"Livro": O Minhocário - De Volta ao Debate Sobre o Planejamento Socialista II - "PARTE A" - 1 a 4
"Livro": O Minhocário - De Volta ao Debate Sobre o Planejamento Socialista II – Preços, Informação, Comunicação e Eficiência
Considerações preliminares minhas
- Não é exatamente um livro, mas sim um texto gigante que vi num blog - "O Minhocário. Por sinal, só salvei a parte II dele. Por que, já que a I também parece bem interessante? Nunca saberei. Se algum dia eu quiser ler - e até fichar a parte I, segue o link logo abaixo. Acabei de ler o livro de Barbieri sobre a história do debate sobre o cálculo/planejamento econômico socialista. A visão lá é essencialmente austríaca. Aqui temos um ponto de vista "marxista".
https://ominhocario.wordpress.com/2019/04/19/de-volta-ao-debate-sobre-o-calculo-socialista-calculo-complexidade-e-planejamento/
Introdução do próprio blog
1 - O texto abaixo é a tradução do artigo “Information and Economics: A Critique of Hayek”, (“Informação e Economia: Uma Crítica à Hayek”) de 1994.
2 - É um texto de WP Cockshott, AF Cottrell.
Pgs. 6-9:
"CAPÍTULO 1: "Introdução"
3 - Como um indicador do papel dos argumentos de Hayek sobre informação e planejamento, considere o livro de Joseph Stiglitz, ‘Whither Socialism?’ [“Para Onde Vai, Socialismo?”, em tradução livre] (1994). Acrescentam que discordam do ponto de concordância entre Stiglitz e Hayek, que é a crítica ao planejamento central.
Pgs. 10-19:
"CAPÍTULO 2: "Delineando os argumentos de Hayek"
4 - Hayek coloca que as ciências sociais são muito diferentes das naturais. Fenômenos coletivos surgem de consequências não-intencionais, por exemplo. Seria impossível conhecer certos dados. O verdadeiro problema seria, portanto, “como assegurar o melhor uso dos recursos conhecidos por qualquer membro da sociedade, para fins cuja importância relativa apenas esses indivíduos conhecem” (Hayek, 1945, p. 520, grifo nosso). É quase como se não existissem dados objetivos a serem estudados, mas aí deve ser o pessoal do subjetivismo radical, que inclusive critica Hayek.
5 - O conhecimento desorganizado/tácito não estaria disponível a especialistas, apenas o científico é passível de centralização. Hayek está pensando aqui em “conhecimento sobre pessoas, condições locais e circunstâncias especiais” (Hayek, 1945, p. 522), por exemplo, o fato de que uma certa máquina não está sendo empregada totalmente, ou de uma habilidade que poderia ser melhor utilizada. Ou mesmo arbitragens do mercado financeiro. Os autores observam que, ironicamente, algoritmos (robôs, sei lá) já estão cuidando desse último, por exemplo.
6 - Segundo os autores, Hayek atribui aos seus oponentes a ideia de que mudanças economicamente relevantes seriam algo que ocorre em intervalos discretos [7] e em uma escala de tempo relativamente longa – e que entre essas mudanças, o gerenciamento do sistema produtivo seria uma tarefa mais ou menos mecânica. Contra isso ele cita, por exemplo, o problema de se evitar que aumentem os custos em uma indústria competitiva, o que exige uma energia gerencial considerável no dia-à-dia; e enfatiza o fato de que as mesmas instalações técnicas podem ser operadas com níveis de custos muito diferentes por diferentes gestores. Um gerenciamento econômico efetivo exige que “novas disposições sejam tomadas todos os dias à luz de circunstâncias desconhecidas no dia anterior” (Hayek, 1945, p. 524).
7 - Hayek e o papel dos preços em dispensar a complexidade da coisa: o famoso exemplo do estanho: Suponha que em algum lugar ao redor do mundo tenha surgido uma nova oportunidade para o uso de alguma matéria-prima – digamos, o estanho – ou então que uma das fontes do suprimento de estanho tenha sido eliminada. Não importa, para o nosso propósito, – e é muito significativo que isso não importe – qual dessas duas causas tenha tornado o estanho mais escasso. Tudo o que os usuários do estanho precisam saber é que parte do estanho que costumavam consumir agora é empregado de maneira mais lucrativa em outros lugares, e que, em conseqüência, eles devem economizar o estanho. Não há necessidade sequer de que a grande maioria deles saiba onde surgiu a necessidade mais urgente, ou em favor de que outros usos eles deveriam economizar o seu suprimento [da matéria-prima].
8 - Ele admite que os ajustes produzidos pelo sistema de preços não são perfeitos, no sentido da teoria do equilíbrio geral; mas eles seriam, não obstante, uma “maravilha” da coordenação econômica.
9 - Hayek generaliza este ponto ao fazer referência a outros “fenômenos verdadeiramente sociais”, como a linguagem (também um sistema não-projetado). Contra a ideia de que sistemas projetados conscientemente teriam algum tipo de superioridade inerente sobre aqueles que simplesmente evoluíram, ele cita A. N. Whitehead no sentido de que o progresso da civilização é medido pela extensão do “número de operações importantes que podemos realizar sem pensar sobre elas” (Hayek, 1945, p. 528).
Pgs. 19-23:
"CAPÍTULO 3: "Uma crítica ao subjetivismo de Hayek"
10 - Criticam o que chamaram de subjetivismo hiperracionalizado (porém, não peguei bem o centro da crítica/discussão aqui), digamos assim. De fato, como relata Dennett (1991), experimentos em Neuro-Psicologia indicam que as pessoas agem primeiro e apenas mais tarde se tornam conscientes de sua intenção de agir.
11 - Em qualquer empresa grande, as ações tomadas resultam de um complexo conjunto de práticas, revisões e procedimentos de tomada de decisão envolvendo muitas pessoas. Os procedimentos podem ser tão importantes quanto quem preenche qual cargo específico. (...) do ponto de vista do estado atual do desenvolvimento econômico, pode-se ver que o sujeito do cálculo racional é o sujeito jurídico que busca maximizar a propriedade
12 - Para Hayek, a informação é essencialmente subjetiva; é conhecimento nas mentes das pessoas. Assim, temos o problema de como as informações dispersas nas mentes de muitos podem, através das operações do mercado, ser combinadas em prol do bem comum. Ao se adotar esse ponto de vista subjetivista, a atenção acaba sendo desviada da questão muito prática e muito importante dos suportes técnicos para a informação.
13 - ...Em qualquer economia que não esteja entre as mais primitivas, as relações econômicas dependem do desenvolvimento de técnicas para objetivar a informação. Considere por exemplo a relação entre proprietário e arrendatário e, portanto, o aluguel/renda da terra. Essa relação só pode se estabilizar uma vez que a sociedade tenha desenvolvido um meio de registrar os contratos de propriedade e de arrendamento, seja como documentos escritos ou como as pedras de marcação de hipotecas tão odiadas pelos camponeses da Ática.
Pgs. 24-35:
"CAPÍTULO 4: "Centralizar ou não centralizar? [Eis a questão]"
14 - Posicionam-se contra a sacralidade das preferências do consumidor, as quais seriam mutáveis demais para um planejamento centralizado: os economistas marxistas não aceitariam que essas preferências individuais tivessem qualquer pré-existência significativa; [10] elas não fazem, portanto, parte do problema. [11]
15 - Por sinal, se a coisa fosse tão "não-planeável" como Hayek quer fazer crer, talvez a década passada não tivesse sido a das "Big Tech": ...Mas mesmo neste ponto é possível que as coisas estejam mudando. Se formos pensar em todo o aparato de mineração de Big Data, e nos algoritmos de identificação de perfis utilizados por Google, Facebook ou Amazon para o envio de publicidade direcionada, segundo os interesses de cada usuário, ou mesmo a análise das massas de dados (teoricamente anônimos) agregados por muitas empresas sobre seus clientes para identificar os padrões de demanda de seus usuários, então mesmo essa questão da previsibilidade de uma “função demanda” agregada deixa de ser uma questão para a “telepatia” ou a magia, e passa a ser um elemento concreto do nosso dia-a-dia.
16 - O problema, na prática, é alinhar o potencial de produção a um padrão de necessidades sociais, revelado por uma combinação de decisões políticas democráticas (como, por exemplo, o nível apropriado de prestação de serviços de saúde pública) e agregados das compras pelos consumidores.
17 - Planejamento não é fruto de uma única mente "central" como, por vezes, acusam os austríacos: O que os socialistas propuseram é a substituição do processamento de informações econômicas através do mercado pelo processamento de informações econômicas através de uma organização de planejamento. No passado, devido a limitações tecnológicas, a organização de planejamento procedia por meio de uma divisão do trabalho mental entre um grande número de pessoas. No futuro, o processamento de informações provavelmente será feito principalmente por meio de máquinas de computação.
18 - ...Ao colocar a questão nos termos da concentração de informações em uma única mente, Hayek remete a uma condição pré-civilizada, abstraindo-se dos processos reais que tornam possível qualquer forma de administração.
19 - Coloca que as grandes empresas cada vez mais criam rotinas e centralizam informações sobre o dito "conhecimento localizado e específico". Tudo cada vez mais é registrado e está "fora" da "mente humana". O localizado "não-centralizável" vai se tornando exceção. Sobre esse último, nossa objeção neste ponto é que Hayek parece ignorar a possibilidade de que esse tipo de conhecimento possa simplesmente ser usado de maneira local, sem prejuízo para o funcionamento de um plano central. Alguns detalhes ficariam a cargo das instâncias mais baixas.
20 - ...Entretanto, não todos os detalhes. Conforme argumenta Nove, muitas poderiam não saber o que fazer, em termos de detalhes, sem um sistema de preços de mercado. A informação acaba tendo que vir "de fora" nesse aspecto, ao que entendi. Os autores se referem a outros aspectos quando falam em "deixar para o conhecimento local", digamos: Considere o conhecimento, no nível da empresa, de quais trabalhadores específicos são melhores em quais tarefas; quem é o trabalhador mais rápido; quem é o mais confiável; e assim por diante (e da mesma forma com as máquinas específicas operadas dentro da empresa). Por que esse conhecimento não poderia simplesmente ser usado de maneira local para elaborar os cronogramas detalhados da empresa para atender a um plano de produção estabelecido pelo “centro”? Não é exatamente isso o que acontece no nível de cada unidade de produção no contexto do planejamento por uma grande empresa capitalista que se espalhe por várias instalações?
21 - Uma coisa é variabilidade real de disponibilidade (insumos etc.), outra são mudanças no uso para explorar novas potencialidades: O primeiro representa fluxos reais de materiais e é uma propriedade estática de uma fotografia da economia. O segundo, a variação nos usos potenciais dos bens, não é uma propriedade da economia real, mas do espaço de estados de todas as economias possíveis. Seria uma busca por "pontos otimizados" (adiciona que não é como na mecânica neoclássica, mas não explica muito).
22 - Ao que entendi, coloca que mesmo uma economia de mercado tem sua rigidez. Os preços não refletem imediatamente o movimento da economia real. ..Assim, a velocidade de transmissão das informações está amarrada à velocidade na qual os bens reais podem ser movidos ou na qual novas instalações de produção podem ser colocadas em operação...
23 - Um dos argumentos contra o sistema de mercado é que os sinais de preços que ele transmite têm, exceto nos mercados financeiros, uma taxa de propagação relativamente lenta. Isso porque as mudanças nos preços geram mudanças na produção e sua freqüência está limitada pela taxa na qual a capacidade produtiva pode ser ajustada. Isto implica num ciclo temporal relativamente longo e muito dispendioso – normalmente medimos os ciclos de negócios como tendo uma duração entre 3 e 7 anos. (a atual oscilação do petróleo que o diga?)
24 - ...Em contraste, um sistema de planejamento cibernético poderia resolver as implicações em bens intermediários e em bens de capital de uma mudança na demanda dos consumidores em questão de horas ou dias. O quão rápido ele funcionaria dependeria se o cálculo usasse técnicas de computação distribuídas ou centralizadas. No primeiro caso, ela ocorreria através do intercâmbio de mensagens entre computadores locais; no segundo, os dados da expansão das listagens de componentes para os diferentes produtos seriam transmitidos para um único centro de processamento para serem manipulados por supercomputadores com alto grau de paralelismo. [considerando os data farms de Googles e Facebooks, não haveria nada de novo nisso em nossa época – ver a nota 19]
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