Livro: Vilfredo Pareto - Manual de Economia Política - Capítulo 2
Livro: Vilfredo Pareto - Manual de Economia Política
Pgs. 55-122:
"CAPÍTULO 2: "Introdução à Ciência Social"
16 - A Psicologia é, evidentemente, o fundamento da Economia Política e, de modo geral, de todas as Ciências Sociais.
17 - Quer dividir as ações humanas em lógicas e não lógicas (tipo aquelas que fazemos "por costume ou tradição", digamos), porém, admite que essas coisas muitas vezes se misturam. Pondera inclusive que "há lógica" em muita coisa que humanos ou naturais fazem instintivamente. O contrário também ocorre... "o homem tem uma tendência muito marcada a apresentar como lógicas as ações não-lógicas".
18 - Nenhuma teoria é completa: o fenômeno subjetivo não poderá ser jamais uma cópia rigorosamente fiel do fenômeno objetivo.
19 - A moral-tipo foi considerada, segundo um grande número de homens, como algo de absoluto, revelado ou imposto por Deus, e que, segundo certos filósofos, deriva da natureza do homem. Se existem povos que não a seguem, é por desconhecê-la, e cabe aos missionários ensiná-la e abrir os olhos desses infelizes à luz da verdade; ou então os filósofos se incumbirão de levantar o grosso véu que impede os fracos mortais de conhecerem o Verdadeiro, o Belo, o Bem absolutos.
20 - Coloca-se contra a ideia de uma lógica no direito, moral, religião etc. É o terreno dos sentimentos. A ideia de uma "religião científica" é uma monstruosidade segundo Pareto. Faz explicações longas sobre tudo isso. (Não vejo tanto mistério no que ele quis dizer como ele parece ver).
21 - Critica até mesmo o fim de Stuart Mill: a "felicidade do gênero humano". Ou, "pior ainda", de "todos os seres sensíveis". Essencialmente, passa parágrafos e parágrafos problematizando o quanto isso pode ser vago.
22 - Bem "cético" - na verdade não é bem essa a palavra - com quase tudo: Neste momento, na França, por exemplo, um grande número de homens, que por sinal parecem razoáveis, admiram as palavras vazias de sentido da célebre Declaração dos Direitos do Homem.
23 - ...Coloca que até a escravidão pode ser justificada por algum tipo de "bem comum". Cita, por exemplo, que Aristóteles ia meio nesse sentido.
24 - Coloca que o "ama o próximo como a ti mesmo" já estava no Lun-Yu chinês (ou seja, quinhentos anos antes de Cristo.
25 - Os Livros Sagrados possuem valor, não por sua precisão histórica, mas pelos sentimentos que podem despertar junto aos que lêem; e o homem que, acabrunhado pela dor, clama pelos socorros da religião, deseja, não uma sábia dissertação histórica, de que ele não entende nada, mas palavras de conforto e de esperança. A religião, tal como é reduzida por certos teólogos humanitários, tornou- se um simples brinquedo para uso dos letrados e metafísicos.
26 - (Em tempo: essa "introduçao" dele parece mais um "tudo que eu acho do mundo". Não estou anotando várias reflexões, histórias mal explicadas, ou sei lá o que, dele).
27 - Curiosa a parte que afirma as acusações contra Sócrates como falsas apesar de verdadeiras. Ou o contrário. Os fatos da acusação eram falsos, mas a consequência prática das ideias dele realmente eram "um perigo". Segundo Pareto, "Sócrates, pelo contrário, dirigia-se ao artesão, ao homem que, pelas preocupações da vida diária, via-se impossibilitado de acompanhar, com sucesso, os longos raciocínios, sutis e abstratos, e ele destruía sua fé sem poder, de maneira alguma, substituí-la por raciocínios científicos."
28 - Segundo ele, os preceitos morais têm habitualmente por objeto consolidar o poder da classe dominante, mas também, muito freqüentemente, moderá-lo.
29 - Raciocina-se, comumente, como se as máximas morais tivessem por origem exclusiva os sentimentos das pessoas às quais elas impunham certas regras de ação ou de abstenção, quando na realidade elas têm também por origem os interesses das pessoas que delas tiram alguma vantagem. Inclui a "nova moral da solidariedade" nisso.
30 - Na crítica ao "socialismo", os chavões moralistas do "homem de bem": ..."Mais especialmente um sentimento de piedade e de benevolência para com os malfeitores, enquanto aumenta a indiferença pelas infelicidades do homem honesto que caiu sob os golpes desses malfeitores; 3) Aumento notável de indulgência e de aprovação para os maus costumes das mulheres....".
31 - Supostos fatos que causam o sentimento socialista (há até 2% de verdade num ou outro): 1) Aumento da riqueza do país, o que permite o desperdício de uma parte para o humanitarismo e para a indulgência para com os malfeitores. 2) Maior participação das classes pobres no governo. 3) A decadência da burguesia. 4) Estado de paz ininterrupto durante trinta e quatro anos. Sobre a suposta subversão dos valores: Mais tarde todas essas mudanças foram se tornando outras tantas armas nas mãos dos adversários da ordem social atual, e encontraram apoio nas teorias socialistas, que foram fortalecidas, ao mesmo tempo que eram acolhidas por uma burguesia em decadência, ávida de satisfações perversas, como acontece comumente junto aos degenerados.
32 - Critica suposta legislação branda para os "malfeitores".
33 - "As ideia": O desenvolvimento da democracia fortificou o sentimento de igualdade entre os dois sexos, mas é provável que o fim da guerra tenha tido uma boa parte nisso, pois é nela que aparece melhor a superioridade do homem. Relaciona o aborto à suposta decadência da burguesia.
34 - A teoria do humanitarismo e da igualdade dos homens encontrou seu contrapeso nas teorias egoístas do super-homem de Nietzsche.
35 - Engraçado que o raciocínio dele para o surgimento do direito me lembra o que o chamado "materialismo histórico-dialético" quer para a economia/política: Embora certas pessoas lhes atribuam ainda razões imaginárias e lhes dêem, por exemplo, por origem, certo “senso jurídico”, começa-se agora a compreender que, muito pelo contrário, foram os fatos de direito que deram nascimento às regras abstratas (§ 80) e, se o quisermos, também a esse senso “jurídico”; porém, quando essas regras e esse senso existem, tornam-se, por sua vez, fatos e atuam como tais para determinar as ações dos homens. Mais ainda, nesse caso particular, essa ação torna-se rapidamente a mais importante e determinante, pois essas regras são impostas pela força.
36 - Aqui eu vou percebendo melhor porque Pareto é tido como um dos teóricos do fascismo: Os socialistas franceses têm a loucura da paz, vêem na guerra, um crime, mas pregam abertamente o extermínio dos burgueses. Enquanto esperam, eles ferem os policiais, matam os oficiais e os soldados que o Governo encarrega de manter a ordem. A pilhagem das fábricas permanece impune. Na Rússia já não se pode contar o número de atentados contra os diretores de fábricas. No começo de 1907, operários fecharam seu diretor em um tubo de ferro e fizeram-no morrer esquentando-o em fogo baixo. Os humanitários europeus e americanos não abriram a boca; mas lançam gritos de aves de rapina se a polícia tem a infelicidade de maltratar os assassinos que prende. A simpatia dos humanitários estaciona nos malfeitores e não se estende às pessoas honestas. Os burgueses decadentes fecham voluntariamente olhos e ouvidos para não ver nem ouvir; e enquanto seus adversários se preparam para destruí-los, eles desfalecem de ternura à idéia do advento de uma “nova e melhor humanidade”. Como sempre, fingindo que não vê - ou pior, talvez não veja mesmo - as margens que comprimem tudo isso. E segue a ladainha por mais páginas. Basicamente, sua risível tese é de que o sistema judicial oprime os ricos. São tratados "desigualmente".
37 - Em algumas partes, Pareto só falta pedir com todas as letras o extermínio dos socialistas.
38 - Páginas e mais páginas bradando contra o socialismo, humanitarismo e qualquer coisa do tipo.
39 - Critica Spencer por... não trabalhar com a hipótese de que uma guerra pode ser boa nos tempos atuais (1900 e pouco)... Pareto vê isso como um moralismo vazio? Talvez Pareto julgue isso como coisa de fraco, degenerado ou decadente. Termos que tanto usa.
40 - Seu conceito de elite parece simplesmente associado a dominação: Pode haver uma aristocracia de santos ou uma aristocracia de salteadores, uma aristocracia de sábios, uma aristocracia de ladrões etc. Se se considera esse conjunto de qualidades que favorecem a prosperidade e a dominação de uma classe na sociedade, temos o que chamaremos simplesmente a elite. Existem mesmo na democracia. E se renovam.
41 - Isto aqui parece bem a visão resumida dele sobre as classes: Em seguida a parte A divide-se em duas: uma, que chamaremos Aα, tem ainda bastante força e energia para defender sua parte de autoridade; outra, que chamaremos Aβ, compõe-se de indivíduos degenerados, de inteligência e vontade fracas, humanitários, como se diz hoje. Do mesmo modo, a parte B divide-se em duas: uma, que chamaremos Bα, constitui a nova aristocracia que nasce, Ela acolhe também os elementos de A que, por cupidez e ambição, traem sua própria classe e se colocam entre os adversários. A outra parte, que chamaremos Bβ, compõe-se da massa vulgar que forma a maior parte da sociedade humana. (...) Suponhamos que a nova elite alardeasse clara e simplesmente suas intenções, que são de suplantar a antiga elite; ninguém viria em sua ajuda, ela seria vencida antes de haver se lançado à batalha. Ao contrário, ela tem o ar de nada pedir para si, sabendo bem que, sem pedi-lo adiantadamente, obterá o que quiser como conseqüência de sua vitória.
42 - ...Consta que quase todas as revoluções foram obra, não do vulgo, mas da aristocracia e notadamente da parte desprovida da aristocracia; é o que se vê na história, começando na época de Péricles até a época da primeira revolução francesa; e hoje mesmo vemos que uma parte da burguesia ajuda fortemente o socialismo, cujos chefes, aliás, são burgueses. As elites terminam comumente pelo suicídio.
43 - Indignado, por exemplo, com impostos progressivos e suposto antimilitarismo.
44 - O grande erro da época atual é crer que se pode governar os homens pela pura razão, sem fazer uso da força, que é, ao contrário, o fundamento de toda organização social. (...) A religião humanitária mui provavelmente desaparecerá quando tiver cumprido sua obra de dissolução social e quando uma nova elite se levantar sobre as ruínas da antiga. A inconsciência ingênua de uma burguesia em decadência faz toda a força dessa religião, que não terá nenhuma utilidade no dia em que os adversários da burguesia se tornarem bastante fortes para não mais esconder seu jogo.
45 - Volta e meia elogia Sorel. Pudera...
46 - Os homens, quando lhes é útil, podem acreditar em uma teoria, da qual não sabem mais do que o nome; este é, aliás, um fenômeno corrente em todas as religiões. A maioria dos socialistas marxistas não leu as obras de Marx. ...Os homens seguem seus sentimentos e seus interesses, mas agrada-lhes imaginar que seguem a razão.
47 - A igualdade dos cidadãos diante da lei é um dogma para muita gente e, nesse sentido, ela escapa à crítica experimental.
48 - Aqui está ainda mais nítido de quem tratamos: Quando uma camada social compreende que as classes altas querem simplesmente explorá-la, estas descem ainda mais baixo para encontrar outros partidários; mas é evidente que chegará o dia em que isso já não poderá continuar porque faltará matéria. Quando o sufrágio for concedido a todos os homens, incluindo os loucos e os criminosos, quando for estendido às mulheres, se o quiserem, e às crianças, será preciso parar; não se poderá descer mais baixo, a menos que concedamos o sufrágio aos animais, o que seria mais fácil do que fazê-los exprimir-se.
49 - Afirma que, inclusive, estuda-se voltar atrás nessa "amplificação" do sufrágio. Cita um professor alemão.
50 - Enfim... "Fascistaço", creio que não preciso nem dizer o porquê. No mais, um capítulo é um imenso e absurdo chororô reacionário, com uma seletividade ridícula.
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