Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 16 e 17

                                                       

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 16 e 17



Pgs. 343-356:




Seção IV - TRANSFORMAÇÃO DE CAPITAL­-MERCADORIA E DE CAPITAL MONETÁRIO EM CAPITAL DE COMÉRCIO DE MERCADORIAS E CAPITAL DE COMÉRCIO DE DINHEIRO (CAPITAL COMERCIAL)



CAPÍTULO 16: "O capital de comércio de mercadorias"


203 - O capital comercial ou mercantil se desdobra em duas formas ou categorias: o capital de comércio de mercadorias [Warenhandlungskapital] e o capital de comércio de dinheiro [Geldhandlungskapital].


204 - Importante: Já explicamos (Livro II, capítulo 6, “Os custos de circulação”, itens 2 e 3) até que ponto as indústrias do transporte, do armazenamento e da distribuição das mercadorias, sob uma forma adequada a tal distribuição, podem ser consideradas processos de produção que persistem no interior do processo de circulação.


205 - Na realidade, o capital de comércio de mercadorias não é outra coisa que a forma modificada de uma parte desse capital de circulação, que se encontra constantemente no mercado, em processo de transmutação, e se encontra permanentemente inserido na esfera da circulação. Se dizemos “de uma parte”, evidentemente, é pelo fato de uma parcela da compra e venda das mercadorias realizar­-se sempre diretamente entre os próprios capitalistas industriais.


206 - Quando o industrial vende ao comerciante do capital comercial...: "Mas ainda que, para ele, o produtor têxtil, tenha se realizado a metamorfose em dinheiro, isto é, sua venda, esta ainda não se realizou para o próprio tecido, que continua a figurar no mercado como capital­-mercadoria, destinado a passar por sua primeira metamorfose, a ser vendido."


207 - Essa é sua operação exclusiva; tal atividade mediadora do processo de circulação do capital industrial é a função exclusiva do capital monetário, com o qual opera o comerciante.


208 - Vantagens do capital comercial: Graças à mediação do comerciante, o produtor pode investir constantemente uma parte maior de seu capital no verdadeiro processo de produção, destinando uma parte menor a servir de reserva monetária.


209 - Segue-se uma série de considerações nas quais não vi muita importância.


210 - Marx critica Ramsay e Say por considerarem o comércio um ato de "produção". Pois bem, não vejo motivos para a crítica de Marx estar correta. Segundo Marx, capital comercial não é senão aquele que atua dentro da esfera da circulação. O processo de circulação constitui uma fase do processo global da reprodução. Mas no processo da circulação não se produz nenhum valor, por conseguinte, tampouco mais­-valor. Nele ocorrem apenas alterações de forma da mesma massa de valor. Com efeito, nele não ocorre mais do que a metamorfose das mercadorias, que, como tal, não guarda qualquer relação com a criação ou a modificação de valor. Se na venda da mercadoria produzida se realiza um mais­-valor, é porque esse mais­-valor já existia nessa mercadoria. (É quase uma crítica semântica a meu ver. Não "produz", só "realiza". Ocorre que essa realização pode mobilizar diferentes quantidades de trabalho vivo, ou seja, não vejo motivo para que se considere que "não agrega valor")


211 - ..."Por conseguinte, o capital comercial não cria valor nem mais­-valor, não diretamente."... (Que seja indiretamente então... Isso eu não ligo) 


212 - ..."Na medida em que contribui para a abreviação do tempo de circulação, ele pode ajudar indiretamente a aumentar o mais­-valor produzido pelo capitalista industrial." (É isso então. Que seja!)


213 - ...Pois então: ..."Na medida em que ajuda a expandir o mercado e em que medeia a divisão do trabalho entre os capitais, isto é, em que capacita o capital a trabalhar em maior escala, sua função promove a produtividade do capital industrial e sua acumulação. Na medida em que abrevia o tempo de curso, ele eleva a proporção entre o mais­-valor e o capital adiantado, isto é, a taxa de lucro. Na medida em que coloca na esfera da circulação uma parte menor do capital como capital monetário, ele aumenta a parte do capital diretamente investida na produção."



Pgs. 357-382:


CAPÍTULO 17: "O lucro comercial"



214 - Apesar de "não criar valor", tal capital tem que aparecer submetido à taxa média geral de lucro, senão não faria sentido algum investir nisso.


215 - Assim... Como o próprio capital comercial não gera mais­-valor nenhum, está claro que o mais­-valor que lhe corresponde na forma de lucro médio constitui uma parte do mais­-valor gerado pelo capital produtivo total.


216 - Não é o comerciante que adiciona algo ao preço de produção pelo qual o industrial o vendeu a mercadoria (essa hipótese seria "mera aparência"). O que acontece, segundo Marx, é que o comerciante compra do industrial sob preço de produção com certa porcentagem de desconto, correspondente ao lucro. É o industrial que vende a um preço mais baixo que o de produção, dividindo, assim, a mais-valia produzida. 


217 - Lucro de 180: se o capital produtivo for = 900 e o capital comercial for = 100, a taxa média de lucro será = 180/1.000 = 18%O preço de produção é, pois, = k (custos) + 18, em vez de ser = k + 20.


218 - A taxa de lucro do industrial passa a ter que ser um pouco menor, já que terá de vender ao comerciante "abaixo do preço de produção" nesse esquema conceitual de Marx em que capital comercial nem gera valor. 


219 - O lucro comercial determina originariamente o lucro industrial. É apenas depois de ter­-se imposto o modo de produção capitalista e de o próprio produtor tornar­-se comerciante que o lucro comercial é reduzido à alíquota do mais­-valor total, que corresponde ao capital comercial como alíquota do capital total empregado no processo social da reprodução.


220 - Alguns trechos mostram que Marx sabia das nuances de tudo que defendia: ...Por outro lado, também é possível que, no caso de o capital adiantado pelo comerciante ser de pequeno volume, o lucro que ele realiza não seja maior, que seja inclusive menor que o salário de um dos assalariados hábeis mais bem remunerados.


221 - "...Nada disso se alterará se o comerciante passar a ocupar o lugar do capitalista industrial. Em vez de ser este último a empregar mais tempo no processo de circulação, quem o emprega é o comerciante; em vez de ser o capitalista industrial a adiantar capital adicional para a circulação, quem o adianta é o comerciante; ou, o que dá na mesma, em vez de uma parte maior do capital industrial mover­-se permanentemente dentro do processo de circulação, é o capital do comerciante que se encontra incorporado por completo em seu interior; em vez de o capitalista industrial obter um lucro menor, ele tem de ceder inteiramente ao comerciante uma parte de seu lucro. Mantendo­-se o capital comercial dentro dos limites nos quais ele se faz necessário, a diferença é apenas que, em virtude dessa divisão da função do capital, menos tempo é empregado exclusivamente no processo de circulação, menos capital adicional é adiantado para ele, e a perda de lucro total que se revela na figura do lucro comercial é menor do que seria em outras condições". Enfim, termina dizendo que a taxa de lucro, sem o comerciante, talvez fosse ainda menor que dividir o lucro com ele. 


222 - Engraçado que, logo depois, ele vai analisando que os custos comerciais precisam ser reduzidos ao máximo para que tudo não implique uma redução da taxa média geral de lucro da economia. Enfim... Jamais vou conseguir concordar com a hipótese de que isso não gere valor.


223 - ...E, por causa disso, minha série de "não posso concordar" vai valendo para tudo que se segue: "...é impossível que os trabalhadores de comércio que ele emprega nas mesmas funções possam criar diretamente mais­-valor para ele. (...) o comerciante não lucra com um desconto no salário, estabelecendo em seus cálculos de custos um desembolso para o trabalho que ele paga apenas em parte; em outras palavras, de que o comerciante não enriquece explorando seus empregados etc." (Tudo errado, a meu ver). Eles só produzem, para o seu empregado, lucro e não mais-valor, segundo Marx. (Para mim, não há razão para essa distinção aqui). ..."também o capital comercial obtém lucro quando não paga inteiramente ao capital produtivo o trabalho não pago incorporado na mercadoria (na medida em que o capital desembolsado em sua produção funciona como alíquota do capital industrial total), ao passo que, na venda das mercadorias, exige o pagamento dessa parte ainda incorporada dentro delas e que não foi paga por ele."


224 - Pois é?: "...O trabalho não pago de seus empregados, embora não crie mais­-valor, cria para ele a apropriação de mais­-valor, o que, quanto ao resultado, significa para esse capital exatamente a mesma coisa; para o capitalista comercial, portanto, esse trabalho não pago é fonte de lucro".


225 - O resto é composto de mais ponderações que, não vejo como ver diferente, possuem o mesmo nível de arbitrariedade: "Quanto mais desenvolvida é a escala da produção, maiores – embora de modo nenhum de maneira proporcional – são as operações comerciais do capital industrial, isto é, também o trabalho e os demais custos de circulação para a realização do valor e do mais­-valor. Desse modo, torna­-se necessário o emprego de assalariados comerciais, que constituem o escritório propriamente dito. O desembolso para esses assalariados, ainda que se efetue na forma de salários, distingue­-se do capital variável desembolsado na compra do trabalho produtivo. Com isso, aumentam os desembolsos do capitalista industrial, a massa do capital a ser adiantada, mas sem aumentar diretamente o mais­-valor."


226 - O trabalhador do setor comercial seria, nesse esquema todo, obviamente de natureza diferente do "industrial". Sua relação com o comerciante capitalista é a seguinte: "...Ele lhe rende não porque cria diretamente mais­-valor para o capitalista, mas porque o ajuda a reduzir os custos da realização do mais­-valor, efetuando trabalho, em parte não pago". (Na prática... Enfim, vai entender Marx aqui...)


227 - Não sei bem se isto aqui aconteceu. Depende de quem ele está falando exatamente: "O trabalhador comercial propriamente dito pertence à classe dos assalariados mais bem remunerados, àqueles cujo trabalho é qualificado, acima do trabalho médio. No entanto, seu salário tende a cair, inclusive em relação ao trabalho médio, à medida que progride o modo de produção capitalista". Dizia que a expansão do ensino/instrução e outros fatores levariam a isso. Esta parte aqui muito possivelmente foi uma bela previsão furada: "seu salário diminui enquanto aumenta sua capacidade laboral". Exceto se for "salário relativo", caso em que não sei números.


228 - Para o capital industrial, os custos de circulação aparecem como despesas adicionais – e, de fato, são. Para o comerciante, eles aparecem como fonte de lucro, que, pressupondo­-se a taxa geral de lucro, encontra­-se em proporção à grandeza desses custos. Por isso, o desembolso que se deve efetuar nesses custos de circulação é, para o capital comercial, um investimento produtivo. Assim como para ele também é diretamente produtivo o trabalho comercial que ele compra.


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