Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 10, 11, 12 e 13

                                       

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 10, 11, 12 e 13


Pgs. 267-294:


CAPÍTULO 10: "Teorias sobre o capital fixo e o capital circulante. Os fisiocratas e Adam Smith"


91 - (Vamos lá ler isso, mas se eu já não estava achando interessante/importante o raciocínio de Marx sobre o assunto, que dirá o de Smith)


92 - No início, basicamente reclama, ao que entendi de tão desinteressante debate, que Adam Smith vê capital circulante até em capital comercial. (Se for só isso, estou com Smith aqui, pois também não vejo motivo para não ver). Marx afirma, por exemplo: O que não se vislumbra absolutamente é como pode resultar um lucro da mudança de forma de dinheiro e mercadoria, da mera metamorfose do valor de uma dessas formas na outra. (A meu ver, o que não se vislumbra é que não se possa vislumbrar lucro em qualquer atividade que envolva trabalho humano. Não sei o que Marx pretendeu nessa frase...).


93 - Sobre a distinção fixo/circulante de Smith, de fato parece haver algumas coisas esquisitas e contraditórias no pouquíssimo que consegui me interessar durante a leitura. Porém, também não sei dizer se os recortes de Marx não estariam descontextualizados, sem uma devida interpretação sistemáticas. Isso porque não li Smith (e, em princípio, nem pretendo, salvo se alguma questão realmente prática pedir). Enfim, aparentemente nenhum dos dois me agradou nessa pouco relevante polêmica.


94 - Algumas críticas que Smith recebeu neste capítulo são tão óbvias que fico me perguntando se ele não foi mal interpretado. É claro que um objeto pode funcionar como capital fixo ou circulante a depender de cada situação. "Boi matéria prima" e "boi instrumento de trabalho"...


95 - ...Mais à frente, há outra "polêmica" que também não sei até que ponto transcende mesmo a mera questão de esquemática conceitual (por mais que tudo a seguir me pareça correto): O fio não pode voltar a funcionar como componente de seu capital produtivo, seja como material de trabalho, seja como meio de trabalho. Mas nas mãos do tecelão que o compra, ele é incorporado a seu capital produtivo como um de seus componentes líquidos. Para o fiandeiro, porém, o fio é o suporte do valor de uma parte tanto de seu capital fixo como de seu capital líquido (abstraindo do mais-valor). Assim, uma máquina, como produto do fabricante de maquinaria, é a forma-mercadoria de seu capital; ela é, para ele, capital-mercadoria e, enquanto permanece sob essa forma, não é capital líquido nem fixo. Se é vendida a um fabricante que a emprega, ela se converte em elemento fixo de um capital produtivo. Mesmo quando o produto, segundo sua forma útil, pode voltar a ser integrado como meio de produção no processo do qual saiu, como ocorre, por exemplo, com o carvão na produção carbonífera, a parte do produto destinada precisamente à venda não representa capital fixo nem circulante, mas simplesmente capital-mercadoria. (Ok, mas se um comerciante organiza a venda, é como se fosse o "capital fixo/circulante" dele. Na prática, qual a importância de toda essa distinção? A pergunta que nunca quer calar faz bem umas cinquenta páginas ou mais)


96 - ...De toda forma, Marx insistirá: ...Na produção capitalista, ocorre ainda que, com a venda da mercadoria, também se realiza o mais-valor nela incluído. O produto sai do processo de produção como mercadoria, e não é, portanto, nem um elemento fixo, nem um elemento líquido daquele.


97 - Este trecho parece ilustrar bem a diferenciação entre o "esquema conceitual" de Marx e o de Smith. Marx diz: Ao contrário, os produtos vinculados ao solo e que, portanto, só podem ser utilizados numa determinada localidade – por exemplo, edifícios fabris, ferrovias, pontes, túneis, docas etc., melhoramentos do solo etc. – não podem ser exportados corporalmente, em carne e osso. Não são móveis. Ou são inúteis ou tão logo sejam vendidos precisam de funcionar como capital fixo no país em que são produzidos. Para o seu produtor capitalista, que especula com a construção de fábricas ou melhorias do solo para depois vendê-los, essas coisas são a forma de seu capital-mercadoria, ou seja, segundo A. Smith, a forma do capital circulante. Porém, consideradas socialmente, essas coisas – se não são inúteis – têm de acabar funcionando no próprio país, como capital fixo, num processo de produção fixado por sua própria localidade; do que não se segue, de modo algum, que coisas imóveis sejam, como tais, capital fixo, pois elas podem, como ocorre com as moradias etc., fazer parte do fundo de consumo e, portanto, não pertencer em absoluto ao capital social, ainda que sejam um elemento da riqueza social, de que o capital é apenas uma parte. O produtor dessas coisas, para nos expressarmos em termos smithianos, obtém um lucro com sua venda. Elas são, pois, capital circulante! Aquele que as emprega de um modo útil, seu comprador definitivo, só pode utilizá-las quando as emprega no processo de produção. São, portanto, capital fixo!


98 - E este trecho aqui é interessante no sentido de dar uma ideia de como pensam os fisiocratas: Isso se relaciona diretamente com sua doutrina específica. A parte de valor que o trabalho acrescenta ao produto (exatamente como a parte de valor que acrescentam ao produto as matérias-primas, os instrumentos de trabalho etc., em suma, os componentes materiais do capital constante) é, para os fisiocratas, igual ao valor dos meios de subsistência fornecidos aos trabalhadores e que estes têm necessariamente de consumir para conservar sua função como força de trabalho. Descobrir a diferença entre o capital constante e o capital variável lhes é vedado por sua própria doutrina. Se é o trabalho que produz o mais-valor (além da reprodução de seu próprio preço), ele o faz tanto na indústria como na agricultura. Mas como, de acordo com o sistema fisiocrata, ele só o produz num ramo de produção, na agricultura, conclui-se que o mais-valor deriva não do trabalho, mas da ação (colaboração) especial da natureza nesse ramo determinado. E é apenas por isso que os fisiocratas chamam o trabalho agrícola de trabalho produtivo, em contraste com os demais tipos de trabalho.



Pgs. 295-308:


CAPÍTULO 11: "Teorias sobre o capital fixo e o capital circulante. Ricardo"


99 - (Imagino que seja tão chato quanto o anterior, mas vamos lá). Ricardo meio que parece confundir fixo com constante e circulante com variável. Marx obviamente critica e defende sua classificação, a qual, assim de fora - tendo em vista meu desinteresse na questão -, realmente me parece menos problemática.


100 - Sobre salários, critica a ideia simples de que o capitalista adianta ao trabalhador a realização/venda da produção: ...Mas como ele paga depois de o trabalho ter durado dias, semanas, meses, em vez de comprá-lo e de pagar pelo período que ele deve durar, então isso tudo não é mais do que um quiproquó capitalista, e o adiantamento que o trabalhador dá ao capitalista em trabalho converte-se num adiantamento que o capitalista dá ao trabalhador em dinheiro. E a questão não se altera em nada pelo fato de que o capitalista só recupere da circulação ou só realize o produto mesmo ou seu valor – segundo a duração necessária para sua produção ou para sua circulação – em prazos de maior ou menor duração (com o mais-valor nele incorporado).


101 - Volta a criticar Ricardo e toda a economia burguesa aqui: ...Esses economistas já não distinguem a parte do capital investida em salários daquela investida em matérias-primas e só estabelecem uma diferença formal – segundo ele circule fragmentária ou integralmente através do produto – entre ela e o capital constante. Elogia (volta a elogiar), nesse aspecto, os fisiocratas: "...Nos fisiocratas, não encontramos o mínimo sinal dessa confusão".


102 - Não é, portanto, a natureza física material, seu maior ou menor grau de perecibilidade, o que faz com que o mesmo metal seja classificado ora como capital fixo, ora como capital circulante. 


103 - (Enfim... mais um capítulo no qual não vi significativa relevância, mesmo sabendo/identificando os argumentos em contrário).



Pgs. 309-320:


CAPÍTULO 12: "O período de trabalho"


104 - Basicamente é sobre a diferença no tempo de rotação? Além disso, para afastar todas as circunstâncias que têm origem no processo de circulação e são externas a esse caso, suponhamos que ambos, o fio e a locomotiva, sejam fabricados sob encomenda e pagos no momento do produto acabado. Após uma semana, na entrega do fio pronto, o fabricante de fios recebe de volta (desconsideramos, aqui, o mais-valor) o capital circulante investido, bem como a depreciação do capital fixo, a qual se incorporou no valor do fio. Ele pode, assim, repetir o mesmo ciclo com o mesmo capital. Este completou sua rotação. Já o fabricante de locomotivas, ao contrário, tem de desembolsar sempre capital novo em salário e matéria-prima durante os três meses, semana após semana, e é somente ao fim de três meses, depois de entregar a locomotiva, que o capital circulante desembolsado pouco a pouco durante esse tempo num único e mesmo ato de produção e para fabricar uma única e mesma mercadoria volta a encontrar-se numa forma na qual pode reiniciar seu ciclo; do mesmo modo, só agora lhe é reposto o desgaste da maquinaria durante esses três meses. O desembolso de um é por uma semana; o do outro é o desembolso semanal, multiplicado por doze. Mantendo-se inalteradas as demais circunstâncias, um fabricante tem de dispor de doze vezes mais capital circulante do que o outro. (...) Que os capitais semanalmente adiantados sejam iguais é aqui, porém, uma circunstância irrelevante. Qualquer que seja a grandeza do capital adiantado, num caso ele o é apenas por uma semana e, no outro, por doze semanas, antes que se possa operar novamente com ele, repetir com ele a mesma operação ou começar uma de outro tipo.


105 - Criou mais um "conceito": A uma tal jornada de trabalho, formada pela sucessão de um número maior ou menor de jornadas de trabalho conexas, denomino período de trabalho. Jornada para fornecer um produto acabado. (...) Durante todo o período de trabalho vai-se acumulando, em camadas, a parte de valor que o capital fixo transfere diariamente ao produto até este atingir sua forma acabada.


106 - Coloca uma tensão extra nas greves em indústrias de produtos com longos períodos de trabalho: O que se interrompe aqui não é só o trabalho, mas um ato interconexo de produção. Se a obra não for levada adiante, os meios de produção e o trabalho já consumido em sua produção foram gastos inutilmente.


107 - Nas fases menos desenvolvidas da produção capitalista, os empreendimentos que necessitam de um período de trabalho prolongado e, portanto, de um grande investimento de capital por um período mais longo, especialmente se só podem ser executados em grande escala, ou não são em absoluto executados de modo capitalista, como é o caso, por exemplo, de estradas, canais etc., construídos à custa da comunidade ou do Estado (em tempos antigos, com relação à força de trabalho, mediante trabalho forçado), ou, então, esses produtos cuja fabricação requer um período mais longo de trabalho só são fabricados numa quantidade ínfima e custeados pelo próprio patrimônio do capitalista.


108 - A redução dos períodos de trabalho geralmente seguirá esta lógica aqui: ...No entanto, esses aperfeiçoamentos, que encurtam o período de trabalho e, por conseguinte, o tempo pelo qual o capital circulante tem de ser adiantado, estão geralmente vinculados a um desembolso aumentado de capital fixo. Ou pela ampliação da cooperação, complementa o próprio Marx.


109 - Cita um escrito em que consta o seguinte sobre a produção na Índia: "Enquanto o camponês morre de fome, seu gado prospera. ...Os preceitos da superstição mostram-se cruéis para com o indivíduo, mas conservam a sociedade; a conservação do gado de trabalho assegura a continuidade da agricultura e, com ela, as fontes de subsistência e riqueza futura. Pode soar duro e triste, mas é assim: na Índia, é mais fácil repor um homem do que um boi". Não sacrificam o capital fixo nem quando o circulante é urgente. 



Pgs. 321-332:


CAPÍTULO 13: "O tempo de produção"


110 - Ao que entendi, trata essencialmente dessa diferença aqui (a qual exemplificou com a "silvicultura"): ...Em todos esses casos, o tempo de produção do capital adiantado consiste em dois períodos: um período em que o capital encontra-se no processo de trabalho e outro em que sua forma de existência – como produto inacabado – permanece fora do processo de trabalho, deixada à ação de processos naturais. Que esses dois períodos se entrecruzem e se empurrem reciprocamente não altera em nada a questãoAqui, o período de trabalho e o período de produção não coincidem. O de produção é mais longo. 


111 - Sobre a silvicultura: O longo tempo de produção (que inclui um tempo relativamente curto de trabalho) e, por conseguinte, a longa duração de seus períodos de rotação, tornam a silvicultura um ramo de negócios desfavorável à empresa privada e, portanto, capitalista, sendo esta última, essencialmente, empresa privada, mesmo quando o capitalista associado assume o lugar do capitalista individual. O desenvolvimento da civilização e da indústria em geral mostrou-se sempre tão enérgico na destruição de florestas que tudo o que esse mesmo desenvolvimento tem feito para a conservação e a produção de árvores é absolutamente insignificante.


112 - (Enfim, mais um capítulo pra lá de tedioso...)


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