Livro: Vinícius Oliveira Santos - Trabalho imaterial e teoria do valor em Marx - "PARTE B"

   

Livro: Vinícius Oliveira Santos - Trabalho imaterial e teoria do valor em Marx



Pgs. 69-107:


(...) "CAPÍTULO 2: "A coordenação econômica é tratável [computacionalmente]?"


30 - A primeira definição de Marx de "trabalho", digamos assim (aparecerá em sentidos diversos): produção de valores-de-uso. O trabalho seria, para Marx, uma atividade exclusivamente humana por meio da qual há um dispêndio de energia física e mental para a produção de algum valor de uso, de alguma utilidade par a satisfazer uma necessidade específica, sem impor tar qual a sua natureza dessa necessidade, seja ela do estômago ou da fantasia. (...) No entanto, o autor adverte: esta conceituação não é adequada para a análise do modo capitalista.


31 - Marx, O Capital: "Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista ou serve à autovalorização do capital”. Aqui, só o trabalho dispendido diretamente no processo de produção com vista à valorização do capital é produtivo. 


32 - Marx exemplifica com um caso de produção imaterial: o mestre-escola; ele trabalha produtivamente não só quando atua no desenvolvimento mental das crianças, mas principalmente por enriquecer o dono da escola. "O fato que este último tenha investido seu capital numa fábrica de ensinar, em vez de numa fábrica de salsichas, não altera nada na relação” (Marx, 1988, p. 102).


33 - O capitalista compra a força de trabalho improdutiva por causa de seu valor de uso imediato, e não pela sua capacidade de gerar valor novo. Pode ser, assim, um "assalariado improdutivo". 


34 - Mais conceitos: Para Marx, a subsunção formal do trabalho ao capital toma lugar quando o processo de trabalho se transforma em instrumento direto de criação da mais-valia.


35 - Virando "processos de produção do capital": "quando um escravo passa a ser trabalhador assalariado de seu ex-dono, ou quando um camponês deixa de ser produtor independente para vender sua força de trabalho para um agricultor...". Quando o dono do capital assume a gerência do processo de trabalho, sua finalidade é a produção aumentada de mais-valia.


36 - O conceito de "subsunção formal" está bem vinculado à questão da mais-valia absoluta. Assim, há a possibilidade de aplicação de um grau mais acentuado de divisão do trabalho sem que a essência do modo produtivo seja alterada. ...


37 - ...A característica marcante da subsunção formal é a centralidade do trabalhador no processo produtivo: o ofício continua sendo a base. A produção tem um alto grau de dependência das capacidades e habilidades do trabalhador individual. (Creio que isso vai mudar, no que tange ao trabalho manual, com a chegada da maquinaria pesada). (...) Sem dispor de meios eficazes para a subordinação efetiva do trabalho, o capitalista atua apenas como comandante do processo de trabalho. O grande exemplo parece ser a manufatura. 


38 - Mesmo quando o modo de produção capitalista se ergue sobre suas próprias pernas, perpetuando a transição da subsunção formal à subsunção real do trabalho, a primeira não deixa de existir. 


39 - Produzir livros a um editor é estar mais próximo do trabalho produtivo. Lançar, com pura automia, seria um trabalho improdutivo. O mesmo livro. Cita também o exemplo da "cantora... “contratada por um empresário que a põe a cantar para ganhar dinheiro".


40 - Marx, porém, colocava, a época corretamente, tudo isso como subsunção formal ao capital, não real. Os trabalhadores mencionados ocupavam posição central em suas atividades, empregando os meios de produção em vez de os meios de produção empregarem os trabalhadores. Cabe à pesquisa marxista contemporânea verificar em que medida esse quadro foi alterado. A subsunção real só pode operar nesses trabalhos quando o capital criar novos meios de controle do trabalho. (...) Smith, de antemão, pressupõe que o trabalho da cantora é improdutivo por não gerar nenhum resultado físico-material. Marx, ao contrário, percebe que há possibilidade da extração de mais-valia a partir do mesmo tipo de trabalho.


41 - Ainda sobre a subsunção formal: ...dependente do “saber fazer” dos trabalhadores na produção imediata. Por herdar a base técnica de trabalho de modos de produção anteriores, não é possível que as relações especificamente capitalistas se estabeleçam com todo vigor, pois as formas de produção precedentes limitam seu livre desenvolvimento.


42 - Capitalismo é a subsunção real: Agora, o processo de trabalho é profundamente alterado: aplicação sistemática (e não esporádica) da maquinaria, aplicação consciente da ciência nos processos produtivos, uso da tecnologia e o trabalho em grande escala são algumas das modificações.


43 - ...Com a real, destaca-se a mais-valia relativa. ...O produto final deixa de ser fruto do trabalhador individual, tornando-se um produto coletivo. O trabalho coletivo/social é explorado. (...) Uma vez estabelecido esse modo de produção, o capital passa a explorar os trabalhadores individuais a partir da exploração do trabalhador coletivo, e não o contrário. (...) o trabalho que cria valor é trabalho social.


44 - Assim, Marx chega ao terceiro nível de conceituação do trabalho produtivo', para trabalhar produtivamente, basta fazer parte da capacidade de trabalho socialmente combinada dentro da qual muitos tipos de trabalho cooperam entre si e formam a “máquina produtiva total” (Marx, 2004, p. 110).


45 - Coloca que Marx cita até trabalhos imateriais ao falar dessa grande "máquina produtiva total". Todos a serviço da valorização do capital.


46 - Afirma que Marx excluiu o "imaterial" em razão do tempo dele: Dadas as configurações conjecturais de seu tempo, no Capítulo VI inédito de O capital, Marx afirmou que as atividades imateriais deveriam ser colocadas de lado na análise quando o conjunto da produção capitalista é considerado.



Pgs. 108-148:


(...) "CAPÍTULO 3: "A PRODUÇÃO CAPITALISTA E O TRABALHO IMATERIAL"


47 - Vinícius quer meio que vincular a ideia de trabalhador produtivo ao desenvolvimento teórico anterior: No momento em que o autor articula todos os elementos da definição de trabalho produtivo, ficam explícitas as características necessárias para o trabalhador gerar mais-valia: ser membro do trabalhador coletivo socialmente articulado.


48 - Embora Marx aponte em vários momentos o potencial multiplicador dos ramos explorados pela produção capitalista, as interpretações que enxergam a teoria do autor restrita apenas à produção fabril, como já mencionamos, são comuns.


49 - Negri e Hardt: A transição do setor primário para o secundário é nomeado processo de modernização da economia; a do secundário para o terciário, por sua vez, pós-modernização econômica.


50 - Vinicius volta a falar da inovação que a maquinaria trouxe à época de Marx: Na fábrica, ao contrário da manufatura, a dinâmica coletiva de trabalho se altera, podendo basear-se por ciclos de trabalhadores, sistema de revezamentos etc. sem que o processo de trabalho se interrompa. (...) "Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, ele serve a máquina".


51 - Conforme já analisamos, o trabalho de supervisão é considerado trabalho imaterial produtivo caso seja realizado por um trabalhador assalariado pago por capital. (...) Assim, perpetua-se “a divisão dos trabalhadores em trabalhadores manuais e supervisores do trabalho, em soldados rasos da indústria e suboficiais da indústria” (Marx, 1988, p. 42).


52 - "Indústria" para Marx: Quando Marx investiga a gênese do capitalista industrial, no capítulo X X IV do primeiro tomo de O capital, ele adverte a respeito da diferenciação que realiza naquele momento entre industrial e agrícola: “industrial está aqui em oposição a agrícola. Em sentido ‘categórico’, o arrendatário é um capitalista industrial, tal como o fabricante” (Marx, 1988, p. 274, destaques nossos). (...) O capital que, no decurso de todo o seu ciclo, ora assume, ora abandona essas formas, executando através de cada uma delas a função correspondente, é o capital industrial [industrielies Kapital \, industrial [industriell] aqui no sentido de abranger todo ramo de produção explorado segundo o modo capitalista (Marx, 2008a, p. 62 —destaques nossos).


53 - Para Marx, a valorização dos ramos produtivos imateriais se dá, assim como na produção físico-material, a partir do movimento do capital industrial.


54 - Depois, Vinicius vai meio que fazer um resumão do livro II do "O Capital". 


55 - ...Chega nisso: O resultado útil das indústrias de transportes e de comunicações é imaterial. Logo, esta parcela da produção imaterial tem um lugar de suma importância na produção capitalista. Grande parte dos "imateriais" tem seu efeito útil consumido no próprio processo.


56 - O próprio Marx abriu as portas para o desenvolvimento que o autor traz no livro. Veja-se, por exemplo, esse trecho do autor alemão, ainda no contexto de redução de tempo de circulação: O que a indústria de transportes vende é a própria mudança de lugar. O efeito útil produzido está inseparavelmente ligado ao processo de transporte, isto é, ao processo de produção da indústria de transporte


57 - ...Logo, não podemos concordar com as teses de Negri e Lazzarato (2001) que afirmam a impossibilidade de o trabalho imaterial se reproduzir na exploração da mais-valia.


58 - A indústria de transportes “singulariza-se por aparecer como continuação de um processo de produção dentro do processo de circulação e para o processo de circulação” (id ., 2008a, p. 168 destaques do autor).


59 - "Entre as numerosas manifestações críticas de Marx sobre o sistema de Ricardo, chama a atenção uma observação que aparece apenas nos Grundrisse: a de que, em sua economia, Ricardo abstrai o valor de uso, que ‘só se refere de modo obscuro à uma categoria tão importante, e que por isso, em sua obra, ela permanece reduzida a um ‘simples pressuposto’ (Rosdolsky, 2001, p. 75, destaques nossos)".


60 - O trabalho que não gera valor é improdutivo do ponto de vista do capital, porém é extremamente útil à sua reprodução.


61 - O conceito marxiano de serviço difere, portanto, do sentido atual que se tem dado ao termo. (...) trabalho que foi pago para produzir determinada utilidade que não possui mais-valia.


62 - Acho que as distinções que Vinicius faz, buscando uma espécie de meio-termo, acabam sendo tão arbitrárias quanto as distinções da outra interpretação de Marx: ...Determinados trabalhos improdutivos com resultados imateriais, apesar de não gerararem sobretrabalho, exercem funções necessárias ao capital. O trabalho executado na venda pura das mercadorias é uma dessas atividades.


63 - Curiosamente ou não, trabalho de conservação é considerado produtivo: "Se necessários nesta fase, os processos de trabalho encarecem a matéria-prima etc., mas são trabalhos produtivos e constituem mais-valia, pois aí não se paga parte do trabalho, como acontece com qualquer outro trabalho assalariado." Sobre tais estoques, afirma Vinicius: ...Ao contrário, é engendrado um trabalho produtor de valor dentro da esfera da circulação.


64 - ...E seguem as distinções, a meu ver, arbitrárias: "O trabalho de estocagem acrescenta valor ao produto porque o valor de uso da mercadoria é colocado sob condições a partir das quais é necessário determinado dispêndio de capital produtivo, e o trabalho vivo envolvido opera e atua diretamente sobre o valor de uso a ser conservado".


65 - Pelo menos Vinicius adiciona supermercados no conceito de capital/trabalho produtivo: De tal modo, os supermercados contribuem diretamente para a produção de mais-valia no capitalismo atual, patenteando, em um ramo que intersecciona circulação e produção, a exploração direta do trabalhador coletivo.



Pgs. 149-162:


"CONSIDERAÇÕES FINAIS"


66 - Parece concordar 100% ou quase com as teses de Ricardo Antunes. Mesmo marketing e propaganda, por exemplo, seriam trabalho produtivo. 


67 - O capital explora o trabalhador individual através da exploração do trabalhador coletivo. ...não importando qual função o trabalhador individual execute dentro do trabalho coletivo: “é absolutamente indiferente que a função deste ou daquele trabalhador, mero elo deste trabalhador coletivo, esteja mais próxima ou mais distante do trabalho manual direto” (Marx, 2004, p. 110).


68 - Neste ponto, nada mais adequado que as palavras do próprio Marx: “por mais, porém, que importe ao valor existir num valor de uso qualquer, lhe é igualmente indiferente em qual deles ele existe" (1985, p. 167 —destaques nossos). Para a produção de valor, portanto, é absolutamente indiferente se o resultado gerado é imaterial ou material.


69 - Lembra que "industrial", em Marx, tem um sentido mais abrangente: diz respeito a qualquer ramo que opere segundo o modo de produção capitalista, o que amplia, conceitualmente, a relação de produção de mais-valia para além da fábrica. São correntes os termos agroindústria, serviços industriais, indústria de serviços, serviços produtivos etc.


70 - Capital e trabalho produtivo na indústria dos transportes: A produção imaterial é incentivada pela necessidade de circulação das mercadorias da produção material.


71 - Por que 60% do investimento se dá, "hoje em dia", em produção imaterial? Coloca como razões: A produção imaterial possui apenas uma pausa no processo de circulação, e não duas, como ocorre na material. E, para a produção da mais-valia, não há a necessidade de o valor materializar-se em um M ’. Portanto, inexiste na fórmula da produção imaterial: 1. a pausa na circulação (representada pelas reticências); 2. o fator M’, gerado depois do processo de produção (P). Em decorrência, e abstraindo os elementos externos que dificultam a compreensão, a produção imaterial, em relação à produção material, possui menos estágios pelos quais o valor-capital se transmuta até ser realizado e reinvestido.


FIM!


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