Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 31 e 32
Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 31 e 32
Pgs. 605-616:
CAPÍTULO 31: "Capital monetário e capital real – II (continuação)"
386 - Vimos que uma acumulação do capital de empréstimo pode ocorrer sem nenhuma acumulação real, por meios puramente técnicos, tais como a expansão e a concentração do sistema bancário, a economia nas reservas de circulação ou também no fundo de reserva dos meios de pagamento particulares, que, desse modo, convertem-se por um breve período em capital de empréstimo.
387 - The Economist: “Por alguns anos, o capital” (isto é, o capital monetário de empréstimo) “acumulou-se em alguns distritos do país mais rapidamente do que podia ser utilizado; em outros, os meios de investi-lo se multiplicaram mais depressa que o próprio capital. Assim, enquanto nos distritos agrícolas os banqueiros não encontravam meios suficientes de investir seus depósitos de maneira rentável e com segurança em sua própria região, nos distritos industriais e nos centros comerciais eles encontravam uma demanda de capital maior que aquela a que podiam satisfazer. ..."
388 - A atuação dos bill-brokers: O negócio dessas casas consiste em receber, por períodos e juros estipulados, o capital excedente dos bancos naqueles distritos em que ele não pode ser investido, assim como os recursos temporariamente ociosos de sociedades por ações e de grandes casas comerciais, para adiantar esse dinheiro, a uma taxa de juros mais alta, aos bancos dos distritos em que existe maior demanda de capital; geralmente, fazem isso mediante o redesconto das letras de seus clientes.
389 - Marx nota o sistema de crédito pedindo pra dar merda: Temos aí, pois, o “belo” entrelaçamento dos créditos. O depositante rural crê que deposita seu dinheiro exclusivamente nas mãos de seu banqueiro e, além disso, alimenta a ilusão de que, quando o banqueiro faz empréstimos, ele o faz para pessoas particulares, dele conhecidas. Nem sequer suspeita que esse banqueiro põe seus depósitos à disposição de um bill-broker londrino, sobre cujas operações nenhum dos dois têm o menor controle.
390 - Aqui parece um resumo relevante de como Marx via a questão dos juros: As flutuações da taxa de juros (abstraindo daquelas produzidas em longos períodos e das diferenças entre as taxas de juros de diversos países, pois as primeiras seguem as variações da taxa geral de lucro, e as segundas, as diferenças entre as taxas de lucro e o desenvolvimento do crédito) dependem da oferta de capital de empréstimo (supondo que as demais circunstâncias e o nível de confiança etc. permaneçam constantes), isto é, do capital que se empresta em forma de dinheiro, dinheiro metálico e cédulas bancárias; isso em contraste com o capital industrial, que, como tal, em forma-mercadoria, é emprestado por meio do crédito comercial, entre os mesmos agentes da reprodução.
391 - Dá alguns exemplos mostrando que se a mesma massa monetária circula muito/rápido, ela pode ser bem menor que o total depositado nos bancos. Uma coisa é a circulação monetária e outra é o "capital monetário emprestável".
392 - A divisão "sociocapitalista" da mais-valia: O capital de empréstimo se acumula às expensas tanto dos capitalistas industriais como dos capitalistas comerciais.
393 - Capitalistas monetários utilizam as crises para comprar títulos baratos (os yields ficam atraentes, digamos): ...Mas todo o lucro obtido pelos possuidores dos capitais monetários e que volta a converter-se em capital eles transformam, antes de mais nada, em capital monetário emprestável. A acumulação deste último, sendo distinta da verdadeira acumulação, ainda que fruto dela, segue seu curso, portanto – quando consideramos apenas os próprios capitalistas monetários, banqueiros etc. –, como acumulação dessa classe especial de capitalistas e tem necessariamente de crescer à medida que se expande o sistema de crédito, da mesma maneira que acompanha a ampliação real do processo de reprodução.
394 - Banco metendo a faca desde a época das cavernas: Estando baixa a taxa de juros, a desvalorização do capital monetário recai principalmente sobre os depositantes, não sobre os bancos. Na Inglaterra, antes do desenvolvimento dos bancos por ações, ¾ de todos os depósitos se encontravam em poder dos bancos, sem render juros. Hoje, quando rendem juros, estes estão pelo menos 1% abaixo da taxa de juros praticada no mercado.
Pgs. 617-632:
CAPÍTULO 32: "Capital monetário e capital real – III (conclusão)"
395 - A outra parte do lucro, que não se destina a ser consumida como renda, só se transforma em capital monetário quando não pode ser diretamente empregada para ampliar os negócios no ramo de produção em que foi obtida. Isso pode ter duas causas: porque esse ramo de produção está saturado de capital ou porque a acumulação, para poder funcionar como capital, tem de ter alcançado certo volume, conforme a grandeza do investimento de novo capital nesse negócio específico.
396 - ...Enfim, nem sempre a abundância de capital monetário será sintoma de superprodução.
397 - Vale tudo, Gil: Com o aumento constante da acumulação real, essa acumulação ampliada de capital monetário pode, em parte, ser resultado dela, em parte, resultado de fatores que a acompanham, mas que diferem totalmente dela; por fim, pode também ser resultado de paralisações da acumulação real.
398 - Marx coloca que quem poupa é a sardinha. Os tubarões industriais, como já têm bom capital, arriscam é o capital alheio, os fundos sociais de empréstimos, digamos assim. (...) por outro lado, o capitalista monetário converte as poupanças alheias em seu próprio capital, e do crédito que os capitalistas reprodutivos se concedem mutuamente ele faz sua fonte privada de enriquecimento.
399 - Capitalistas que operam com capital próprio num ambiente de altos juros e alta taxa de lucro, vão possuir alta taxa de ganho empresarial, pois é como se pagassem juros a eles mesmos.
400 - Tipo o fim do Dilma I: Se, por alguma razão, o salário aumentasse durante uma conjuntura econômica de resto desfavorável, então o aumento do salário reduziria a taxa de lucro, mas elevaria a taxa de juros, na medida em que crescesse a demanda de capital monetário. Enfim, no curto prazo, é tranquilamente possível cair a taxa de lucro e subir a de juros.
401 - Em épocas de crises, a demanda de capital de empréstimo é demanda de meios de pagamento e nada mais; de modo nenhum é demanda de dinheiro como meio de compra.
402 - Em épocas de crises, em que o crédito se contrai ou desaparece por inteiro, o dinheiro surge de repente como único meio de pagamento e como a verdadeira existência do valor, em confronto absoluto com as mercadorias.
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