Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 5 e 6

                                               

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulo 5



Pgs. 121-152


CAPÍTULO 5: "Economia no emprego do capital constante"


52 - Lembra que o uso ininterrupto de uma fábrica otimiza os custos fixos, daí o gosto do capitalista pelos prolongamentos de jornada.


53 - Lembra que a melhora nas condições do capital constante - melhor aproveitamento de resíduos; novos materiais mais duráveis... etc. - causam não só redução no custo de produção, mas, consequentemente, a própria necessidade de menor reinvestimento no capital constante. Se o capital variável se mantém nas mesmas condições, temos um aumento na taxa de lucro. Assim, coloca que o progresso técnico em um ramo pode beneficiar o industrial (com o aumento da taxa de lucro).


54 - Menciona, ainda no mesmo sentido, os ganhos de escala. Otimizam o capital constante.


55 - Lembra que a soma absoluta de capital constante pode crescer com seu barateamento, o que pode parecer paradoxal, mas nem é: pode ser tão mais usada uma nova técnica ou matéria-prima a preço mais baixo que o gasto total nisso acaba aumentando. Torna-se mais lucrativo aumentar a proporção da "novidade" no capital total a esse ponto.


56  - O resto desse subtópico do capítulo é todo muito óbvio.


57 - Traz uma série de relatos tensos dos inspetores de fábrica sobre o trabalho nas minas. Morriam quinze homens por semana nas minas de carvão inglesas. Critica a "avareza suja dos donos de mina", que poderiam evitar tudo isso. Os dispositivos de proteção não eram caros, nem prejudiciais, Mesmo assim...


58 - Havia associação de fabricantes a fim de impedir avanços legais em defesa da segurança no trabalho. Numa dessas reversões de obrigatoriedade, foi possível assistir ao aumento no número de acidentes. Ao menos, alguns trabalhadores conseguiam judicialmente indenizações satisfatórias. 


59 - Mortalidade por doenças pulmonares subia em qualquer distrito em que se instalavam fábricas/recintos fechados.


60 - Trata de outras indústrias-filem-de-terror. Alfaiatarias e outras com alto índice de mortalidade. Tipografias também são mencionadas como inferninhos na Terra. Jornadas exaustivas, calor e mau cheiro. Ventilação horrorosa. Jovens trabalhando... Falta de descanso aos domingos em muitos casos...


61 - Coloca que as mulheres entrevistadas pelos inspetores diziam estar "muito bem". Quando os médicos iriam examinar, percebiam inúmeros problemas e debilidades na saúde. 


62 - A isso se segue um longo relatório de progresso no maquinário de alguns ramos industriais e també o melhor "aproveitamento de resíduos" e a "economia-otimização" gerada por tudo isso.


63 - Trabalho social: é mais específico que o trabalho geral, que pode ser qualquer processo de criação-invenção. O "social" pressupõe a cooperação direta entre os indivíduos.  


64 - Por fim, coloca que muitos pioneiros de inovação industrial vão á falência enquanto os medíocres posteriores herdam-colhem os louros do barateamento progressivo da invenção.



Pgs. 153-190:


CAPÍTULO 6: "Influência das variações de preço"


65 - O preço dos produtos é afetado em grau maior por um aumento de preço na matéria-prima que no aumento de preço no capital fixo, o qual, por vezes, leva anos para se incorporar no preço da mercadoria. É muito mais diluído qualquer possível impacto.  


66 - Conceitos: Por vinculação de capital entendemos que determinadas proporções dadas do valor total do produto têm de ser reconvertidas em elementos do capital constante ou do capital variável a fim de que a produção tenha continuidade em sua antiga escala.


67 - ...Por liberação de capital entendemos que uma parte do valor total do produto, que até aqui tinha de ser reconvertida em capital constante ou capital variável, precisa tornar­-se disponível e excedente a fim de que a produção prossiga dentro dos limites da antiga escala. (Linguagem desnecessariamente enrolada, mas creio que entendi o que ele quer dizer).


68 - Marx tinha dimensão da complexidade do problema de tentar "apalpar" as relações entre valor e capital: "Se o preço da matéria­-prima aumenta, por exemplo, do algodão, aumenta também o preço das mercadorias de algodão – dos produtos semifabricados, como o fio, e dos acabados, como tecidos etc. – que foram fabricadas com algodão mais barato; do mesmo modo, aumenta o valor do algodão ainda não trabalhado, que se encontra em estoque, assim como do algodão em estágio de elaboração. Este último, por se converter retroativamente em expressão de mais tempo de trabalho, agrega ao produto no qual ele entra como componente um valor maior do que o que ele mesmo possuía de início e maior que o valor que o capitalista pagou por ele".


69 - O progresso técnico no capital constante leva, curiosamente, a uma desvalorização do capital necessário á reprodução do ciclo seguinte e queda, por isso, da taxa de lucro nas fábricas que estão utilizando métodos agora ultrapassados, ao que entendi.


70 - Sobre capital variável, anota que uma desvalorização da força de trabalho, que, a seu ver, é o valor dos meios de subsistência, aumenta, mantidas as demais condições, a mais-valia, já que menos "valor" é gasto em salários. Libera-se capital. Já o contrário, para evitar paralisação parcial das máquinas, implica em grande desvantagem para o capitalista: "...Com um desembolso de capital variável aumentado em £100, produz­-se, portanto, menos mais­-valor. Para pôr em movimento o mesmo número de trabalhadores, é necessário mais capital, ao mesmo tempo que diminui o mais­-valor que cada trabalhador individual fornece." Aumento real de salário sem um maior na produtividade é o caos para eles.


71 - Do que foi dito até aqui, já resulta claro que, quanto mais desenvolvida estiver a produção capitalista, e quanto maiores, por isso, forem os meios para um aumento súbito e sustentado da parte do capital constante constituída por maquinaria etc., quanto mais rápida for a acumulação (como ocorre especialmente em épocas de prosperidade), maior será a sobreprodução relativa de maquinaria e de outros capitais fixos, mais frequente será a subprodução relativa das matérias­-primas vegetais e animais, mais veementes serão o aumento de seu preço, descrito anteriormente, e a correspondente reação a tal aumento. Tanto mais frequentes serão, pois, as revulsões que se fundam nessa intensa oscilação dos preços como um dos principais elementos do processo de reprodução.


72 - Interessante dessas páginas - e não anotei aqui - é que Marx descreve os processos de "equilibração" entre oferta e demanda em outras palavras, em comparação à economia posterior a ele. Mas enfim, não vejo tanta oposição aqui. Os preços, de certa forma, vão reajustando a coisa, ainda que com mais percalços do que Marx parece considerar ideal. Exemplo: ...O repentino colapso do preço dos produtos primários impõe freios a sua reprodução, e assim é restabelecido o monopólio dos países originários, que produzem sob as condições mais favoráveis; restabelecido talvez com certas restrições, mas restabelecido. (...) Qualquer ideia sobre um controle comum, amplo e previdente da produção de matérias­-primas – controle que, em geral, é também totalmente incompatível com as leis da produção capitalista e que, por isso, permanece sempre como uma boa intenção ou se limita a medidas coletivas excepcionais em momentos de grande perigo e confusão – cede lugar à crença de que a oferta e a demanda se regulam mutuamente [16].


73 - ...Por isso tudo, conclui que o "sistema capitalista" se opõe à "agricultura racional".


74 - Após isso, há toda uma colagem de relatórios de fábrica sobre o apogeu e crise da indústria do algodão. A impressão que deu é que Marx iria usar tudo isso para escrever a respeito. Ficou meio que uma colagem só, sem muitas explicações em algumas partes. E algumas coisas são meio óbvias. Tipo as fábricas diminuindo a produção em tempos de matéria-prima mais cara: “Desde há muito tempo escuto dos donos de fábricas algodoeiras reclamações frequentes sobre o estado de depressão de seus negócios [...]. Durante as últimas 6 semanas, diversas fábricas começaram a trabalhar em tempo reduzido, normalmente 8 horas diárias em vez de 12; isso parece difundir­-se [...]. Houve um grande aumento do preço do algodão; [...] não só não subiu o preço do produto fabril, como [...] seus preços são mais baixos que antes do aumento do algodão."


75 - "Engraçado" um que reclama que a matéria-prima está mais cara em razão de uma guerra da Rússia na Criméia...


76 - Crise do algodão 1860-1865: greve de 1861 em partes de Lancashire: Diversos fabricantes haviam anunciado uma diminuição do salário entre 5% e 7½%; os trabalhadores insistiam em que se mantivessem as taxas salariais, porém que se encurtassem as horas de trabalho. Isso não lhes foi concedido, e teve início a greve. Depois de um mês, os trabalhadores tiveram de ceder. 1862. Abril. “Os sofrimentos dos trabalhadores aumentaram significativamente desde a data de meu último relatório; mas em nenhuma época na história da indústria se suportaram padecimentos tão repentinos e graves com tamanha resignação silenciosa e tão paciente dignidade” (Rep.[orts of Inspectors of] Fact.[ories], April 1862, p. 10). Mais à frente, diz que o desemprego nessa indústria chegou a 50% em Lancashire.


77 - “O número proporcional de trabalhadores que neste momento encontram­-se totalmente desempregados não parece ser muito maior que em 1848, quando imperava um pânico habitual, mas grave o suficiente para induzir os preocupados fabricantes a encomendar uma estatística sobre a indústria algodoeira tal como a que agora se publica semanalmente [...]. Em maio de 1848, 15% dos trabalhadores algodoeiros de Manchester estavam desempregados, 12% trabalhavam tempo reduzido, enquanto mais de 70% estavam empregados em tempo integral. Em 28 de maio de 1862, 15% estavam desempregados, 35% trabalhavam tempo reduzido, e 49%, tempo integral [...]. Nas localidades vizinhas, como, por exemplo, Stockport, o percentual dos total ou parcialmente desempregados é maior, e o dos plenamente empregados é menor”, justamente porque nesse lugar se fiam números mais grosseiros do que em Manchester. ([Ibidem,] p. 16)


78 - "1863. Abril. “No curso deste ano, não se poderá empregar plenamente muito mais que a metade dos trabalhadores algodoeiros” (Rep.[orts of Inspectors of] Fact.[ories], April 1863, p. 14)."


79 - O salário era por peça, pra piorar tudo. Fim do capítulo traz, inclusive, eventos dramáticos de redução salarial. O algodão ruim impedia que fosse possível trabalhar na mesma velocidade: De acordo com minhas averiguações [...] e os informes que me foram apresentados sobre os ganhos dos trabalhadores algodoeiros no curso deste ano [...], houve um decréscimo de 20% em média, e em alguns casos de 50%, calculado segundo os níveis salariais vigentes em 1861.”


80 - Uma crise pode servir a incrementos de produtividade porém: “A soma ganha depende [...] do material que é trabalhado [...]. A situação dos trabalhadores, em relação com o importe salarial recebido, é muito melhor agora” (outubro de 1863) “que nesta mesma época no ano passado. A maquinaria foi aperfeiçoada, conhece­-se melhor a matéria­-prima e os trabalhadores superam mais facilmente as dificuldades com as quais tinham de lutar de início.


81 - Baseado num relatórios de inspetores de fábrica, Marx informa: Os salários, mesmo onde se trabalhava em tempo integral, eram miseráveis. Os trabalhadores algodoeiros se prontificavam para todos os trabalhos públicos, de drenagem, construção de estradas, britagem de pedras, pavimentação de ruas, nos quais eram empregados para obter uma subvenção (que, na verdade, era uma subvenção para os fabricantes, conforme o Livro I, p. 598­-9 [649­-50]) das autoridades locais. A burguesia inteira patrulhava os trabalhadores. Se o pior salário era oferecido e o trabalhador não queria aceitá­-lo, o comitê de subvenção o eliminava da lista de subvenções. Na medida em que ou os trabalhadores morriam de fome ou tinham de trabalhar por qualquer preço, foi uma idade de ouro para os senhores fabricantes, a mais lucrativa possível para o burguês, e os comitês de subvenção agiam como seus cães de guarda. Ao mesmo tempo, os fabricantes, em conluio secreto com o governo, impediam a emigração tanto quanto possível, em parte para manter sempre à disposição seu capital, existente sob a forma de carne e sangue dos trabalhadores, em parte para garantir o recebimento dos aluguéis, extorquidos aos trabalhadores. Esse veto à imigração mostra o quanto há "liberdade". (...) Naturalmente, os fabricantes eram contrários à emigração dos trabalhadores porque, “na expectativa de tempos melhores para a indústria algodoeira, pretendiam conservar ao alcance da mão os meios para fazer funcionar sua fábrica da maneira mais lucrativa”. Além disso, Marx coloca que muitos cobravam aluguéis desses trabalhadores.


82 - Eram concedidos empréstimos a juros baixos para que os patrões empregassem trabalhadores a salários miseráveis em trabalhos ruins de obras públicas. Um membro do comitê coloca que ficava feliz de ver trabalhador desempregado aceitando essa humilhação. Menciona condições horrorosas e arrebata: A postura dos trabalhadores foi quase irrepreensível [...], sua disposição para aceitar o trabalho ao ar livre e arranjar­-se com ele” (p. 69).


83 - Onde/quando alguns comitês começaram a gerar maior escassez de mão-de-obra para o trabalho nas fábricas, houve sua interrupção.


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