Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulo 20

                                           

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulo 20



Pgs. 479-572:



CAPÍTULO 20: "Reprodução simples"


175 - Num trecho, é bem claro sobre como encara o "capital constante": ...o valor de todos os meios de produção empregados para a produção nesse ramo. Tais meios de produção se decompõem, por sua vez, em capital fixo (máquinas, ferramentas de trabalho, edifícios, gado de trabalho etc.), e em capital constante circulante (materiais de produção, como matérias-primas e materiais auxiliares, produtos semifabricados etc.).


176 - Assim como o valor de cada mercadoria individual, também o valor do produto total anual de cada setor se decompõe em c + v + m. (...) A parcela de valor c, que representa o capital constante consumido na produção, não coincide com o valor do capital constante empregado na produção. É verdade que os materiais de produção são inteiramente consumidos e seus valores, plenamente transferidos ao produto. Mas apenas uma parte do capital fixo empregado[h] é inteiramente consumida e tem, assim, seu valor transferido ao produto. Outra parte do capital fixo – máquinas, edifícios etc. – continua a existir e a funcionar do mesmo modo que antes, embora com um valor reduzido pela depreciação anual


177 - Premissa do raciocínio dele sob reprodução simples (toda a mais valia é consumida de forma improdutiva). 



178 - Marx fica descrevendo a, de certa forma óbvia, circulação de valor entre os setores de bens de produção e de consumo. Não sei bem a utilidade, mas segue um exemplo anotado: No setor I, portanto, o capitalista coletivo pagou £1.000 (digo libras esterlinas apenas para indicar que se trata de valor em forma-dinheiro) = 1.000v aos trabalhadores pela parcela de valor do produto I que já existia como parte v, isto é, dos meios de produção por eles produzidos. Com essas £1.000, os trabalhadores compram dos capitalistas II meios de consumo no mesmo valor e, assim, convertem em dinheiro a metade do capital constante II; os capitalistas II, por sua vez, compram do capitalista I, com essas £1.000, meios de produção no valor de 1.000; desse modo, no que diz respeito aos capitalistas I, o valor variável de capital = 1.000v – que existia como parte de seu produto na forma natural de meios de produção – é reconvertido em dinheiro e pode agora, nas mãos dos capitalistas I, funcionar novamente como capital monetário que se converte em força de trabalho, isto é, no elemento mais essencial do capital produtivo. Por essa via, seu capital variável reflui para eles em forma-dinheiro, em decorrência da realização de uma parte de seu capital-mercadoria


179 - ...O resto, a seguir, é uma confusão que me pareceu mais inútil ainda. Salvo engano, nada acrescenta. Todos os cálculos dos valores circulando e tal... Qual o objetivo? Mostrar que circulam entre os setores? Pois disso creio que ninguém discorda.


180 - Pra piorar, as partes mais nítidas - sobre consequências práticas - do capítulos são meio óbvias (talvez hoje em dia. Na época, talvez fosse avançado): Toda crise reduz momentaneamente o consumo de artigos de luxo; retarda, protela a reconversão do (IIb)v em capital monetário, só a tolera parcialmente e, com isso, põe na rua uma parte dos trabalhadores da indústria de artigos de luxo, ao mesmo tempo que, precisamente por isso, dificulta e restringe a venda dos meios de consumo necessários. (...) O inverso ocorre no período de prosperidade e particularmente durante épocas de prosperidade ilusória[o], quando já por outros motivos cai o valor relativo do dinheiro expresso em mercadorias (sem que, de resto, ocorra uma verdadeira revolução do valor) e aumenta, portanto, o preço das mercadorias, independentemente do valor próprio destas últimas. Não só aumenta o consumo de meios de subsistência como a classe trabalhadora (na qual agora se incorpora ativamente seu exército de reserva inteiro) também participa momentaneamente no consumo de artigos de luxo, que, em outras circunstâncias, lhes são inacessíveis, e, além disso, daqueles artigos que normalmente constituem meios de consumo “necessários” apenas para a classe capitalista, o que, por sua vez, provoca um aumento dos preços.


181 - Marx: É pura tautologia dizer que as crises surgem da falta de um consumo solvente, ou da carência de consumidores solventes. O sistema capitalista desconhece outros tipos de consumo que não aquele capaz de pagar, excetuando o consumo sub forma pauperis [próprio dos miseráveis] ou o do “velhaco”. Que as mercadorias sejam invendáveis significa apenas que não foram encontrados compradores solventes para elas e, portanto, consumidores (já que, em última instância, as mercadorias são compradas para o consumo produtivo ou individual). Mas caso se queira dar a essa tautologia a aparência de uma fundamentação profunda, dizendo que a classe trabalhadora recebe uma parte demasiadamente pequena de seu próprio produto, de modo que o mal seria remediado tão logo ela recebesse uma fração maior de tal produto e, por conseguinte, seu salário aumentasse nessa proporção, bastará observar que as crises são sempre preparadas num período em que o salário sobe de maneira geral e a classe trabalhadora obtém realiter [realmente] uma participação maior na parcela do produto anual destinada ao consumo. Já do ponto de vista desses paladinos do entendimento humano saudável e “simples” (!) [p], esses períodos teriam, ao contrário, de eliminar as crises. Parece, pois, que a produção capitalista implica condições independentes da boa ou má vontade, condições que somente de forma momentânea permitem essa prosperidade relativa da classe trabalhadora e, mesmo assim, somente como prenúncio [q] de uma crise [5].


182 - A reprodução simples é essencialmente dirigida para o consumo como sua finalidade, por mais que a obtenção de mais-valor apareça como o motivo que impulsiona os capitalistas individuais; mas o mais-valor, seja qual for sua grandeza proporcional, deve servir aqui, em última instância, apenas para o consumo individual do capitalista.


183 - Engraçado que logo depois aparece um resumo muito mais simples de todo o blablablá anterior insuportável ("c" é o capital constante). Obrigado, Engels:




184 - ...E lá também tem o resto. A circulação desses 1000 aí. No fim, tudo se encaixa. Logo, não sei pra quê tudo isso.


185 - Após, vai redundantemente ficar mostrando que esses valores circulam e circulam... Novamente vale dizer: sabe-se lá o objetivo...


186 - Coloca que a teoria de Smith só é válida neste sentido aqui: É válido apenas no sentido de que II(c + v + m) = II(v + m) + I(v + m) ou porque IIc = I(v + m).


187 - Continuam páginas e páginas de contas e contas que não faço ideia em que acrescentam ou modificam o que já foi tão simplesmente exposto acima. As reflexões parecem oscilar entre o confuso e o óbvio. Se isso é culpa minha? Pode ser. Como sempre não sei. 


188 - O resumo da ópera parece inevitavelmente simples: O valor total do produto social é de 9.000 = 6.000c + 1.500v + 1.500m; em outras palavras, 6.000 reproduzem o valor dos meios de produção e 3.000 o dos meios de consumo. O valor da renda social (v + m) não ultrapassa, pois, ⅓ do valor-produto total, e é somente pelo importe de valor desse ⅓ que a totalidade dos consumidores, tanto trabalhadores como capitalistas, podem retirar do produto total mercadorias, produtos, e incorporá-los ao seu fundo de consumo


189 - Tem em vista a divisão acima, critica pela milésima vez Adam Smith, quem: ... instituiu esse dogma fabuloso, no qual até hoje se acredita, e o fez não só na forma já citada[ag], segundo a qual todo o valor-produto social se decompõe em renda, em salário acrescido de mais-valor, ou, como ele o expressa, em salário mais lucro (juro) mais renda fundiária, mas também na forma ainda mais popular, segundo a qual os consumidores têm de pagar aos produtores, em última instância (ultimately), o valor-produto integral.


190 - A frase segundo a qual o valor-produto anual tem, em última instância, de ser pago pelos consumidores só estaria correta se entre os consumidores se encontrassem dois tipos absolutamente distintos: consumidores individuais e consumidores produtivos. Mas que uma parte do produto tenha de ser consumida produtivamente não significa mais que o fato de que essa parte tem de funcionar como capital e que não pode ser consumida como renda.


191 - Alguns conceitos mais confundem que explicam. Parece que ele está gastando cem páginas pra dizer simplesmente que fluxo anual não é estoque de capital. ..."O valor novo produzido durante o ano está incluído apenas em v e m. A soma do produto de valor desse ano é, pois, igual à soma de v + m, isto é, = 2.000 I(v + m) + 1.000 II(v + m) = 3.000" (em relação aos 9000 de valor total... valor-produto ou sei lá como ele chama)


192 - Depois disso ele vai, como sempre, voltar a entrar na circulação dos capitais por alguma página, repetindo pela sei lá qual vez tudo que já explicou antes.


193 - Volta a trazer coisas que, a meu ver, já estavam implícitas em tudo quanto exposto anteriormente. Exemplo: No que se refere ao setor IIb, que produz artigos de luxo, ocorre com v – (IIb)v – o mesmo que com Iv. O dinheiro que renova em forma-dinheiro o capital variável dos capitalistas IIb reflui para eles por um desvio, passando pelas mãos dos capitalistas IIa.


194 - Algumas partes são tão confusamente expostas no meio desse capítulo que não consigo vislumbrar nem que problema concreto ele está colocando, se é que há algum. Por exemplo, levou bem umas dez páginas para chegar nessa conclusão simples (então era apenas isso o problema?): a depreciação de capital fixo vai em ritmo diferente para cada capitalista, o que permite que dinheiro adicional vá sempre circulando aqui e ali: "Se pressupomos, portanto, que metade das £400 que a classe capitalista II lança na circulação para o intercâmbio com I provém dos capitalistas em II, que têm não apenas de renovar in natura, mediante suas mercadorias, seus meios de produção pertencentes ao capital circulante, mas também, mediante seu dinheiro, seu capital fixo, enquanto a outra metade dos capitalistas II só repõe in natura, com seu dinheiro, a parte circulante de seu capital constante, mas não seu capital fixo in natura, não há então absolutamente nada de contraditório no fato de que as £400 que refluem (tão logo I compra, com elas, meios de consumo) se distribuem diferentemente entre esses dois setores de II. Eles refluem para a classe II, mas não para as mesmas mãos; distribuem-se de diferente maneira entre esses dois setores de II". (...) Uma parte de II volta a possuir seu valor fixo de capital em sua forma natural renovada; a outra parte ainda se ocupa em acumulá-lo em forma-dinheiro, para mais tarde repor seu capital fixo in natura.


195 - A parte seguinte traz outras confusões, essas não sei com qual objetivo.


196 - Um dos trechos mostra porque o sistema capitalista precisa de certa flexibilidade que nem sempre ocorrerá (e tome possíveis crises!): Uma vez suprimida a forma capitalista da reprodução, a questão se reduz ao fato de que a grandeza da parte já morta do capital fixo, a qual é preciso, portanto, repor in natura (nesse caso, a parte que opera na produção dos meios de consumo), varia de um ano para o outro. Se é muito grande num ano (se excede a mortalidade média, como no caso dos homens), no ano seguinte ela é, decerto, ainda menor. Mantendo-se constantes as demais circunstâncias, a massa necessária de matérias-primas, produtos semielaborados e materiais auxiliares para a reprodução anual de meios de consumo não diminui; a produção total de meios de produção terá, pois, de aumentar num caso, decrescer no outro. Isso só pode ser remediado por uma contínua superprodução relativa: de um lado, certa quantidade de capital fixo, da qual se produza mais do que o imediatamente necessário; de outro, e principalmente, um estoque de matérias-primas etc. que exceda as necessidades anuais imediatas (isso vale particularmente para o caso dos meios de subsistência). Esse tipo de superprodução é igual ao controle da sociedade sobre os meios objetivos de sua própria reprodução. No âmbito da sociedade capitalista, no entanto, ele é um elemento anárquico.


197 - A parte do ouro é mais uma nova confusão - digo sempre não no sentido de "errada" - enfadonha e talvez datada. Li por ler. E a parte seguinte a esta é sobre conceitos que nada me dizem e falsos problemas monetários, ao que entendi. Ou, no mínimo, desatualizados. 


198 - Algumas críticas que Marx faz realmente mostram o quão atrasado estava o pensamento econômico na época, como na ideia de que o lucro ordinário vem de "vender mais caro que o valor do custo". Só se for lucro contábil relativo a preços. A discussão toda com Destutt de Tracy é num nível baixo. Os erros deste são claros hoje em dia. 


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