Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx I - Capítulos 7, 8 e 9

               

Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx - Livro Primeiro 


Pgs. 205-219:


"CAPÍTULO 7: "A função do modelo da lei do valor na naturalização da ideologia de Marx"


74 - Coloca que a lei do valor, em Marx, fundamentaria não só o capitalismo, mas toda a história da humanidade.


75 - Nas primeiras páginas, não entendi bem o que ele quer criticar em Marx. Mercadorias não são comparadas sob uma lei? É isso? Quando ele coloca "Balz", seja quem for, pra fundamentar sua crítica à suposta contradição de Marx é que toda coisa fica mais confusa ainda. 


76 - Quando ele vai para o primeiro exemplo prático, creio que usa muito de interpretação extensiva pra supor erro em Marx. Pode ser erro do alemão também, mas, se for, eu entendi que Marx disse outra coisa (coisa essa que me parece correta, por sinal, sobre o D-M-D'). Cita, depois, uma alteração de texto, por parte de Marx, realmente esquisita. Não sei nem o que pretendeu (Marx). De toda forma, continuo sem pegar o concreto da crítica. Eu nem consigo dissociar lei do valor da mais-valia. E nem sei se Marx realmente fez isso.


77 - Não sei se a "lei do valor" surge "do nada", como JB coloca ao final deste capítulo. Para mim, o mais-valor já parecia implícito (talvez por eu já conhecer o resto da "teoria" antes mesmo de ler "O Capital I" em 2009/10?), só não estava explicado antes por uma razão de modo de exposição. Tipo quando Marx finge que há liberdade real nos contratos de trabalho.


78 - (Realmente, eu não creio que exista "lei do valor" só porque "trabalho" seria o elemento comum às mercadorias. Vejo "lei do valor" porque a riqueza cresce mediante a eficiência dos processos de produção, digamos assim, e esta é fruto, no mínimo essencialmente, do trabalho humano. Embora outros fatores obviamente contem, como uma pandemia ou meteoro caindo na Terra, isso acontece porque repercutem na capacidade de trabalho. A maior ou menor utilidade não faz riqueza objetiva aumentar. E a subjetiva depende um bom tanto dessa).



Pgs. 220-281:


"CAPÍTULO 8: "O modelo implícito da prática do proletariado e das suas formações ideológicas no interior da produção capitalista. A mais-valia"


79 - (Várias páginas lidas já neste capítulo e não faço ideia de onde ele quer chegar).


80 - Coloca que a "ideologia burguesa" vê os capitalistas como uma unidade de particularidades e a "proletária" os vê como uma unidade homogênea, sem diferenças. A concorrência, dos e para os capitalistas, é o que faz a "individualização" na cabeça dessa classe. 


81 - Fala da "classe gestorial nascente" já na Alemanha do jovem Marx, discussão que estaria na base da distinção que este fez da sociedade civil, com seus interesses particularizados, e o Estado. JB coloca que os gestores é quem acabam dando unidade à coisa - "a totalidade capitalista para além da particularização dos seus elementos". 


82 - Coloca que a alienação, em Marx, não é sobre isso, porém. É sim sobre conflito - mais do que futuro, também atual - entre interesses gerais do proletariado e interesses gerais dos capitalistas.


83 - (A essas anotações, seguem-se umas dez páginas que não sei dizer o que possuem de importância prática. Se é que essas anotações que faço possuem alguma)


84 - Coloca que a "mais-valia" em Marx vai assumindo cada vez mais o lugar da "alienação", mas não se trata de mera substituição vocabular. A análise das contradições vai ficando mais profunda também. De toda forma, ao que entendi, o conceito marxista de alienação nunca foi o conceito hegeliano de alienação.


85 - Mostra inclusive trechos onde a alienação e mais-valia aparecem com função idêntica. (Não existem separadas, acho).


86 - Sobre a discussão de quem veio primeiro ou fundamenta quem: mais-valia ou valor?, eu realmente não peguei a importância concreta disso. Para JB, a mais-valia é a base da teoria de Marx. A lei do valor vem a reboque. Era a mais-valia, também o problema investigado fundamental. Não era uma pesquisa sobre lei do valor. Ao mesmo tempo, JB diz, também, que há contradição, pois Marx inclusive inicia sua exposição pela "lei do valor".


87 - Lembra o prefácio de Engels ao Livro II, no qual este coloca que a mais-valia já tinha até definição antes de Marx, mas que no resto do sistema na qual ela permanecia inserida permanecia tudo mais ou menos igual. Não se tinha revelado todas as consequências revolucionárias dessa descoberta. Entra Marx e reorganiza todo o sistema, toda a ideologia, para explicar exatamente a coisa. Ou seja, acaba que sendo meio que o descobridor real da mais-valia. Acho que é tipo o suposto "descobrimento da América" por vikings antes de Colombo. Onde os antecessores viram uma solução, Marx teria visto um problema a ser investigado. Enfim, coloca JB que Engels meio que também percebeu que a mais-valia foi o ponto de partida.


88 - Teria faltado a Engels notar a contradição dessa postura de Marx com a de tratar a lei do valor como algo "natural", afirma, ao que entendi, JB.


89 - Chatas páginas, depois, sobre a diferença da teoria do valor de Marx e a de Ricardo e neorricardianos. Nem eu lembro direito dessa, nem ele explica. Só compara sob uma linguagem desinteressante e com muitas abstrações. Ricardo centraria seu "trabalho" no resultado do produto, não no processo de trabalho. Um fala de privação do produto. Outro da privação da produção. E no concreto? Não interessou ao livro.


90 - Algumas frases, sinceramente, na prática... Tipo: "mais-valia não é um pagamento a menos, mas uma produção a mais...". Não é a exploração do trabalhador pelo capital, mas pelo capitalista... Tudo isso, na prática, dá no mesmo.


91 - Parece que trabalho como "substância do valor" é uma terminologia de Rubin, para quem o trabalho não seria o valor. Este último seria determinado pelo primeiro, na verdade, mas não se confundem. Assim entendi. JB tem discordâncias com essa coisa rubiniana de que só as formas de valor é que seriam históricas. O valor e o trabalho poderiam ser "humanizados". Nem sei se é o que Rubin defende, mas assim JB o leu. 


92 - O objeto de pesquisa de Quesnay era o "produto líquido", meio que um equivalente da "mais-valia" em Marx. Para Quesnay, era a natureza a responsável por isso. Trocas entre homens seriam necessariamente igualitárias. Apenas a natureza "gera valor", digamos assim.  


93 - Porém, ao que entendi, o dito acima é uma simplificação. Quesnay admitia que uma máquina pudesse fornecer "produto líquido".  O que seria a diferença de fundo entre fisiocratas e Marx foi algo explicado por JB, mas não me disse muita coisa de concreto. Ficou uma sopa de termos. Nem anoto.


94 - Coloca que os teóricos do valor-trabalho anteriores a Marx estavam mais preocupados com o trabalho enquanto elemento comum de comparação entre mercadorias (Ricardo) e/ou valor como potencial de contratação de trabalhadores assalariados (Smith). Grosso modo era isso. Ninguém estava atrás de dissecar a produção, ou seja, ver o trabalho enquanto processo. Só o trabalho já incorporado no produto importava. 


95 - Retorna a discussão se a mercadoria é valor ou tem valor. Não sei a importância prática. A discussão sobre uma possível contradição entre "trabalho cristalizado no produto" e "trabalho enquanto processo" também não me disse algo de concreto.


96 - Explica brevemente a tal "mercadoria compósita" de Sraffa, mas não sei bem pra que serve. Seria a negação do trabalho como processo e apagamento da mais-valia, mesmo se baseando numa lei do valor-trabalho, ao que entendi. Diz que Sraffa leva um dos polos das contradições de Marx (o da "forma de exposição", acho) ao extremo.



Pgs. 282-321:


"CAPÍTULO 9: "A naturalização da ideologia de Marx (continuação): O mito da 'produção mercantil simples' e a constituição do capitalismo"


97 - Engels falava, no prefácio ao O Capital III, em lei do valor reinando por um período de 5000 a 7000 anos.


98 - Traz trecho também de Marx colocando a mais-valia como derivada do campo ideológico da lei do valor. (A velha discussão que não sei pra onde vai). A mais-valia inclusive só viria com a revolução industrial enquanto a lei do valor seria muito mais antiga, desde os tempos do capital comercial ou antes. Assim entendi.


99 - Rodapé absurdamente imenso sobre como vários marxistas entendiam a lei do valor na história. Se se aplicava aos regimes pré-capitalistas ou não... Ou o quanto... Alguns pensam que a interpretação correta de Marx é a de que a lei do valor só existe no capitalismo. Outros que ela apenas se "diferencia" nesse estágio, existindo nos outros também. Para JB... Há contradições de Marx.


100 - JB diz que essa história de Engels de que, no pré-capitalismo, preço e valor coincidiam bastante não faz sentido e veio do nada. Não se produzia e trocava pensando no tempo de trabalho. E a lei do valor é sobre tempo de trabalho, coloca. Não sobre produto. Exige como base material a tecnologia capitalista. As trocas no pré-capitalismo têm mais a ver com o valor-de-uso. (Quando li esses escritos de Engels, pensei algo bem parecido. JB me parece mais lógico aqui que ele). (Enfim, a depender de como se defina a tal "lei do valor", estou praticamente 100% com JB aqui). 


101 - Coloca que Robinson foi quem até interpretou bem o problema, mesmo ela negando a teoria do valor marxista em nome da preocupação exclusiva com os preços de mercado. 


102 - ...Ela coloca que, mesmo no pré-capitalismo, a noção de trabalho abstrato generalizado fica perdida em meio a inúmeros ritmos e técnicas diferentes. A destreza, perícia, habilidades naturais... importam. Não é uma contabilidade simples. Ninguém sabe a real média. Enfim, Engels viajou.


103 - JB coloca que, especialmente em tempos antigos, a utilidade dominava as trocas comerciais (Pois é! Exatamente o que pensei/o há um bom tempo!). Nem havia mercado geral/internacional pra dar o tom de abstração á coisa, mas apenas múltiplas economias fechadas, com grande diversidade entre elas. Cada qual valorizando certas produções. O que era "luxo" para um era "necessidade" para outra. E vice-versa. O mercador atento/alerta se aproveitava justamente desse tipo de oportunidade. 


104 - JB coloca, "respondendo" a Mandel, que não é o comércio que gera o mercado mundial. Pelo contrário, mercadores passaram milênios se aproveitando dessas diferenças de "utilidade" dos bens sem que, por isso, tivessem dado origem a um mercado mundial generalizado. Só a revolução industrial e o capitalismo mudaram isso. Antes, as múltiplas economias fechadas permaneceram quase imutáveis. Não foi a circulação que foi se ampliando cada vez mais e fez o milagre, mas sim a revolução na produção.


105  - Mandel crê, no dizer de JB, que se há mercadoria então há valor. Se há troca, há valor. Para JB, segundo entendi, valor existe apenas na chegada do capitalismo. O resto era troca baseada em utilidade. Critica Mandel, portanto, por ter uma "concepção naturalista de valor". 


106 - JB coloca que a "contabilidade de trabalho" de fato existiu em comunidades antigas, mas de modo secundário. Não como organizador principal. Não era o critério de cálculo econômico dominante. 


107 - Mais: os exemplos de contabilidade de trabalho que Mandel dá não levaria em conta qualquer "trabalho socialmente necessário" (TSN), mas sim o trabalho efetivamente realizado/incorporado. Isso não é a lei do valor. (Acho que é o mesmo erro que Robinson apontou anteriormente na discussão quanto à tese de Engels). 


108 - Lembra que o excedente, no pré-capitalismo, era inclusive a exceção á regra. Não se produzia pra mercado algum.


109 - Meek e JB parecem ver a "produção mercantil simples" como um mito ou "mitodologia". Marx usou para expôr um raciocínio, não que tenha tido uma existência real perfeitamente como colocado. (Mas não era Marx quem negava a validade dos modelos ideológicos? Indaga JB). Outros discordam dessa interpretação. Marx criou uma espécie de "tipo ideal"?


110 - Diz JB que o único elemento em comum nesses modos de produção é a existência da mercadoria fetichizada, escamoteando a relação social. 


111 - Torna a falar das contradições de Marx. Lei do valor fundamenta a mais-valia ou o contrário? Lei do valor valia em qualquer época ou o contrário? Traz trecho em que Marx parece se inclinar pela especificidade da lei do valor apenas no capitalismo (é um trecho do capítulo do livro III sobre fórmula trinitária), afinal, por exemplo (só um deles), a produção antigamente tinha muito a ver com o valor-de-uso.


112 - JB coloca que os comerciantes entre os feudos nem tinham interesse na destruição do sistema, tendo em vista que se aproveitavam das diferenças de valorações subjetivas (talvez por isso durou tanto). E lucravam com a usura também, sempre que possível, "forma suprema do capital mercantil na Idade Média". 


113 - Cita as "produções artesanais independentes" - por fora dos sistemas das corporações - como embrião, no século XII, do que bem mais tarde viria a corroer o sistema medieval. Foi uma tendência de altos e baixos porém.


114 - Coloca que os centros urbanos também não se opunham ao feudalismo. Até o defendiam. Estava tudo interligado. Os produtores independentes muitas vezes iam para o campo, justamente para sobreviver contra as reações.


115 - Coloca que o Estado foi sempre um aliado do capitalismo nascente, estabelecendo as condições unificadas de produção. Diz que o que gera confusão é que, ao mesmo tempo, o Estado reforçava politicamente, por meio do absolutismo, os poderes/instituições feudais. Tinha um duplo papel, meio que contraditório. Por isso, as duas interpretações brandem argumentos corretos uma contra a outra.


116 - O Estado ajudou a criar a nova forma de empresa e a forçar o trabalho assalariado dos que iam perdendo seus meios de produção. Estimulou aspectos de tecnologia central e impulsionou a mineração. Houve grande estímulo à inovação tecnológica e o número de invenções do século quinze é maior do que o do século dezoito - a dita Idade das Luzes. (Cita uma fonte).


117 - Instrução obrigatória, construção de vias... Vários outros papéis iam surgindo nos países mais avançados.


118 - Ao que entendi, o Estado também apoiou o surgimento da manufatura. Grandes espaços baseados numa especialização de cada ato no processo de produção. Aqui, não é um especialista pra cada produto - tecelões, ourives -, mas sim para cada ato, gesto da produção. 


119 - Coloca que os dirigentes das primeiras manufaturas (produtores independentes) almejavam a integração no sistema de corporações, não tendo consciência da incompatibilidade e potencialidade superior do próprio sistema.


120 - Havia, ainda, para aumentar a confusão, intervenções econômicas estatais, especialmente na esfera da circulação, que se inserem na lógica de manutenção do feudalismo.


121 - Afirma a ambiguidade também do mercantilismo, que visava expandir as manufaturas ao mesmo tempo em que mantinha "excrescências feudais". 


122 - O Estado canalizava capitais feudais para expansão de manufaturas. Reuniu os capitais e os colocou para funcionar na mão de "homens novos", dando origem ao futuro sistema industrial. Os pequenos produtores artesanais não corporativos passam, então, a se tornar dependentes desses novos "primeiros grandes capitalistas", digamos assim, que vendem as matérias-primas de que os pequenos precisam e escoam a produção. Estavam a meio-caminho do assalariamento, da proletarização. O capitalismo, ao fim, dissolve o artesanato e incorpora os restos, mas não decorre dele. 


123 - Enfim... o capitalismo surge de uma ruptura com o feudalismo, não do seu desenvolvimento. Ainda que não tenha sido uma ruptura de uma hora pra outra, claro. Trata-se de uma nova forma social de trabalho, com tecnologia específica. 


124 - Coloca que o período manufatureiro é pré-industrial e, nele, a lei do valor se refere apenas a uma tendência ainda não realizada. O trabalho genérico a que ela ensejava era apenas uma possibilidade de realização futura. Acabou acontecendo. Não é teleologia. (Creio que também não é 100% acaso, mas deve haver um razoável meio-termo entre as coisas).


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