Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Apresentações e Prefácio

                                             

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Apresentação e Introduções



Pgs. 1-63:



APRESENTAÇÃO – SOBRE O CARÁTER NECESSÁRIO DO LIVRO III D’O CAPITAL


Marcelo Dias Carcanholo


1 - Engels relata que, das sete seções que constituem o Livro III, o original lhe permitiu a edição sem maiores percalços apenas para as de número II, III e IV. Na primeira seção, Engels teve a necessidade de escrever um capítulo completo, o IV, do qual constava, no texto deixado por Marx, apenas o título. Engels também relata que a seção que lhe proporcionou mais dificuldade foi a V, a qual, segundo ele mesmo, discute o assunto mais complexo do livro e que, para os dias atuais, é de enorme importância: trata­-se do que, hoje, poderíamos chamar de aspectos financeiros do capital.


2 - Coloca que quem não leu o livro III é capaz de sair achando que as mercadorias são vendidas pelos seus valores, quando, na verdade, isso jamais pode acontecer, a não ser como coincidência.


3 - Carcanholo resume aqui a concepção marxista sobre a relação entre preço de produção, quantidade de mais-valia e taxa média de lucro. ...Esta última, aplicada ao capital adiantado, define o lucro médio, que, somado ao preço de custo, forma os preços de produção, os quais, por sua vez, garantem que capitais de igual montante se apropriem do mesmo lucro médio, independentemente de quanto mais­-valor produziram no processo produtivo. (...) Entretanto, para o capital total, os preços de produção (magnitude de valor apropriada) equivalem aos valores (magnitude de valor produzida).


4 - ...Mas a coisa não para aí: No terceiro e último nível de abstração, Marx constata (capítulo 10 deste livro) que os preços de mercado só corresponderiam aos preços de produção por uma casualidade. (...) Se a oferta é maior do que a demanda, os preços de mercado são inferiores aos de produção, e vice­-versa, o que nos leva à conclusão de que as mercadorias, de fato, não são vendidas por seus valores (intermediados pelos preços de produção). (Eu prefiro enxergar isso como descompasso temporal. Quando se faz um investimento e se planeja a produção, os preços das mercadorias compradas e também o das que serão vendidas é "um", quando a hora de circular e realizar o valor, chega, com a venda do produto produzido, o preço já é outro, afinal, as preferências são instáveis. Não sei se é bem isso que Marx tinha em mente, mas ok.) (Ex: certamente quando surgiu a câmera digital e o celular que tira foto, a Kodak já tinha todo um plano em curso de produção de filmes de revelar, sei lá como chama, nem lembro mais... Ou, pior, investimentos a recuperar em máquinas do tipo). 


5 - ...Observando mais de perto, quando os preços de mercado são inferiores aos preços de produção, a taxa efetiva de lucro (resultado dos preços efetivos de mercado) é inferior à taxa média. Capitais instalados em tais setores tendem a reduzir os volumes de produção ou simplesmente a abandonar essas esferas de produção. Por uma razão e/ou por outra, a quantidade de produção no mercado tende a cair, fazendo com que o preço de mercado suba em direção ao preço de produção



O SEGUNDO E O TERCEIRO VOLUMES D’O CAPITAL


Rosa Luxemburgo


6 - Rosa, em 1917-18, sobre a ideologia que guia os defensores do capital (pois até hoje é isso aí mesmo...): Os defensores “científicos” do melhor dos mundos, este em que vivemos, alguns homens que, como Schulze­-Delitzsch, gozavam de prestígio e confiança também entre os trabalhadores, explicavam a riqueza capitalista por meio de uma série de razões justificadoras, mais ou menos plausíveis, e de astutas manipulações: como fruto do aumento sistemático do preço das mercadorias com que o empresário se “indenizava” pelo capital generosamente “cedido” por ele à produção; como remuneração pelo “risco” que todo empresário corria; como salário pela “direção intelectual” da empresa; e assim por diante. De acordo com essas explicações, tratava­-se apenas de apresentar como algo “justo” e, portanto, imutável a riqueza de uns e a pobreza de outros.


7 - Rosa ficou com a "mesma impressão que a minha" (inclusive registrei no fichamento do Livro II) sobre as consequências das exposições do Livro II: De fato, as exposições do segundo e do terceiro volumes nos fazem penetrar profundamente na essência das crises, que são simples consequência inevitável do movimento do capital, um movimento que em seu ímpeto violento e insaciável para acumular, para crescer, costuma ultrapassar todas as barreiras do consumo, por mais que este se amplie aumentando o poder aquisitivo de uma camada da sociedade ou conquistando mercados totalmente novos. Portanto, também se deve dizer adeus à ideia da harmonia de interesses entre capital e trabalho, que apenas seria menosprezada pela miopia dos empresários e está latente no fundo de toda agitação sindical popular, e renunciar a toda esperança de remendar suavemente a anarquia econômica do capitalismo.



O CAPITAL

CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA


LIVRO III

O processo global da produção capitalista



Prefácio (Engels)



8 - É de 1894 e fala em crescimento muito grande da literatura socialista nos últimos anos. 


9 - Como o leitor há de notar a partir dos dados que seguem, o trabalho de redação foi essencialmente distinto do efetuado no segundo volume. No caso deste terceiro, dispunha­-se apenas de uma primeira versão, ainda por cima repleta de lacunas.


10 - ...Em numerosas passagens, tanto a grafia como a exposição denotam nitidamente a irrupção e os progressos graduais de alguma daquelas enfermidades originadas do excesso de trabalho, que começaram por dificultar cada vez mais o trabalho autônomo do autor, até que, por fim, acabaram impossibilitando­-o completamente a intervalos cada vez menores. 


11 - ...Limitei­-a ao mínimo necessário e, na medida do possível, tentei conservar o caráter da primeira versão, sempre que a clareza o permitia; decidi não suprimir certas repetições quando elas enfocam o objeto sob outro ângulo, como é comum em Marx, ou mesmo o expressam de maneira diferente.


12 - ...A dificuldade principal se deu na seção V, que também trata do assunto mais intricado de todo o livro. (...) Não temos aqui, portanto, uma primeira versão acabada nem sequer um esquema cujos contornos se pudessem completar, mas apenas um começo de elaboração que, em mais de uma oportunidade, desemboca num amontoado caótico de notas, observações e materiais em forma de extratos. Num primeiro momento, tentei completar essa seção, tal como eu havia conseguido em certa medida com a seção I, preenchendo as lacunas e elaborando os fragmentos apenas indicados, de modo a oferecer, ao menos de forma aproximada, tudo aquilo que o autor tivera a intenção de expressarTentei fazer isso pelo menos três vezes, mas fracassei em todas elas, e no tempo perdido com essas tentativas está uma das principais causas de minha demora.


13 - Na verdade, Engels menciona os inúmeros trabalho que ele foi tendo que fazer a cada momento. Exemplo: Com o capítulo 30, sim, começaram as verdadeiras dificuldades. A partir daí era preciso ordenar corretamente não só o material das citações, mas também a sequência das ideias, interrompida a todo momento por orações secundárias, digressões etc., e com frequência continuada de maneira casual, em outro lugar. Assim redigi o capítulo 30, transpondo algumas passagens e excluindo outras, que foram utilizadas alhures. Já o capítulo 31 estava elaborado mais de acordo com o contexto. Então se seguia, no manuscrito, uma longa seção, intitulada “A confusão”, composta somente de extratos dos relatórios parlamentares sobre as crises de 1848 e 1857, nos quais se encontram reunidos os depoimentos de 23 homens de negócios e escritores econômicos, versando especialmente sobre dinheiro e capital, escoamento de ouro, hiperespeculação etc., e que são aqui e ali brevemente glosados de forma humorística


14 - Ao Livro IV – a história da teoria do mais­-valor –, eu me dedicarei assim que me seja de algum modo possível. (Ele morreu um ano depois desse prefácio salvo engano)


15 - Os valores ideais de Marx, determinados pelas unidades de trabalho incorporadas nas mercadorias, não correspondem aos preços, mas “podem ser considerados ponto de partida de um deslocamento que conduz aos verdadeiros preços. Estes são condicionados pelo fato de que capitais de mesma grandeza demandam ganhos de mesma grandeza”.


16 - Trata de W. Lexis que, "de forma desleixada", fez considerações até corretas sobre essa questão acima. A seu modo, chegou a conclusões parecidas mesmo se proclamando um "economista vulgar". 


17 - Engels sobre Lexis: "Ora, não é preciso grande esforço intelectual para compreender que essa explicação “econômico­-vulgar” do lucro do capital desemboca praticamente nos mesmos resultados que a teoria marxiana do mais­-valor; que os trabalhadores, de acordo com a concepção de Lexis, encontram­-se exatamente na mesma “situação desfavorável” que em Marx; que são, exatamente da mesma maneira, os logrados, já que qualquer não trabalhador pode vender acima do preço, ao passo que o trabalhador não pode fazê­-lo; e que, com base nessa teoria, é possível construir um socialismo vulgar ao menos tão plausível quanto o construído aqui na Inglaterra sobre a base da teoria do valor de uso e da utilidade marginal de [William Stanley] Jevons e [Carl] Menger. Sim, suspeito até mesmo que, se essa teoria do lucro fosse do conhecimento do sr. George Bernard Shaw, ele seria capaz de aferrar­-se a ela com ambas as mãos, dar adeus a Jevons e Menger e sobre essa pedra erigir de novo a Igreja Fabiana do futuro."


18 - ...De onde, pois, provêm os recursos necessários para cobrir todos os acréscimos do preço? Do “produto global” dos trabalhadores. E precisamente na medida em que a mercadoria “trabalho”, ou, como diz Marx, a força de trabalho, tem de ser vendida abaixo de seu preço.


19 - Em um trecho, no qual critica as críticas de Fireman, explica o seguinte sobre o método de Marx no livro: Elas (as críticas) se baseiam no equívoco de que Marx quer criar definições no momento mesmo em que argumenta e de que, em geral, seria necessário procurar em Marx definições fixas e prontas, válidas de uma vez por todas. É evidente que, quando as coisas e suas relações recíprocas não são concebidas como fixas, mas como mutáveis, também seus reflexos mentais, os conceitos, estão igualmente submetidos a modificação e renovação; que estes não se encontram enclausurados em definições rígidas, mas desenvolvidos em seu processo de formação histórico ou, a depender do caso, lógico.


20 - Os xingamentos de Engels também são muito bonitos (rs): "Onde quer que se apresente uma oportunidade de cair no ridículo diante de uma questão difícil, lá está o sr. prof. Julius Wolf, de Zurique." (...) ele diz, é verdade, que “aqui, à primeira vista, parece que nos encontramos num ninho de disparates”, o que, diga­-se de passagem, é a única coisa certa em seu artigo inteiro.


21 - Sore materialismo histórico, muito se implica com o termo, mas Engels mesmo usou algo parecido: "...Nele, com uma segurança que deixa entrever um grande objetivo, a concepção materialista da história de Marx se vê falsificada e deformada...". Usa, também, "teoria marxiana da história".


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