Livro: Varian, Hal - Microeconomia (2015) - Parte XXXII
Livro: Varian, Hal - Microeconomia (2015) - Parte XXXII
Pgs. 1070-1100:
CAPÍTULO 38: "Informação assimétrica"
913 - Premissa do problema: se a informação sobre a qualidade tiver um alto custo para ser obtida, então não será mais plausível que compradores e vendedores tenham as mesmas informações sobre os bens comercializados.
914 - Apresenta o conhecido problema do mercado de carros usados. Os "limões" de Akerlof. Por sinal, ele explicou melhor até do que li nos outros livros (mesmo dando para entender neles), o que mostra que Varian podia explicar tudo de forma bem simples e concreta se quisesse rs. Por exemplo: "...O proprietário de um carro ruim está disposto a desfazer-se dele por US$1.000 e o proprietário de um carro bom está disposto a desfazer-se dele por US$2.000. Os compradores de automóveis estão propensos a pagar US$2.400 por um carro bom e US$1.200 por um carro ruim. (...) Se fosse fácil observar a qualidade dos automóveis, não haveria problemas nesse mercado. Os carros ruins seriam vendidos por um preço entre US$1.000 e US$1.200, enquanto os carros bons seriam vendidos por um preço entre US$2.000 e US$2.400." Simula que o comprador calcule a probabilidade de 1/2 de o carro ser bom e 1/2 de ser ruim. Oferece, portanto, US$ 1.800. Resultado: Vai atrair especialmente o vendedor de carro ruim. ... Decorrência seguinte...: "compradores esperariam (corretamente) obter um carro ruim".
915 - Conclusão de Varian: é uma externalidade que cria falha de mercado.
916 - Consumidores dispostos a pagar até 14 dólares num guarda-chuva bom, mas só 8 dólares em um ruim. Se o custo de fabricação for de 11,50 dólares, a "qualidade média" tem que justificar esse preço. Quando o consumidor compra, pensa na probabilidade/risco, digamos assim. Dessa forma, 7/12 dos ofertantes terá que ser de alta qualidade. No mínimo Nesse mercado, o preço de equilíbrio é de US$11,50, mas o valor do guarda-chuva médio para o consumidor pode ser qualquer valor entre US$11,50 e US$14, dependendo da fração de produtores de alta qualidade. Qualquer valor de q entre 1 e 7/12 será um equilíbrio. (...) Os produtores obtêm um excedente do produtor igual a zero em todos os equilíbrios graças aos pressupostos de competição pura e de custo marginal constante; portanto, só temos de examinar o excedente do consumidor. Nesse caso, é fácil verificar que, quanto maior for a qualidade média, melhor estarão os consumidores.
917 - Após, Varian passa a supor que o custo de fabricação do ruim é só onze dólares. Nesse caso, todo produtor, no mercado competitivo, vai querer produzir o de baixa qualidade para aumentar o lucro. Afinal, não dá para o consumidor diferenciar. ... Como, porém, os consumidores só estão dispostos a pagar US$8 por um guarda-chuva de baixa qualidade, não haverá equilíbrio. Ou, se você assim o desejar, o único equilíbrio possível envolverá a produção zero de qualquer das qualidades de guarda-chuvas! A possibilidade de produção de baixa qualidade destruiu o mercado de ambas as qualidades do bem! (Interessante, pois algumas teorias parecem tratar dos preços de produção quase como se não importassem. Até nisso podem ser relevantes)
918 - ...Enfim, exemplo de seleção adversa. Quando é impossível diferenciar o produto para o consumidor, não é irreal esperar isso. Coloca os problemas que o mercado de seguros tem com isso se usar um "preço baseado na média dos acontecimentos". Apenas pessoas "problemáticas" serão atraídas. Segue-se que, para alcançar o equilíbrio, a companhia de seguros tem de basear suas taxas nas “piores previsões” e que os consumidores com um risco de furto de bicicleta baixo, mas não negligenciável, não estarão propensos a comprar o seguro de alto preço resultante.
919 - Numa situação como essa, é possível que todos possam melhorar ao exigir a compra do seguro que reflita o risco médio da população. As pessoas de alto risco estarão melhor porque poderão comprar seguros por taxas menores do que o risco real com que se defrontam e as pessoas de baixo risco poderão comprar um seguro mais favorável do que o seguro oferecido. Plano compulsório é um modelo de equilíbrio melhor que o da livre e ampla escolha aqui.
920 - ...Com efeito, há instituições sociais que ajudam a resolver essa ineficiência de mercado. É o caso, por exemplo, dos empregadores que oferecem planos de saúde para seus empregados como parte do pacote de benefícios. A companhia de seguros pode basear suas taxas nas médias do conjunto de empregados e é assegurado que todos os empregados têm de participar do programa, o que elimina a seleção adversa.
921 - Há ainda o risco/perigo moral. Segurados tendendo a se comportar, nessa nova condição, de forma pior do que se comportaria em termos de cuidado. Se muita gente agir assim, adeus seguradora. Investir menos em segurança: Se fosse impossível comprar um seguro contra furto de bicicleta, todos os ciclistas usariam trancas grandes e caras. (...) Em geral, as companhias de seguros não irão querer oferecer aos consumidores um seguro “completo”. Elas sempre irão querer que o consumidor assuma parte do risco.
922 - ...No caso de perigo moral, o equilíbrio de mercado tem a propriedade de que cada consumidor desejaria comprar mais seguro e as companhias estariam propensas a vender mais seguro se os consumidores continuassem a tomar a mesma quantidade de cuidado. Mas esse negócio jamais se concretizará, porque, se os consumidores forem capazes de adquirir mais seguro, eles racionalmente escolherão tomar menos cuidado!
923 - Perigo moral = ação oculta. Seleção adversa = informação oculta. De certa forma. O equilíbrio num mercado em que haja informação oculta envolverá tipicamente um baixo nível de negócios graças à externalidade entre os tipos “bom” e “mau”.
924 - Lembra que intervenções governamentais usadas para tentar melhorar o equilíbrio, tornando as coisas mais próximas da informação completa, também terá seus custos. Deve-se ver se vale a pena.
925 - Mercado com assimetrias e a importância da "sinalização": Um sinal apropriado nesse contexto seria o de o proprietário do carro usado em bom estado oferecer uma garantia.
926 - Produto marginal do trabalho e o problema de as empresas não saberem exatamente quem é ou não muito ou pouco qualificado. "...Se não puder distinguir os tipos de trabalhadores, o melhor que a empresa tem a fazer é oferecer um salário médio (...). Se tanto os bons como os maus trabalhadores concordarem em trabalhar por esse salário, não haverá problema com a seleção adversa." Coloca que a educação tem efeito sinalização se for capaz de atrair justamente quem tem um custo-oportunidade melhor de obtê-la. (Na prática, a coisa é meio diferente né? Mas dá pra entender a ideia dele).
927 - Apresenta conceito de "equilíbrio separador", mas sem muita alusão a exemplos concretos ou à utilidade prática disso. Zero interesse nisso a essa altura do livro e após um dia inteiro de trabalho meu, digamos assim. ("...esse equilíbrio pressupõe que cada tipo de trabalhador faça uma escolha que lhe permita separar-se do outro tipo...")
928 - O equilíbrio separador é especialmente interessante, uma vez que é ineficiente do ponto de vista social. Todo trabalhador capaz considera de seu interesse pagar para adquirir o sinal, embora isso não altere em nada sua produtividade. Os trabalhadores capazes querem adquirir o sinal não porque isso os torne mais produtivos, mas apenas porque isso os distingue dos trabalhadores incapazes.
929 - Um estudo descobriu que quem tem o diploma do curso secundário pode ganhar de cinco a seis vezes mais do que quem frequentou esse curso, mas não se formou. Esse mesmo salto descontínuo ocorre com as pessoas que se diplomam no curso superior. De acordo com uma estimativa, o retorno econômico de dezesseis anos de escolaridade é cerca de três vezes maior do que o de quinze. Efeito diploma! Foi feito até estudo a respeito: Mediante o exame de um conjunto de dados sobre como os trabalhadores montavam equipamentos, ele foi capaz de medir quanto eles produziam no primeiro mês de trabalho. Ele descobriu que o efeito da educação na produção era muito pequeno: cada ano de educação secundária aumentava a produção do trabalhador em 1,3%. Ademais, os que tinham diploma do curso secundário apresentavam basicamente produção idêntica à dos que não tinham. Aparentemente, a contribuição da educação para a produtividade inicial desses trabalhadores era bem pouca. Pura bobagem, então? Talvez não: Parece que os diplomados no curso secundário recebem salários mais altos porque são mais produtivos – mas sua produtividade é maior porque permanecem mais tempo na empresa e faltam menos ao trabalho.
930 - Traz mais um conceito, sobre incentivos, que Deus sabe pra que serve: "restrição de participação". Resumidamente...: o empregado só fica no trabalho se não tiver outra coisa melhor. E, mais uma vez, como em todo o livro, um monte de álgebra que parece inútil para concluir algo intuitivo a qualquer pessoa: "Qualquer escolha de x* em que o benefício marginal não seja igual ao custo marginal não poderá maximizar lucros".
931 - Depois, mais coisas simples em linguagem complicadas para a seguinte conclusão: "Nesse nível de generalidade, não há razão para escolher entre eles". Pois é.
932 - Algumas reflexões me parecem quase que tautologias, usando conceitos como "benefício marginal". Fico pensando o quão vazio (não incorreto, claro) são enunciados desse tipo: "Segue-se que o esquema de incentivo tem de prover para o trabalhador um benefício marginal idêntico a seu produto marginal." Ué, claro, qual dilema prático isso aí está resolvendo?
933 - Os esquemas de incentivo eficientes (com perfeita possibilidade de observação do esforço) deixam o trabalhador como o pretendente residual. Isso significa que o trabalhador irá igualar os custos marginais aos benefícios marginais. (...) Mas, se a informação for imperfeita, isso não será mais verdade. Em geral, um esquema de incentivo que divida riscos e proporcione incentivos será apropriado (ver anotação 936 mais abaixo).
934 - Os incentivos têm que fazer com que os "maximizadores" fiquem com as produções residuais: Normalmente, os acionistas de uma sociedade anônima têm o direito de voto com respeito a diversos assuntos relacionados à administração da empresa, enquanto que aos debenturistas não é dado esse direito. Por quê? A resposta pode ser encontrada no exame da estrutura de remuneração de acionistas e debenturistas. Se uma empresa produzir X unidades monetárias de lucro em determinado ano, os debenturistas têm preferência no recebimento de sua participação nesses lucros e o que sobrar vai para os acionistas. Se a parte dos debenturistas for de B, a quantia que irá para os acionistas será de X – B. Isso faz dos acionistas os pretendentes residuais – de maneira que eles têm o incentivo de assegurar que X seja o maior possível. Os debenturistas, por sua vez, só têm incentivo para garantir que X seja pelo menos igual a B, uma vez que esse é o maior valor a que têm direito. Assim, a concessão aos acionistas do direito de tomar decisões geralmente resultará em maiores lucros.
935 - China: No final de 1978, o governo central chinês instituiu uma grande reforma na estrutura agrícola, denominada “sistema de responsabilidade”. Nesse sistema, qualquer produção que excedesse uma cota preestabelecida ficava com a família e poderia ser vendida em mercados privados. O governo suspendeu as restrições às glebas privadas e ampliou a área de terra destinada à exploração agrícola por particulares. No final de 1984, 97% dos fazendeiros trabalhavam sob o sistema de responsabilidade.
936 - Em razão de assimetrias na informação no que tange a dificuldade de medir o esforço efetivamente empregado da outra parte, o trabalho assalariado ou o aluguel, apesar de serem formas eficientes, podem ser preteridas em relação á parceria. Ainda mais se o locatário for avesso ao risco. Sobre a "parceria", escreve: Esse é um caso intermediário. O pagamento do trabalhador depende apenas em parte da produção observada, mas o trabalhador e o proprietário dividem o risco das flutuações da produção. Isso dá ao trabalhador um incentivo para produzir, mas não deixa que suporte todo o risco.
937 - Afirma ser praticamente indubitável que os piores serviços do mundo eram prestados, "carrancudamente", no Leste Europeu sob o Socialismo Real.
938 - Método de um empregado húngaro para driblar todos esses problemas: Isso faz todo sentido à luz das afirmações anteriores sobre a monitoração dos custos: há muito poucos empregados por loja e a monitoração de seu comportamento é muito cara. Se só houvesse uma pequena penalidade em ser demitido, a tentação de relaxar seria grande. Ao pagar aos trabalhadores muito mais do que eles conseguiriam em qualquer outro lugar, Varszegi faz com que custe muito caro para o empregado perder o emprego – e reduz de maneira significativa seus custos de monitoração.
939 - Mais um caso: agiota vs Citibank num povoado de Bangladesh. O primeiro cobra 150% de juros anuais até. O segundo nem tenta competir. O primeiro seria mais ágil para minorar todos os riscos: "Esses três problemas – retornos de escala, seleção adversa e perigo moral – permitem ao agiota dos povoados manter o monopólio do mercado de crédito local". (...) Um monopólio local como esse é muito pernicioso para um país subdesenvolvido como Bangladesh. A taxa de juros de 150% impede que os camponeses realizem muitos projetos lucrativos. Um acesso maior ao crédito poderia levar a um aumento nos investimentos, com o correspondente aumento do padrão de vida.
940 - ...Interessante solução: Mohammed Yunus, economista bengalês que estudou nos Estados Unidos, criou uma instituição engenhosa conhecida como Banco Grameen (banco dos povoados) para combater alguns desses problemas. No plano do Grameen, empresários com projetos separados se reúnem e solicitam um empréstimo em grupo. Se o empréstimo for aprovado, dois membros do grupo recebem seu dinheiro e iniciam suas atividades de investimento. Se forem bem-sucedidos no esquema de pagamento da importância emprestada, dois outros membros do grupo recebem empréstimos. Se também esses pagarem pontualmente, o último membro, o líder do grupo, receberá seu empréstimo. (...) O Banco Grameen enfrenta todos os três problemas descritos. Como a qualidade do grupo influencia as possibilidades de cada um dos integrantes obterem empréstimo, os membros em potencial são muito seletivos na escolha dos companheiros de grupo. Como os membros do grupo só receberão empréstimos se os outros membros forem bem-sucedidos em seus investimentos, há fortes incentivos para que se ajudem e troquem conhecimentos entre si. Por fim, as atividades de escolha de candidatos e de monitoração do progresso no pagamento dos empréstimos são todas feitas pelos próprios camponeses, não diretamente pelos funcionários do banco, que tratam dos empréstimos. (...) Sua taxa de recuperação de empréstimos é de aproximadamente 98%, enquanto os emprestadores tradicionais de Bangladesh alcançam uma recuperação entre 30% e 40%.
EXERCÍCIOS
941 - Todas as perguntas e respostas chatas e tediosas demais pra despertar algum interesse após um dia de merda.
942 - Pronto.
FIM!
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