitorias por ele realizadas, e a legislação veio recentemente consagrar o costume e mesmo ultrapassá-lo. O arrendatário acha-se agora praticamente seguro contra a elevação de sua renda em virtude de maior produtividade do solo, resultante de melhoramentos de natureza razoável, por ele empreendidos, e ao partir lhe é facultado reivindicar compensação pelo valor efetivo dos mesmos, a ser fixado por arbitragem.
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