Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 34 e 35

  


Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 34 e 35



Pgs. 663-682:


CAPÍTULO 34: "O currency principle e a legislação bancária inglesa de 1844."


419 - Continuação de polêmicas chatas e datadas. O tal pessoal do "currency" e a constatação, em contrário, ao que entendi, de que reserva metálica e preços não variam juntos (claro. Há tantas variáveis nos preços): “Como nos anos de 1834 a 1843, também entre 1844 e 1853 os movimentos no ouro do banco se fizeram acompanhar de um acréscimo ou decréscimo do valor emprestável do dinheiro adiantado por meio de desconto; por outro lado, as variações no preço das mercadorias dentro do país revelaram­-se complemente independentes da massa da circulação, tal como se manifesta nas flutuações de ouro do Banco da Inglaterra.” (Bank Acts Report, 1857, v. II, p. 290­-1)


420 - Segundo entendi, o que gera a ilusão que a galera do "currency" e das leis bancárias de 1844 defende é a questão dos juros: Na realidade, porém, a diminuição da quantidade de ouro só faz aumentar a taxa de juros, ao passo que o aumento dessa quantidade a reduz; se essas flutuações da taxa de juros não fossem levadas em conta ao fixar o preço de custo ou ao determinar a oferta e a demanda, elas não afetariam em nada o preço das mercadorias.


421 - Já dava pra sacar que a coisa era assim, mas Engels explica (e claro que isso não ia funcionar...): Para cada £5 em ouro que deixam o Tesouro do banco, uma cédula de £5 retorna ao departamento de emissão e é destruída; para cada cinco sovereigns que afluem ao Tesouro, uma nova cédula de £5 entra em circulação. Desse modo, põe­-se em prática a circulação ideal de papel­-moeda de Overstone, que se rege exatamente pelas leis da circulação metálica e, segundo as afirmações dos partidários de currency, ficam para sempre impossibilitadas as crises.


422 - Na crise, o ouro flui par o exterior (pagamentos) e todo mundo quer liquidez/cédulas (inclusive para pagamentos locais de compromissos). O currency torna isso um caos. "...a quantidade de meios de circulação se reduz justamente no momento em que mais se precisa deles e com mais urgência". A taxa de juros acaba tendo que subir de modo a inviabilizar negócios. 


423 - Por duas vezes, em 25 de outubro de 1847 e em 12 de novembro de 1857, a crise chegou a esse extremo; em vista disso, o governo liberou o banco da restrição de emissão de cédulas, declarando suspensa a lei de 1844, e isso foi suficiente, em ambas as ocasiões, para aplacar a crise. Em 1847, a certeza de que agora podia­-se voltar a obter cédulas bancárias contra títulos de primeira ordem foi o suficiente para que retornassem à circulação de 4 milhões a 5 milhões de cédulas entesouradas; em 1857, cerca de 1 milhão de cédulas acima do montante legal foram emitidas, mas apenas por um período muito curto.


424 - Vimos que o crédito das cédulas do Banco da Inglaterra é considerado inabalável por todos os peritos. Apesar disso, a lei bancária imobiliza de [£]9 milhões a [£]10 milhões em ouro para sua conversibilidade de forma absoluta.



Pgs. 683-712:


CAPÍTULO 35: "Os metais preciosos e a taxa de câmbio"


425 - Sobre a oferta de ouro: Antes que as minas de ouro na Rússia, na Califórnia e na Austrália fizessem sentir sua influência, a oferta desde o início deste século só bastava para repor as moedas desgastadas, para o uso geral em artigos de luxo e a exportação de prata para a Ásia.


426 - Salvando temporariamente a Inglaterra das crises sob a rigidez da lei bancária: Estima­-se que até 1857 cerca de [£]30 milhões adicionais em ouro[14] entraram na circulação interna da Inglaterra. (...) O aumento da circulação monetária interna resultou no período de calma que se seguiu ao pânico, fazendo com que a reserva bancária aumentasse mais rapidamente em consequência da maior massa de moedas de ouro excluídas da circulação interna e imobilizadas.


427 - Nem sempre o saldo anual em ouro representava diferenças entre exportações e importações: "...aquele indicador não é exato, porque em certas circunstâncias a importação adicional é absorvida pela circulação interna e pelo emprego crescente de ouro e prata para fins de luxo".


428 - Funções da reserva metálica segundo Marx: 1) fundo de reserva para os pagamentos internacionais – numa palavra, de fundo de reserva de dinheiro mundial; 2) fundo de reserva para a circulação metálica interna, que ora se expande, ora se contrai; 3) algo que se relaciona com a função bancária e nada tem a ver com as funções do dinheiro como mero dinheiro: servir de fundo de reserva para pagamentos de depósitos e para a conversibilidade de cédulas bancárias. (...) Caso se emitam cédulas bancárias que substituem o dinheiro metálico (incluindo, portanto, as moedas de prata em países em que a prata é a medida de valor) na circulação interna, elimina­-se a segunda função do fundo de reserva, e uma parte do metal precioso, que servia para isso, emigra permanentemente ao exterior.


429 - Crise de 1847. Houve certo pânico em abril, pois a Inglaterra teve que pagar uma importação extraordinariamente alta vinda da América, isso desequilibrou a balança e exigiu a importação de ouro. J.[ames] Morris, governador do Banco da Inglaterra: embora o saldo da balança comercial tenha se tornado favorável à Inglaterra a partir de agosto de 1847, razão pela qual houve importação de ouro, ainda assim a reserva metálica do banco continuou a diminuir. “Em consequência da demanda interna, £2.200.000 em ouro foram espalhadas pelo país.” (137) – Isso se explica, por um lado, pelo maior contingente de trabalhadores empregados nas construções de ferrovias e, por outro lado, “pelo desejo dos banqueiros de possuir uma reserva própria de ouro em tempos de crise.” (147.)


430 - De acordo com Newmarch, a drenagem de ouro para o exterior pode resultar de três causas: 1) causas puramente comerciais, isto é, quando a importação ultrapassa a exportação, como ocorreu entre 1836 e 1844 e voltou a acontecer em 1847, principalmente devido à grande importação de trigo; 2) para a obtenção de meios para investimentos de capital inglês no exterior, como ocorreu em 1857 para ferrovias na Índia; e 3) para dispêndio definitivo no exterior, como em 1853 e 1854 no financiamento da guerra no Oriente.


431 - Uma drenagem muito considerável de ouro é relativamente ineficaz, desde que não ocorra no período crítico do ciclo industrial.


432 - Tão logo o crédito é abalado – fase que se apresenta sempre necessariamente no ciclo da indústria moderna –, pretende­-se que toda a riqueza real seja efetiva e subitamente convertida em dinheiro, em ouro e prata; uma pretensão disparatada, decerto, mas que emana necessariamente do próprio sistema. Todo o ouro e toda a prata de que se deve dispor para atender a essas enormes pretensões limitam­-se a alguns poucos milhões nos cofres do banco[20].


433 - Engels insere um trecho relacionando a elevação ou diminuição da taxa de juros à necessidade de ajustar o câmbio a fim de manter fora de perigo a reserva metálica.


434 - A parte sobre a taxa de câmbio me parece tão confusa, em seus termos, e datada quanto irrelevante. A meu ver, fica meio perdida em obviedades - talvez não para a época? - deste tipo aqui: A taxa de juros pode influir sobre a taxa de câmbio, e esta pode influir sobre a taxa de juros, mas a taxa de câmbio pode variar mantendo­-se constante a taxa de juros, e esta última pode variar mantendo­-se constante a taxa de câmbio


435 - O glorioso colonialismo: Antes [n. 1.786], Newmarch havia dito que, devido às letras da Companhia das Índias Orientais, as exportações da Inglaterra para a Índia eram maiores que as importações. sir Charles Wood o interroga sobre isso. Esse superávit das exportações inglesas para a Índia sobre as importações da Índia à Inglaterra se deve, na realidade, a uma importação da Índia pela qual a Inglaterra não paga equivalente nenhum: os saques da Companhia das Índias Orientais (hoje, do Governo das Índias Orientais) se reduzem a um tributo imposto à Índia.


436 - Ao que entendi, o governo inglês cobre o déficit na balança com a Índia pagando tributos ou sei lá o que: "O sr. Newmarch explica isso dizendo que os ingleses, em troca dessas £3.700.000, exportam “bom governo” à Índia (1.925)."


437 - (Esse capítulo realmente é uma chatíssima e tediosa confusão. Algumas discussões não consigo entender nem o pé nem a cabeça? "Não existe uma relação necessária entre o preço baixo em dinheiro das mercadorias e a baixa taxa de juros". Claro? Está mais fácil ser o contrário, porém, perdem-se, aqui, páginas chatíssimas com isso).


438 - Num dos pontos, Marx polemiza com a The Economist da época: "Por que, então, a taxa de juros é baixa? É claro que não porque seja alto o lucro que se pode obter com o capital emprestado, mas unicamente porque, nas circunstâncias dadas, a demanda de capital de empréstimo não cresce de maneira proporcional a esse lucro, isto é, porque o capital de empréstimo tem um movimento diferente do capital industrial. O que o Economist pretende provar é o contrário: que seu movimento coincide exatamente com o do capital industrial".


439 - "...os movimentos da taxa de juros e os dos preços das mercadorias são absolutamente independentes".


440 - A "Economist" da época parece ver relações necessárias que simplesmente não existem. A verdade é que quase tudo é possível. Marx parece bem mais próximo da realidade (se bem estou entendendo).


441 - Somente a Índia tem de pagar [£]5 milhões por “bom governo”, juros e dividendos de capital britânico etc., sem contar as somas anualmente enviadas a seu país – em parte pelos funcionários, como poupança de seus salários, em parte por comerciantes ingleses, como parte de seus lucros – para que sejam investidas na Inglaterra.


442 - (Enfim, um dos capítulos mais tediosos que já li na vida).


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