Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 18, 19 e 20

                                                      

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 18, 19 e 20



Pgs. 383-396:


CAPÍTULO 18: "A rotação do capital comercial. Os preços"


229 - Apesar de sua autonomia, o movimento do capital comercial jamais é outra coisa senão o movimento do capital industrial no interior da esfera da circulação.


230 - O comerciante se encontra meio que "atado" segundo Marx: Os dois limites de seu preço de venda são: de um lado, o preço de produção da mercadoria, que não depende dele; de outro, a taxa média de lucro, que tampouco depende dele. (Não visualiza que o preço de produção, para ser um conceito mais próximo da realidade, teria que incluir também a etapa comercial. O comerciante está menos atado que Marx parece supor, sei lá o porquê. Do jeito que ele coloca, parece que o comércio possui apenas custos imutáveis).


231 - O preço de qualquer quantidade de mercadorias se determina, na medida em que corresponde ao valor, pela quantidade total de trabalho nelas objetivado. (Em última instância e sob certas condições - capitalistas - eu diria).


232 - Não vejo a mínima razão para que isto aqui esteja correto: "Em contrapartida, a taxa média de lucro constitui uma grandeza dada para o capital comercial. Este não contribui diretamente para a criação do lucro ou do mais­-valor e só exerce uma influência determinante na formação da taxa geral de lucro na medida em que, de acordo com sua participação no capital total, ele extrai seus dividendos da massa do lucro produzido pelo capital industrial."


233 - Circunstâncias que abreviam a rotação média do capital comercial, como o desenvolvimento dos meios de transporte, diminuem pro tanto [proporcionalmente] a grandeza absoluta do capital comercial e, por conseguinte, elevam a taxa geral de lucro. (A massa né? A taxa depende. Está poupando trabalho vivo ou morto?).


234 - O modo de produção capitalista desenvolvido, em comparação com as condições anteriores, exerce uma dupla influência sobre o capital comercial: a mesma quantidade de mercadorias é rodada com uma massa menor de capital comercial realmente operante; devido à rotação mais rápida do capital comercial e à maior velocidade do processo de reprodução no qual ela se baseia, diminui a proporção entre o capital comercial e o capital industrial.


235 - No modo pré-capitalista, o capital comercial era relativamente bem maior e absolutamente bem menor, até pela ainda não ampla generalização do modo de produção voltado para a valorização do valor. 


236 - Ô: ...a diversidade das rotações em diversos ramos do comércio não influi na grandeza do lucro total correspondente ao capital comercial nem na taxa geral de lucro. (Não sei nem o porquê da fixação dele com esse tema de rotação).


237 - Sim é é por isso que as margens são apertadíssimas em muitos ramos comerciais: "Suponhamos que a taxa geral anual de lucro seja de 15% e que o comerciante adiante £100; nesse caso, se seu capital rodar uma vez no ano, ele venderá sua mercadoria a [£]115. Se seu capital rodar cinco vezes no ano, ele venderá cinco vezes no período, a [£]103, um capital­-mercadoria cujo preço de compra é [£]100; ou seja, venderá no ano inteiro, a [£]515, um capital­-mercadoria de [£]500. Isso equivale, tal como antes, a um lucro anual de [£]15 sobre seu capital adiantado de [£]100."


238 - "...a influência das rotações do capital comercial sobre o preço comercial revela fenômenos que, sem uma análise mais minuciosa dos elos intermediários, parecem pressupor uma determinação puramente arbitrária dos preços".


239 - "...é absolutamente impossível vislumbrar por que a concorrência reduz a taxa geral de lucro a esse limite, em vez de àquele outro – a 15%, em vez de a 1.500%. No máximo, ela pode reduzi­-la a certo nível. Mas nela não há absolutamente nenhum elemento que permita determinar esse nível."


240 - O lucro que se obtém sobre a rotação de determinado capital­-mercadoria é inversamente proporcional ao número de rotações do capital monetário que faz rodar esses capitais­-mercadorias.


241 - Comerciantes com rotação mais rápida que o habitual para o seu ramo poderá obter um lucro extraordinário. 



Pgs. 397-406:


CAPÍTULO 19: "O capital de comércio de dinheiro"


242 - Mais uma diferenciação que a meu ver não faz qualquer sentido pratico real: Em ambos os casos, o capitalista tem de pagar constantemente em dinheiro a muitas pessoas e receber constantemente em dinheiro de muitas pessoas. Essa operação meramente técnica do pagamento e da cobrança constitui, por si só, trabalho, o qual, na medida em que o dinheiro funciona como meio de pagamento, exige cálculos de balanço patrimonial e atos de compensação. Esse trabalho é um custo de circulação, e não um trabalho que cria valor. Ele é abreviado pela ação de um setor específico de agentes ou capitalistas, que o efetuam para toda a classe capitalista restante.


243 - Em relação ao passado, eu realmente vejo algum sentido em falar em "dinheiro mundial" para o ouro: "...Enquanto existem diversas moedas nacionais, os comerciantes que compram no estrangeiro devem converter suas moedas nacionais em moeda local, e vice­-versa, ou também diversas moedas em troca de prata e ouro puros, não amoedados, que funcionam como dinheiro mundial [Weltgeld]".


244 - Comércio de dinheiro, via "caixas" ou outras instituições mais modernas, tem a seguinte consequência: ...quando administrados para a classe capitalista inteira, os fundos de reserva para meios de compra e de pagamento não precisam ser tão grandes como teriam de ser se cada capitalista administrasse seu fundo particular. (...) mediante o mecanismo artificial dessas compensações, diminui a massa de dinheiro requerida para isso; mas ele não determina as conexões, tampouco o montante dos pagamentos recíprocos


245 - Está igualmente claro que o lucro dos comerciantes de dinheiro não é mais que uma dedução do mais­-valor, já que eles só precisam operar com valores já realizados (ainda que realizados apenas na forma de títulos de crédito).


246 - Capítulo de importância menor. Mais histórico mesmo, pois muitas partes ficaram meio que datadas.



Pgs. 407-422:


CAPÍTULO 20: "Considerações históricas sobre o capital comercial"


247 - Começo já discordando das primeiras páginas, até por não visualizar de maneira alguma essa implicação aqui: Se o capital de comércio de mercadorias e o capital de comércio de dinheiro não diferem do cultivo de cereais mais do que este último difere da pecuária e da manufatura, então é claro como a luz do sol que não há absolutamente nenhuma diferença entre produção e produção capitalista e que, entre outras coisas, a distribuição dos produtos sociais entre os membros da sociedade, seja para o consumo produtivo, seja para o consumo individual, tem de ser eternamente mediada pelos comerciantes e pelos banqueiros, do mesmo modo que o consumo de carne tem de ser assegurado pela pecuária, e o de vestuário, por sua manufatura. (A diferença, a meu ver, é que o lucro comercial, no passado, estava travado pela ausência do modo de produção capitalista. A massa de mercadorias produzidas periodicamente não crescia de forma quase ininterrupta. As revoluções, diminuidoras de trabalho vivo, no capital comercial só vieram bem depois, a reboque. Penso em Walmart e Amazons da vida. Se isso é "ser improdutivo", ok, que seja. Não me importa a semântica. Isso não quer dizer que a sociedade precise sempre da mediação dos comerciantes e banqueiros, mas o que eles fazem pode ser útil como conhecimento. Claro, porém, que a função seria bem diferente no fim das contas)


248 - Capital comercial e Ricardo: Quando se ocupam dele em particular, tal como o faz Ricardo, ao tratar do comércio exterior, procuram demonstrar que ele não cria valor nenhum (logo, tampouco cria mais­-valor).


249 - O próprio Marx vai colocando, como eu já esperava, trechos que dialogam com minha ponderação: O volume em que a produção entra no comércio e passa pelas mãos dos comerciantes depende do modo de produção e alcança seu máximo com o pleno desenvolvimento da produção capitalista, quando o produto passa a ser produzido tão somente como mercadoria, e não como meio direto de subsistência


250 - Coloca que o comércio, por seu lado, também vai incentivar a evolução do modo de produção, quase como se o sugerisse. Cria condições para. Inclusive devido ao acúmulo de riqueza monetária dos comerciantes, mas não só.


251 - É e não é: Esse D­-M­-D’, como movimento característico do capital comercial, distingue­-se de M­-D­-M, do comércio de mercadorias entre os próprios produtores, comércio orientado ao intercâmbio de valores de uso como fim último.


252 - Quanto menos desenvolvida é a produção, mais a riqueza monetária é concentrada nas mãos dos comerciantes ou mais ela aparece como forma específica do patrimônio do comerciante. (...) não é nada difícil compreender por que o capital comercial aparece como forma histórica do capital, muito antes de o capital ter estabelecido seu próprio domínio sobre a produção.


253 - Dentro da produção capitalista, o capital comercial perde sua existência autônoma para ser rebaixado a um fator particular do investimento de capital em geral, e o nivelamento dos lucros diminui sua taxa de lucro à média geral. Ele funciona apenas como agente do capital produtivo. Aqui as condições sociais particulares que se formam com o desenvolvimento do capital comercial deixam de ser determinantes; pelo contrário, onde esse capital predomina imperam condições obsoletas.


254 - Capital comercial e história: "...Mas esse monopólio do comércio de transporte de mercadorias declina, e, com ele, também esse mesmo comércio, na mesma proporção em que avança o desenvolvimento econômico dos povos que ele explorava de ambos os lados e cuja falta de desenvolvimento constituía a base de sua existência. No caso do comércio de transporte de mercadorias, isso aparece como o declínio não só de um ramo comercial particular, mas também da supremacia de povos puramente comerciais e de sua riqueza comercial em geral, cujas bases se assentavam nesse comércio de transporte de mercadorias. Essa é somente uma forma particular em que se expressa a subordinação do capital comercial ao capital industrial à medida que avança a produção capitalista."


255 - ...Prima facie, um lucro comercial puro e independente parece impossível enquanto os produtos forem vendidos por seus valores. Comprar barato para vender caro, essa é a lei do comércio, e não a troca de equivalentes.


256 - Por todo o tempo em que o capital comercial medeia a troca de produtos de comunidades não desenvolvidas, o lucro comercial não só aparece como logro e vantagem abusiva, mas, em grande parte, resulta realmente destes últimos. Além de explorar a diferença entre os preços de produção de diferentes países (contribuindo, assim, para nivelar e fixar os valores das mercadorias), aqueles modos de produção contam com o fato de que o capital comercial se apropria de uma parte predominante do mais­-produto, por um lado, como intermediário entre comunidades cuja produção ainda se encontra fundamentalmente orientada para o valor de uso e para cuja organização econômica a venda da parte do produto que entra realmente na circulação – isto é, em geral, a venda dos produtos por seu valor – tem uma importância secundária


257 - Marx associa o antigo comércio ao saque. Mercadores meio que se aproveitavam de todo tipo de tática de apropriação de excedente e os negócios sequer eram 100% livres. Traz trecho do livro de Martinho Lutero justamente criticando todo mundo como "ladrão" rs. Quase Lutero soltou um "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". Diz Marx: ...onde quer que o capital comercial exerça um poder preponderante, ele constitui um sistema de saqueio.


258 - Coloca que a relação entre comércio (incentivando a...) e indústria não é mecânica: "Na Roma Antiga, na época republicana tardia, o capital comercial foi desenvolvido num grau maior do que jamais havia sido em todo o mundo antigo, sem que tenha ocorrido nenhum progresso no desenvolvimento da indústria, ao passo que, em Corinto e em outras cidades gregas da Europa e da Ásia Menor, uma indústria altamente desenvolvida acompanhou o desenvolvimento do comércio."


259 - Não resta dúvida – e precisamente esse fato gerou pontos de vista totalmente falsos – de que nos séculos XVI e XVII as grandes revoluções ocorridas no comércio graças aos descobrimentos geográficos e que incrementaram rapidamente o desenvolvimento do capital comercial constituem um fator fundamental no favorecimento da transição do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista. A súbita expansão do mercado mundial, a diversificação das mercadorias em circulação, a disputa entre as nações europeias por apoderar­-se dos produtos asiáticos e dos tesouros americanos, o sistema colonial, tudo isso contribuiu de maneira essencial para derrubar as barreiras feudais da produção.


260 - Comparemos, por exemplo, Inglaterra e Holanda. A história do declínio da Holanda como nação comercial dominante é a história da subordinação do capital comercial ao capital industrial.


261 - Não aprofunda muito, mas detalha que o mercador por vezes funciona praticamente como um capitalista para o qual "produtores independentes" trabalham. Dependem das compras deste para poderem comprar as matérias-primas que reiniciam seu ciclo de subsistência. "O mercador é o verdadeiro capitalista, que embolsa a maior parte do mais­-valor". (...) Esse sistema se apresenta em toda parte como um obstáculo ao modo de produção capitalista e desaparece com o desenvolvimento deste último. Sem revolucionar o modo de produção, ele só faz agravar a situação dos produtores diretos, convertendo­-os em meros assalariados e proletários sob condições mais precárias que as dos diretamente subsumidos ao capital, e se apropria de seu mais­-trabalho sobre a base do antigo modo de produção.


262 - Segundo Marx, ocorre a seguinte transição: Em vez de produzir para o mercador individual ou para determinados clientes, agora o tecelão de pano produz para o mundo do comércio. O produtor é, ele mesmo, mercador. (...) Agora o comércio se converte em servidor da produção industrial, para a qual a constante expansão do mercado é condição vital.


263 - O mercado mundial faz com que tudo seja diferente em termos de preço e produtividade, industrializa a lógica: O capitalista industrial tem sempre diante de si o mercado mundial; ele confronta e tem de confrontar constantemente seus próprios preços de custo com os preços de mercado, não só aqueles praticados em seu país, mas no mundo inteiro. Na época anterior, realizar essa comparação era algo que competia quase exclusivamente aos mercadores, que assim asseguravam a supremacia do capital comercial sobre o capital industrial.


.

Comentários