Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 39 e 40

      


Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 39 e 40



Pgs. 779-806:


CAPÍTULO 39: "Primeira forma da renda diferencial (renda diferencial I)"


506 - Dá razão a Ricardo quando este diz "A renda é sempre a diferença entre o produto obtido mediante o emprego de duas quantidades iguais de capital e trabalho". Marx complementa: o lucro extra, quando é normal e não resultado de circunstâncias acidentais no interior do processo de circulação, é sempre produzido como diferença entre o produto de duas quantidades iguais de capital e trabalho, e esse lucro extra se transforma em renda do solo quando duas quantidades iguais de capital e trabalho são empregadas em terrenos de mesmo tamanho e com resultados diferentes


507 - Coloca fertilidade e localização como os dois grandes fatores que determinam a renda diferencial: "Além disso, está claro que essas duas razões distintas da renda diferencial – a fertilidade e a localização – podem atuar em sentido contrário. Um terreno pode estar muito bem situado e ser muito pouco fértil, e vice­-versa.".


508 - As tabelas e explicações são bem confusas, até pelas medidas esquisitas. Nem tentei entender direito o que ele pretende demonstrar. Parece, ao fim de explicações cada vez mais insuportáveis, que era somente isso: O primeiro e principal pressuposto é de que a melhoria na agricultura tem efeito desigual sobre diferentes tipos de solo, exercendo aqui uma influência maior sobre os melhores tipos de solo, C e D, do que sobre os tipos A e B. A experiência demonstrou que é isso que em geral ocorre, embora possa acontecer o contrário. Se a melhoria influísse mais sobre os solos melhores que sobre os piores, a renda sobre estes últimos teria diminuído, e não aumentado. (O que também nem sei se entendi, mas talvez faça sentido. É o tipo de coisa que assim, no ar, especulativamente, pouco me diz. Eu teria que ver dados e números).


509 - Pelas conclusões a que Marx chega das tabelas, creio que devo entender que ele demonstrou simplesmente o que já vi explicado de maneira mais nítida e direta no livro de Microeconomia: "...O preço de produção do pior solo, que não gera renda, é sempre o preço regulador do mercado, embora este último, na Tabela I, quando esta se formou em sequência ascendente, só tenha permanecido estacionário pelo fato de se terem cultivado solos cada vez melhores." Os demais solos geram "renda diferencial". Explica que, se o solo mais fértil, o "D" do exemplo, passasse a produzir toda a necessidade social, aí sim "A" - o solo pobre - deixaria de ser regulados, até porque supérfluo.


510 - Não sei se exatamente isto que Ricardo diz, mas, se diz, é obviamente falso mesmo: Com isso, cai por terra o primeiro pressuposto falso da renda diferencial, tal como ainda predomina em West, Malthus e Ricardo, a saber, o de que ela pressupõe necessariamente um avanço para solos cada vez piores ou uma fertilidade sempre decrescente da agricultura. Como vimos, ela pode ocorrer com um avanço para solos cada vez melhores. O melhoramento do solo pela técnica talvez não fosse algo muito visível alguns anos antes, em Ricardo? Não sei. (...) pode ocorrer quando um solo melhor assume a posição inferior que antes era ocupada pelo pior; pode estar vinculada a um progresso crescente na agricultura. Sua única condição é a desigualdade dos tipos de solo.


511 - Se bem entendi, no comunismo, a comida seria mais barata por não precisar incorporar a renda fundiária. É praticamente um tributo a tal da renda diferencial. A gente "remunera" a imobilização desse "capital fundiário", digamos assim, que não tem motivo para "valer" algo. É como um tributo ao direito de propriedade privada do meio de produção. Não é como uma máquina, que foi construída com trabalho humano e vale alguma coisa. Marx: "...o que constitui um déficit na realização de seu tempo de trabalho em produção agrícola, constitui agora o superávit para uma classe: os proprietários de terra."


512 - (Nas páginas seguintes, oscila-se entre o óbvio e o mais uma vez confuso. Tudo que me entendo me parece obviedade matemático, tipo: "Apesar do aumento, e até mesmo do aumento considerável, da soma total das rendas resultante da ampliação do cultivo e do investimento crescente de capital, a renda média por acre e a taxa média de renda sobre o capital caem quando a extensão das terras que não proporcionam nenhuma renda e das que proporcionam apenas uma exígua renda diferencial aumenta mais que a das terras melhores, que dão uma renda maior.")


513 - Assim, se a renda média real de um país é determinada por sua renda média anual real e sua relação com a área total cultivada, então o preço da parcela não cultivada da terra se dá pelo preço da cultivada e, por conseguinte, não é mais que um reflexo do investimento de capital e de seus resultados nas terras cultivadas.


514 - É possível que um solo pior seja preferido a outro relativamente melhor devido à localização, que é um elemento decisivo em toda a expansão do cultivo em países jovens, e também porque, embora a formação geológica de uma faixa de terra seja considerada, no todo, como pertencente aos solos mais férteis, nela estão misturados solos superiores e inferiores, e o solo de pior qualidade tem de ser cultivado justamente por sua conexão com o de melhor qualidade. Se o solo inferior se intercala no superior, então este lhe dá a vantagem da localização com relação às terras mais férteis que não se encontram misturadas às já submetidas ao cultivo ou que estão prestes a ser cultivadas.


515 - O solo do estado de Nova York, sobretudo a parte ocidental, é incomparavelmente mais fértil, em especial para o cultivo do trigo. Mas um cultivo predatório tornou estéreis essas terras férteis, e foi então que o solo de Michigan apareceu como o mais fértil.


516 - Marx coloca que alguns solos podem ser muito rentáveis se explorados pela primeira vez em comparação a outros, em tese, mais naturalmente férteis, mas já mais desgastados. (Então não são mais "mais férteis"? Mas creio que entendi. É como se esses "novos solos" tivessem menor potencial de longo prazo que outros, mas maior potencial de curto prazo. Hoje em dia nem sei bem como fica tudo isso com a agricultura aprendendo a tirar máximo proveito de quase todo tipo de solo)


517 - Havendo superprodução, ele não lançará a culpa em si mesmo, mas nos competidores. O capitalista individual pode aumentar sua produção tanto apropriando­-se de uma alíquota maior de um mercado quanto ampliando ele mesmo o mercado.



Pgs. 807-820:


CAPÍTULO 40: "Segunda forma da renda diferencial (renda diferencial II)"


518 - Os arrendatários capitalistas queriam esconder dos proprietários fundiários seu real lucro extra: ...De todo modo, no caso do segundo método, apresentam­-se dificuldades para a transformação do lucro extra em renda, para essa transmutação formal que implica transferir para o proprietário fundiário os lucros extras do arrendatário capitalista. Daí a teimosa resistência dos arrendatários ingleses contra uma estatística agrícola oficial. Daí também a luta entre eles e os proprietários de terra pela verificação dos resultados reais de seu investimento de capital. (Morton.) Pois, quando há arrendamento das terras, a renda é fixada, de modo que os lucros extras que surgem do investimento sucessivo de capital são embolsados pelo arrendatário enquanto durar o contrato de arrendamentoDaí a luta dos arrendatários por contratos de arrendamento longos e, inversamente, a multiplicação dos contratos rescindíveis a cada ano (tenancies at will) em razão da supremacia dos senhores rurais.


519 - Segundo, no caso da renda diferencial na forma II, à diferença de fertilidade se acrescentam as diferenças na distribuição do capital (e na capacidade de crédito) entre os arrendatários.


520 - É verdade, por exemplo, que o camponês emprega muito trabalho em sua pequena parcela. Trata­-se de trabalho isolado e desprovido das condições objetivas, tanto sociais como materiais da produtividade, privado delas. (...) Essa circunstância faz com que os arrendatários realmente capitalistas sejam capazes de se apropriar de uma parte do lucro extra, o que não ocorreria, pelo menos no que diz respeito a esse ponto, se o modo de produção capitalista estivesse tão desenvolvido na agricultura quanto está na manufatura.


521 - Bem que eu tava achando: É claro, então, que a renda diferencial II é apenas uma expressão distinta da renda diferencial I, mas que coincide com ela quanto a seu conteúdo.


522 - Capital no pior solo - o que regula o preço da mercadoria: "....Nesse caso, teríamos um investimento de capital que não gera renda, pois só lhe dá em retorno o lucro médio".


523 - (Toda essa confusão com medidas que desconheço eu estou fazendo praticamente leitura dinâmica, até por não perceber importância).


524 - Um texto da internet, de Cario e Buzanelo, simplifica essa questão - se corretamente ou não, nem sei - da seguinte forma: "A renda da terra na concepção de Marx apresenta um conjunto de características em função de sua existência. Enquanto renda diferencial I advém da mesma magnitude de capitais em terras, mas de fertilidade diferente, resultando por seu turno em produtividades desiguais. Por outro lado, a renda diferencial II é fruto de sucessivas inversões de capitais numa mesma área produzindo resultados diferenciados. A renda absoluta decorre do monopólio da propriedade do solo e da diferença na composição orgânica do capital do setor em relação ao capital social médio resultando em sobra do valor, depois de se deduzir o preço de produção."


525 - (No mais, eu realmente não sei se o que Marx está tentando explicar é algo muito simples, como muitas vezes parece, ou algo muito complicado.)


526 - De toda forma, a demanda está sempre lá jogando seu papel: Com exceção desse caso, em que a oferta proveniente dos tipos de solo cultivados não basta e, por isso, o preço de mercado situa­-se permanentemente acima do preço de produção até que um novo solo adicional de pior qualidade passe a ser cultivado ou até que o produto total do capital adicional investido nos diferentes tipos de solo só possa ser fornecido a um preço de produção mais elevado do que o vigente até esse momento, a queda proporcional da produtividade dos capitais adicionais deixa intactos o preço regulador de produção e a taxa de lucro.


527 - Dedutível do até aqui exposto, mas importante: Se o capital adicional gera um produto mais elevado, forma­-se obviamente um novo lucro extra (renda potencial) quando o preço regulador permanece inalterado. Esse não é necessariamente o caso, especialmente quando essa produção adicional deixa o solo A fora de cultivo e, com isso, o exclui também da série de tipos de solo concorrentes. Nesse caso, cai o preço de produção regulador. A taxa de lucro aumentaria se a ela estivesse vinculada uma queda do salário ou se o produto mais barato ingressasse como elemento no capital constante.


528 - (Termina com mais tabela com medidas estranhas e explicações esquisitas. Se algum dia eu precisar entender melhor esse "debate", vou atrás de textos com exemplos mais palpáveis.)


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