Livro: Vilfredo Pareto - Manual de Economia Política - Capítulos 4, 5, 6 e 7
Livro: Vilfredo Pareto - Manual de Economia Política
Pgs. 199-226:
"CAPÍTULO 4: "Os gostos"
73 - Começa falando de bens complementares e substitutos. Também sem muito mistério para quem já estudou micro. É quase uma filosofia sobre utilidade: ..."está na hora de se dar um passo adiante e considerar também o caso no qual a ofelimidade de uma mercadoria depende do consumo de todas as outras."
74 - A ofelimidade, ou seu índice, para outro indivíduo, são quantidades heterogêneas. Não se pode somá-las nem compará-las, No bridge, como dizem os ingleses. Uma soma de ofelimidades das quais usufruiriam indivíduos diferentes não existe: é uma expressão sem nenhum sentido.
75 - Como sempre, ele coloca de forma chata e confusa esse assunto tão simples nos livros de micro. Mas enfim, talvez seja o estado nascente da ciência.
76 - (É talvez até mais chato e meio inútil, atualmente, quanto o capítulo anterior).
Pgs. 227-264:
"CAPÍTULO 5: "Os obstáculos"
77 - Tou achando tudo meio óbvio, mas é importante que ele aponte esta ilusão aqui: É falso que os preços do mercado existem independentemente da empresa. É verdade que ela efetua suas contas como se eles não existissem, e que, mesmo sem o querer e mesmo freqüentemente sem o saber, ela os modifica.
78 - Utilidade, produção e sacrifícios: "Certos economistas pretenderam reduzir, em última análise, a produção aos sacrifícios de ofelimidade. É verdade que, se a produção transforma apenas as mercadorias que possam ser consumidas diretamente ou aquelas das quais pelo menos o uso possa ser consumido, essa redução é possível. Mas ela não tem razões para as coisas, em grande número, que só são ofélimas após terem sido transformadas. Assim, por exemplo, uma mina de cobre não tem outro uso senão aquele de produzir cobre. O custo elevado de produção do ouro não provém do fato de que, explorando minas de ouro, faz-se o sacrifício de renunciar ao prazer que proporcionaria o uso direto dessas minas, porque esse prazer não existe. Ao se despojar da poupança, renuncia-se, é verdade, ao prazer que se poderia sentir contemplando-a sob a forma de moedas de ouro, mas isso tem uma relação muito longínqua com a taxa de juros."
79 - A crítica que ele fez a teoria do valor-trabalho (p. 241) ao falar de "diferenças no tempo" é desprovida de sentido. O "valor-trabalho", que eu saiba, não defende que os preços não sofrem influência do "momento de consumo" ou algo assim. O mesmo vinho pode sim custar mais hoje e menos (ou mais ainda) amanhã.
80 - Sobre a matemática da coisa do tempo, não vejo muita diferença para as implicações da velha questão do fluxo de caixa descontado. Capital imobilizado deixa de render juros para tentar produzir lucro. Basta levar isso em conta. No fundo, tudo é custo-oportunidade.
81 - Sua justificativa para a existência dos juros: Em geral, o obstáculo que se encontra no uso dos capitais — ou para a transformação correspondente no tempo — decorre de que os capitais — ou os meios para operar essa transformação no tempo — são em quantidade menor que a necessária para satisfazer nossos gostos. (Certo, mas gestão privada de capitais é "escolha" social).
82 - Traz estatísticas de rendimentos de capital da sua época. Compara títulos públicos e ações: ...O rendimento líquido deve ser inferior ao que tínhamos encontrado, porque é preciso deduzir dessa receita de 55,9 milhões, prêmios de amortização e de seguro, cujo valor preciso é desconhecido. Porém, raciocinando sobre o rendimento de 5,7%, sabemos que de 1873 a 1886, houve numerosas ocasiões de comprar Dívidas Públicas de Estados perfeitamente solvíveis de maneira a se obter um rendimento de 4 a 5%. Vê-se, portanto, que na Bélgica o rendimento da poupança empregada nas sociedades anônimas é quase igual ao que se obteria comprando da Dívida Pública de Estados gozando de bom crédito.
83 - Ora, a maior parte dos economistas que usam a teoria das proporções definidas parecem acreditar que existem certas proporções nas quais é conveniente combinar os fatores da produção, independentemente dos preços desses fatores. É falso. Onde a mão-de-obra é barata e os capitais mobiliários são caros, a mão-de-obra substituirá as máquinas e vice-versa. (Sim, mas se a mão-de-obra é mais barata, talvez não seja exatamente o mesmo fator. Cada trabalhador médio de um local possui um determinado nível de escolaridade/experiência, por exemplo. Dado isso, pode-se sim, talvez, pensar proporções mais ou menos "definidas". Afinal, existisse mercado capitalista 100% livre, a mobilidade de trabalho e capital seria total. Nenhum burguês safado iria pagar "a mais" um engenheiro com mesmas aptidões/qualificações, por exemplo. Então, como sempre, talvez tudo dependa das premissas que se adote ao defender teoria x ou y).
84 - Ele continua: "Não existe nenhuma propriedade objetiva dos fatores de produção que correspondam a proporções fixas com as quais seja conveniente combinar esses fatores; existem apenas proporções, variáveis com os preços que dão certos máximos de lucros em numerário ou, então, em ofelimidade" (Isso é tipo alguém me dizer que não existe a verdade. O fato de ser dificilmente determinável/palpável não quer dizer que algo não exista. Claro que há limites objetivos no uso de fatores. Uma sociedade que não produz quase nada de excedentes dificilmente poderá usar coeficientes altos em capital, por exemplo, gerando combinações "inconvenientes" em muitos ramos de produção. Pra usar o mesmo termo que Pareto usou. Basta comparar com o uso de outros coeficientes. Os preços não flutuam na completa aleatoriedade, respeitam um total global antes de se dividirem. Querem minimizar o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria dado um sistema sempre mutável de gostos).
85 - Salvo casos excepcionais, não existem proporções fixas que se devam consignar aos coeficientes de produção para obter o máximo de lucro em numerário, mas essas proporções variam não somente com os preços mas também com todas as demais circunstâncias da produção e do consumo. (Desse jeito aí, realmente parece que ele quer colocar tudo como aleatório e não como dificilmente determinável. Pelo menos, mais pra frente, ele vai enxergando alguns limites objetivos: As condições técnicas estabelecem os limites, entre os quais a determinação dos coeficientes de produção é um problema econômico. De toda forma, Pareto critica fortemente a noção de valor objetivo e determinação de preço de venda pelo custo de produção. Eu até concordo que os gostos/ofelimidade etc. mudam tudo, mas, ao falar de "valor-trabalho", estamos mantendo quietas as curvas. Se é verdade que, na pratica, estão se movimentando, também é verdade que, na prática, nem todas são intensamente instáveis. Boa parte inclusive deve ter deslocamentos tímidos e graduais. Ademais, não é pretensão da teoria do valor determinar o valor exato de uma mercadoria. Ao menos "minha" teoria do valor)
86 - (Mas enfim, resumindo minhas objeções: você não saber precisar exatamente a posição e velocidade de um elétron concomitantemente não implica necessariamente que ele não esteja em algum lugar a alguma velocidade).
87 - O bom senso aparecendo aqui e ali: Existem certas relações entre os coeficientes de produção que permitem compensar a diminuição de uns pelo aumento de outro; isso, porém, não é verdadeiro para todos os coeficientes. Por exemplo, na agricultura, pode-se compensar, dentro de certos limites, a diminuição das superfícies cultivadas pelo aumento dos capitais mobiliários e da mão-deobra, obtendo sempre o mesmo produto. Mas é bastante evidente que não se poderia conservar a mesma produção de trigo aumentando os celeiros e diminuindo a superfície cultivada. Um joalheiro pode aumentar a mão-de-obra à vontade, mas não poderá jamais retirar de um quilo de ouro mais do que um quilo de jóias de ouro, ao mesmo título.
88 - (Quanto à pequena parte de renda, por enquanto, eu nem consegui me interessar em entender qual era o problema que ele estava apresentando. Vamos ver no capítulo seguinte, ele é mais direto).
Pgs. 265-292:
"CAPÍTULO 6: "O equilíbrio ecônomico"
88 - O mesmo do capítulo 3: microeconomia básica apresentada de forma chata ou confusa.
89 - Interessante ele admitir isso. Vantagem pontual do "coletivismo" por poder trabalhar com mais imediata variação de preço: Os fenômenos que acabamos de estudar sugerem, de maneira abstrata e sem considerar dificuldades práticas, um argumento considerável a favor da produção coletivista. Muito melhor do que a produção, em parte submetida à concorrência, em parte aos monopólios, que temos atualmente, esta poderia valer-se de preços variáveis que permitiriam seguir a linha das transformações completas, e, em conseqüência, atingir o ponto e da Fig. 46 (§ 4), ao passo que atualmente devemos permanecer no ponto c’, ou ainda no ponto c. (...) Mas para isso seria necessário que a produção coletivista tivesse como único objetivo perseguir o máximo de ofelimidade na produção, e não o de proporcionar lucros de monopólios aos operários ou perseguir ideais humanitários. (...) Os preços, os juros líquidos dos capitais podem desaparecer, se é que isso é possível, como entidades reais, mas permanecerão como entidades contábeis: sem eles o ministério da produção andaria às cegas e não poderia organizar a produção. Fica bem entendido que, se o Estado é o dono de todos os capitais, é para ele que vão todos os juros líquidos.
90 - ...E finaliza: ...a Economia pura não nos fornece critério verdadeiramente decisivo para escolher entre uma organização da sociedade baseada na propriedade privada e uma organização socialista.
91 - Já se falava na TQM. Pensei que era mais recente. Até defende a teoria quantitativa, mas observa que a velocidade de circulação varia muito. É sempre uma aproximação, digamos.
92 - Alguns trechos são curiosos, como este que ressalta socialismo "anti-protecionista": ...Entretanto existem exceções e, contrariamente a esse fato geral, os operários se pronunciaram na Alemanha contra os direitos protecionistas sobre gêneros alimentícios, e compreenderam que esses direitos se voltariam finalmente contra eles próprios. Isso provém, em parte talvez, da educação que os socialistas deram aos operários desse país.
Pgs. 293-336:
"CAPÍTULO 7: "A população"
93 - Aqui parece ser estatística básica explicada de maneira chata/confusa. Distribuição normal, erros, etc. Tudo misturado com uma "boa" dose de darwinismo social.
94 - Do tipo: "...Os elementos inferiores da região a’b’la" caem na região ahb’a’ onde são eliminados. Se essa região viesse a desaparecer, e se nenhum outro meio pudesse desempenhar seu papel, os elementos inferiores maculariam a região a’b’la", que se tornaria assim menos apta a produzir os elementos superiores, que vão à região a"lc, e a sociedade inteira cairia em decadência. Essa decadência seria ainda mais rápida se se pusessem sérios obstáculos à seleção que se faz na região a’b’la". O futuro mostrará a nossos descendentes se tais não são os efeitos das medidas humanitárias de nossa época." (...) Além disso, o próprio alcoolismo é um poderoso agente de seleção e faz com que desapareçam os indivíduos e as raças que não conseguem resistir-lhe. Objeta-se, geralmente, que o alcoolismo não prejudica apenas o indivíduo, mas também à sua descendência. Enaltece também a tuberculose no mesmo sentido.
95 - Ademais, esses supostos estudos sobre desigualdade dele estão por demais datados.
96 - Pareto já traçava uma das linhas do fascismo antes deste existir direito: O feminismo é uma doença que só pode atingir um povo rico, ou a parte rica de um povo pobre.
97 - Após, seguem-se outros chavões toscos/"reaças" sobre socialismo e outros temas.
98 - Mais pérolas do pensamento abobalhado: "O aumento da riqueza média por habitante favorece a democracia; esta, porém, pelo menos tanto quanto se pôde observar até aqui, acarreta grandes destruições de riqueza e chega mesmo a esgotar suas fontes".
99 - Chegava a esse ponto: Certamente para muitos povos antigos e para os povos bárbaros ou selvagens, mesmo modernos, provavelmente para os habitantes de algumas grandes cidades modernas, o aborto deve ser considerado como um importante obstáculo preventivo aos nascimentos.
100 - Ele mesmo admite que toda essa discussão sobre controle de natalidade - páginas e páginas das quais pouco anotei - pode ser meio inútil: Na primeira metade do século XIX, os sábios e os estadistas preconizavam, na França, a utilidade da limitação da população, o malthusianismo, e a população aumentava; agora se prega a necessidade de aumentar a população, e a população permanece estacionária.
101 - A obra de Malthus é confusa: freqüentemente é difícil saber, de maneira precisa, as questões que o autor coloca.
102 - Se compararmos essa teoria de Malthus com os fatos, veremos que, num caso particular, o da Inglaterra do século XIX, a população aumentou segundo uma progressão geométrica, dobrando a cada 54 anos aproximadamente; contudo a riqueza aumentou segundo uma progressão ainda mais forte, e nesse caso a progressão aritmética não corresponde de maneira alguma à realidade.
103 - Resulta desse fato que a sociedade é sempre governada por um pequeno número de homens, por uma elite, mesmo quando ela parece ter uma constituição absolutamente democrática; é o que se reconheceu desde os tempos mais remotos. (...) A história das sociedades humanas é, em grande parte, a história da sucessão das aristocracias.
104 - A dialética dele: Acabamos de mencionar quatro espécies de fatos, isto é: a hierarquia — a sucessão das aristocracias — a seleção — a proporção média de riqueza ou de capitais por habitante. Esses fatos são, de longe, os mais importantes para determinar o caráter da sociedade, isto é, dos outros fatos sociais. Na realidade, porém, não se trata de uma relação de causa e efeito. Os primeiros fatos atuam sobre os segundos, mas estes, por sua vez, reagem sobre aqueles, e, em definitivo, estamos diante de uma relação de mútua dependência.
105 - E ao menos temos algum materialismo: Para que o movimento seja suficiente para impedir a acumulação, não basta que a lei o permita, que não ponha nenhum tipo de obstáculo (as castas, por exemplo), mas é preciso ainda que as circunstâncias sejam tais que o movimento possa se tornar real. Entre os povos belicosos, por exemplo, não basta que a lei e os costumes permitam ao simples soldado tornar-se general, é preciso que a guerra lhe forneça a ocasião. Entre os povos comerciantes e industriais não basta que a lei e os costumes permitam ao cidadão mais pobre se enriquecer e chegar às cúpulas mais elevadas do Estado, é preciso que o movimento comercial e industrial seja intenso o bastante para que isso se torne uma realidade para um número suficiente de cidadãos.
106 - Se, por exemplo, todos os preços dobram, o equilíbrio econômico acaba, após um tempo mais ou menos longo, por voltar a ser idêntico ao que era primitivamente. Porém, na passagem de um estado para outro, as dívidas diminuem, a mutabilidade e a seleção acham-se favorecidas.
107 - Em geral, desde os tempos antigos até nossos dias, as classes altas da sociedade se utilizaram do poder político para despojar as classes pobres; atualmente, em certos países democráticos, parece haver começado um fenômeno diametralmente oposto.
108 - Os povos da Antiguidade reduziam as dívidas e os juros dos empréstimos, sem discussões teóricas; os Governos dos tempos passados alteravam as moedas, sem invocar as teorias econômicas, e pregavam medidas de proteção econômica, sem saber em que consiste a proteção. Os fatos não foram a conseqüência das teorias; mas, bem ao contrário, as teorias foram construídas para justificar os fatos. Em nossos dias, pretendeu-se dar um fundamento teórico a todos esses fatos. Deu-se um fundamento religioso à redução, ou mesmo à supressão do juro do dinheiro, e nasceram grandes discussões teóricas, cujo efeito prático é quase nulo, pois não afetam, de maneira alguma, as causas reais dos fatos.
FIM!
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