Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 14 e 15
Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 14 e 15
Pgs. 333-342:
CAPÍTULO 14: "O tempo de curso"
113 - O tempo de rotação do capital é igual à soma de seu tempo de produção e de seu tempo de curso ou de circulação. (...) Uma fração do tempo de curso – a mais importante relativamente – é formada pelo tempo de venda, isto é, pelo período em que o capital se encontra em estado de capital-mercadoria.
114 - Todos os ramos de produção que, pela natureza de seu produto, orientam-se principalmente ao mercado local, como as cervejarias, desenvolvem-se em sua máxima dimensão em grandes centros populacionais. A rotação mais rápida do capital compensa aqui, em parte, o encarecimento de muitas condições da produção, dos terrenos onde se erguem as fábricas etc. (Que Marx sabe a importância da circulação, sabe, mas só vê a produção direta - mão na massa - como geradora de valor. E a indústria de transportes, pelo que entendi até aqui).
115 - Isto aqui talvez fosse bem mais comum antigamente. Hoje em dia nem sei bem o impacto: ...o prolongamento do tempo provocado pela distância do mercado – tempo no qual o capital se desloca na forma de capital-mercadoria – provoca diretamente um retorno atrasado do dinheiro e, portanto, também atrasa a transformação do capital de capital monetário em capital produtivo.
116 - ...Além disso, vimos anteriormente (cap. 6) como, no que diz respeito à aquisição de mercadorias, o tempo de compra, a maior ou menor distância em relação às principais fontes de abastecimento de matéria-prima, torna necessário adquirir essa matéria-prima para períodos mais longos e mantê-las sempre prontas para uso na forma de estoque produtivo, ou seja, de capital produtivo latente ou potencial; que, portanto, essa distância, mantendo-se inalterada a escala da produção, aumenta tanto a massa do capital que precisa ser adiantada de uma só vez como o tempo pelo qual ela tem de ser adiantada.
117 - Marx cita um escrito que ressalta a importância do capital na agricultura capitalista: ...Quem quer que, por destreza e sorte (!), esteja provido de suficiente capital de giro não será repreendido se mantiver sua colheita armazenada durante um ano, quando os preços estiverem inabitualmente baixos; em contrapartida, alguém que careça de capital de giro ou seja totalmente desprovido (!) de espírito especulativo tentará obter os preços médios correntes e terá de vender tão logo e sempre que se lhe apresente a oportunidade para tanto.
118 - ...O dinheiro reflui, conforme a rotação do capital, com maior ou menor velocidade, porém sempre de forma fracionada. Uma parte dele, a saber, a parte reconvertida em salários, volta a ser gasta com a mesma constância, em intervalos relativamente curtos. Mas outra parte, aquela que se reconverte em matéria-prima etc., deve acumular-se por períodos mais longos, como fundo de reserva, seja para compras, seja para pagamentos.
Pgs. 343-380
CAPÍTULO 15: "Efeito do tempo de rotação sobre a grandeza do adiantamento de capital"
119 - Começa trabalhando com um exemplo/hipótese: ...O tempo periódico de produção, que aqui coincide com o período de trabalho, é, portanto, de nove semanas. Nesse caso, é indiferente se aqui supomos um período de trabalho para um produto contínuo ou um período contínuo de trabalho para um produto discreto, desde que a quantidade de produto discreto levada de uma só vez ao mercado custe nove semanas de trabalho. Digamos que o tempo de curso dure três semanas, e que o período inteiro de rotação seja, portanto, de doze semanas.
120 - Para esse descompasso, propõe soluções. Em vez de desembolsar 100 dinheiros semanais, usa apenas 75 e inicia o segundo período de trabalho já em "outubro". Ninguém quer ficar parado: A primeira consiste em reduzir a escala da produção, de modo que £900 bastem para manter o trabalho em operação, tanto durante o período de trabalho como durante o tempo de curso da primeira rotação. Com a 10ª semana inaugura-se, então, um segundo período de trabalho e, portanto, também um período de rotação, antes que o primeiro período de rotação esteja concluído, pois o período de rotação é de doze semanas, e o período de trabalho é de nove semanas. £900, distribuídas por doze semanas, são £75 semanais.
121 - ...Só que ele mesmo já vê logo um problema: é questionável se essa redução pode ocorrer em geral, pois em cada negócio existe, na proporção do desenvolvimento de sua produção, um mínimo normal de investimento de capital abaixo do qual o negócio individual perde sua competitividade. ... Mas entre o normal mínimo dado em cada caso e o normal máximo em constante ampliação encontram-se inúmeros graus intermediários – uma zona média que admite graus muito distintos de investimento de capital.
122 - Na outra solução, um capital líquido adicional de 300 dinheiros resolveria a situação sem precisar de redução de escala da produção. O "porém" é que o capital adiantado seria maior.
123 - Noutro exemplo, o tempo de curso é tão demorado quanto o período de trabalho - cinco semanas para ambos -, o que levará a seguinte situação: ...Ao término do ano, o produto do 10º período de trabalho (46ª-50ª semana de trabalho) terá completado apenas a metade de seu tempo de rotação, uma vez que seu tempo de curso se realizará nas primeiras cinco semanas do ano seguinte. Sem o capital adiantado líquido, daria uma grande merda, pois a produção teria sempre que esperar o fim da rotação, pelo longo tempo de curso (igual ao de trabalho!). A produção total, ao final, seria metade do que pode ser. Em outras palavras: Se, ao contrário, o capital de £500 fosse regularmente paralisado em sua atividade produtiva pelo tempo de curso de cinco semanas, de modo que ele só voltasse a estar apto à produção depois de concluído o período de rotação de dez semanas, nas cinquenta semanas do ano teríamos, então, cinco rotações de dez semanas cada uma, rotações que compreenderiam cinco períodos de produção de cinco semanas cada um, ou seja, um total de 25 semanas de produção com um produto total de 5 × 500 = £2.500. (...) Se dizemos que o capital de £500 efetuou cinco rotações no ano, é patente que, durante a metade de cada período de rotação, esse capital de £500 não funcionou em absoluto como capital produtivo e que, no fim das contas, ele só funcionou durante uma metade do ano, mas de modo algum durante a outra metade.
124 - A moral da história é: já no segundo período de trabalho a coisa já tende a se entrecruzar e andar numa "proporção fixa" digamos assim. Haverá sempre um valor a mais em capital-mercadoria, a depender da proporção de capital adicional líquido necessário. Inclusive, mais à frente, concluirá nesse mesmo sentido com outras palavras: O capital adicional tem a única finalidade de preencher as lacunas que o tempo de curso faz surgir no processo de trabalho; portanto, ele deve proteger a produção apenas daquelas perturbações que têm origem no tempo de curso; as perturbações surgidas das próprias condições da produção devem ser compensadas de outro modo, que não examinaremos aqui.
125 - (Não sei bem a importância material de tudo que ele vem explicando, mas enfim... Estou anotando bastante, via das dúvidas).
126 - Consequências do tempo de curso: "Uma parte só pode funcionar como capital produtivo sob a condição de que outra parte se mantenha, na forma de capital-mercadoria ou capital monetário, à margem da produção propriamente dita."
127 - Sobre o exemplo acima - do ponto 123 - criou uma tabela (mas com outros valores de premissa: "Supomos que o montante de capital a ser semanalmente adiantado é, em todos os casos, de £100, e que o período de rotação é de nove semanas, de modo que o capital a ser adiantado para cada período de rotação é = £900":
128 - Passo seguinte, aparece com um monte de conta chata - ainda que simples - que, salvo engano, nada acrescenta às considerações anteriores. Já estava explicado ali.
129 - O segundo exemplo dele tem uma proporção de diferente entre tempo de curso e de trabalho: "Digamos que o período de trabalho dure seis semanas e que, portanto, requeira um adiantamento (capital I) de £600 a cada vez. O período de circulação, três semanas; assim, o período de rotação durará, como no caso aqui descrito, nove semanas. Suponhamos que um capital II de £300 entre em funcionamento durante o período de circulação de três semanas do capital I. Se considerarmos ambos como capitais independentes um do outro, o esquema da rotação anual se apresentará da seguinte maneira:"
130 - (No fim das contas, não sei bem o objetivo final de tanto demonstração de rotação...)
131 - Dá outro exemplo do mesmo tipo para concluir o seguinte (também nada demais): Disso resulta, portanto, que no caso em questão, em que o período de trabalho é suposto como maior que o período de curso, encontra-se sempre disponível, ao final de cada período de trabalho e sob quaisquer circunstâncias, um capital monetário da mesma grandeza que o capital II adiantado para o período de circulação. Em nossos três exemplos, o valor do capital II era, respectivamente, de £300, £400 e £200; consequentemente, o capital liberado ao término do período de trabalho era, respectivamente, £300, £400 e £200.
132 - No último tipo de hipótese, o tempo de curso é o dobro do de trabalho. Até coloca uma tabela, mas é meio que desnecessária para a conclusão: Temos, aqui, a contrapartida exata do caso I, com a única diferença de que agora são três os capitais que se alternam, em vez de dois. Não ocorre um entrecruzamento ou entrelaçamento dos capitais; cada um deles pode ser seguido separadamente até o término do ano. Tal como no caso I, portanto, nenhum capital é aqui liberado ao término de um período de trabalho. O capital I está inteiramente desembolsado no fim da terceira semana, refluindo ao término da 9ª e voltando a entrar em funcionamento no início da 10ª. Algo semelhante ocorre com os capitais II e III. A alternância regular e completa exclui toda liberação de capital. O capital líquido adicional é obviamente o dobro. O cálculo final da rotação dos "três" capitais fica assim:
133 - Em mais um exemplo do mesmo tipo, indaga-se sobre o seguinte: Tomemos agora um exemplo em que o período de curso não seja um múltiplo exato do período de trabalho; digamos que o período de trabalho seja quatro semanas e o período de curso, cinco semanas, de modo que os importes de capital correspondentes seriam: capital I = £400, capital II = £400, capital III = £100.
134 - ...A conclusão é que os cem dinheiros irão ficar reaparecendo sempre pra salvar a pátria. Aqui se nota um entrelaçamento de capitais, uma vez que o período de trabalho do capital III, que não possui qualquer período de trabalho independente pelo fato de só bastar para uma semana, coincide com a primeira semana de trabalho do capital I. (...)
135 - Obs.: Em toda esta seção, analisamos apenas as rotações do capital circulante, não as do capital fixo. E isso pela simples razão de que o ponto aqui tratado não tem nada a ver com o capital fixo. Os meios de trabalho etc. empregados no processo de produção só constituem capital fixo na medida em que seu tempo de uso dura mais do que o período de rotação do capital líquido;...
136 - Em resumo, as conclusões mais notáveis são estas (seja lá a grande importância delas): "As diversas porções em que o capital tem de ser dividido – para que uma parte dele possa se encontrar constantemente no período de trabalho, enquanto outras partes se encontram no período de circulação – se alternam, como se fossem capitais privados distintos e autônomos, em dois casos: 1) Quando o período de trabalho é igual ao período de circulação e, portanto, o período de rotação é divido em duas seções iguais. 2) Quando o período de circulação é mais longo que o período de trabalho, porém constitui, ao mesmo tempo, um múltiplo simples deste último, de modo que um período de circulação = n períodos de trabalho, em que n tem de ser necessariamente um número inteiro. Nesses casos, não é liberada nenhuma parte do capital sucessivamente adiantado. (...) Ao contrário, em todos os casos em que 1) o período de circulação é maior que o de trabalho, porém sem formar um múltiplo simples deste último, e 2) o período de trabalho é maior que o de circulação, uma parte do capital líquido será liberada, de maneira constante e periódica, ao término de cada período de trabalho. E precisamente este capital liberado é igual à parte do capital total adiantada para o período de circulação, quando o período de trabalho é maior que o de circulação, e igual à parte de capital que deve cobrir o excedente do período de circulação sobre um período de trabalho ou a um múltiplo de períodos de trabalho, quando o período de circulação é maior que o de trabalho."
137 - ...E disso tudo ele conclui que a liberação parcial de capital ao fim de cada período é a regra, pois seria muita coincidência não ser (quando é múltiplo exato ou partes iguais). Portanto, durante o ciclo anual de rotação, uma parte muito considerável do capital circulante social, que efetua várias rotações por ano, existirá periodicamente sob a forma de capital liberado.
138 - As reflexões seguintes a isso são meio óbvias. Nem anotei. A conclusão é: ...o capital liberado na forma de capital monetário tem no mínimo de ser igual à parte variável de capital, desembolsada em salário, e pode no máximo englobar a totalidade do capital liberado. Na realidade, ele oscila constantemente entre esse mínimo e esse máximo. A parte de "material de trabalho" é responsável por essa variação, geralmente especulando boas condições de preço, ou seja, mantendo nível de estoque maiores ou menores.
139 - Após, passa a analisar outras flutuações, como a diminuição provisória do tempo de curso por um mercado "aquecido", o que reduz a demanda por capital monetário (empréstimos), tendo em vista uma maior liberação de capital. Enfim, se não for reinvestido em aumento de escala, o capital monetário pode é ter sobreoferta. Se o tempo de curso surpreende, porém, para cima, só o mercado de crédito pode salvar a não-interrupção da produção. Se o prolongamento do período de circulação vale para um ou vários grandes ramos de negócios, ele pode exercer, por conseguinte, uma pressão sobre o mercado monetário, desde que essa ação não seja contra-arrestada por uma reação do lado oposto.
140 - Engels faz umas observações de mais de uma página dizendo que Marx atribuiu importância demais a toda essa questão, mas que, no fundamental, ele demonstrou o que era necessário demonstrar. Tou resumindo.
141 - Em um dos trechos, fica claro que valor e preço não se confundem em Marx: Se o valor – ou, a depender do caso, o preço – dos elementos do capital produtivo caísse pela metade, o primeiro efeito disso seria que, para que o negócio X continuasse a funcionar na mesma escala de antes, seria preciso adiantar um valor de capital reduzido pela metade, ou seja, que apenas a metade de dinheiro teria de ser lançada no mercado pelo negócio X, já que este último adianta esse valor de capital inicialmente na forma de dinheiro, isto é, como capital monetário.
142 - Com a queda pela metade do valor - ou então o preço - das matérias primas, por exemplo, a pessoa pode duplicar o investimento inicial a retorno constante de escala ou simplesmente liberar essa "metade nova" do capital para o "mercado monetário".
143 - No caso reverso, aumento do preço da matéria-prima, o mercado monetário seria é pressionado/demandado. Quem tivesse caixa, usaria. "Se uma parte desse capital estivesse inativa, ela seria ativada pro tanto".
144 - Preço e valor no esquema de Marx. Supõe uma queda de mercado do preço da mercadoria vendida: ..."Caindo o preço das mercadorias fornecidas pelo negócio X, o mesmo ocorrerá com o preço de seu capital-mercadoria, que ele lança constantemente em circulação, de £600 para, digamos, £500. Portanto, ⅙ do valor do capital adiantado não refluirá do processo de circulação (não se considera aqui o mais-valor encerrado no capital-mercadoria); ele é perdido nesse processo." (...) Para manter a produção na mesma escala, seria necessário um capital monetário adicional de £100. Após esse raciocínio tranquilo, ele faz uma problematização confusa que não pude ver de onde veio nem pra onde foi, mas que, na conclusão que ele mesmo fez, nada pareceu acrescentar... (Ou seja, parece a tradicional complicação de algo simples...). A diferença é apenas a demonstração que redução firme de tempo de curso libera parcialmente mais capital para servir de capital monetário ou até mesmo produtivo a depender de alguma escala possível. Enfim, algo intuitivo até.
145 - ...Depois, ele trabalha alguns exemplos que, a meu ver, também nada acrescentam em termos de novidade ao que já tinha explicado.
146 - Notas de crédito não fazem parte do que Marx chama de mercado monetário. Vê-se isso quando ele explica que o dinheiro - mercado monetário - só é essencial mesmo para a parte do circulante relacionada aos salários: Para a parte que deve ser investida em materiais de produção, isso só é indispensável quando o capitalista tem de pagá-la à vista. Se pode obtê-la a crédito, não exerce qualquer influência sobre o mercado monetário, já que o capital adicional é, então, adiantado diretamente como estoque produtivo e não, em primeira instância, como capital monetário.
147 - Aqui, nada de novo ou importante, mas explicita o que está implícito em toda a correta interpretação dos dois livros até aqui: "Terceiro caso: variação no preço de mercado do próprio produto.": "Nesse caso, a queda do preço significa a perda de uma parte do capital, que tem de ser reposto mediante um novo adiantamento de capital monetário. Essa perda do vendedor pode ser um ganho para o comprador. Diretamente, se o preço de mercado do produto cai apenas devido a conjunturas acidentais e, posteriormente, volta a subir até atingir seu preço normal. Indiretamente, se a variação no preço é causada por uma variação de valor, que reage sobre o velho produto, e se esse produto reingressa como elemento de produção numa outra esfera da produção, nela liberando capital pro tanto".
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