Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte IX

         

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte IX


Pgs. 165-182:


168 - O capítulo 9 é sobre "Inflação, atividade econômica e crescimento da moeda nominal". A meu ver, seu início é simplesmente "dessimplificar" o retorno constante do trabalho no produto. Okun fez lá a regressão dele e achou a seguinte relação: ut - ut - 1 = -0,4 (gyt - 3%). O crescimento anual do produto deve ser de, no mínimo, 3% para impedir que a taxa de desemprego aumente. Isso se deve a dois fatores que não consideramos até agora: o crescimento da força de trabalho e o crescimento da produtividade do trabalho ... Para manter uma taxa de desemprego constante, o emprego deve crescer na mesma taxa que a força de trabalho. Suponhamos que a força de trabalho cresça 1,7% ao ano; então, o emprego deve crescer 1,7% ao ano. Se, além disso, a produtividade do trabalho — produto por trabalhador — crescer 1,3% ao ano, isso implica que o produto deverá crescer 1,7% + 1,3% = 3% ao ano. (...) O coeficiente do lado direito da equação (9.2) é - 0,4, comparado com - 1,0 na equação (9.1). Dito de outra maneira, o crescimento do produto 1% acima do normal leva a uma redução da taxa de desemprego de apenas 0,4% na equação (9.2), em vez de uma redução de 1% na equação (9.1). (...) De modo mais específico, um crescimento do produto 1% acima do normal por um ano leva a um aumento da taxa de emprego de apenas 0,6%. Alguns setores de firma precisam do mesmo pessoal seja qual for o nível da atividade econômica. Cita a contabilidade. Daí diferenças do tipo. Afirma também que custa caro treinar novos empregados. Ampliações/admissões podem ser adiadas para ver se o aquecimento econômico não é voo de galinha. (e talvez custe caro demitir, logo é bom pensar bem antes).


169 - Outras decorrências da mesma questão: as empresas preferem manter os funcionários atuais, em vez de suspender temporariamente o contrato de trabalho, quando o produto está abaixo do normal e pedir a eles que façam horas extras, em vez de contratar novos trabalhadores quando o produto está acima do normal. Em tempos difíceis, as empresas mantêm seus trabalhadores — os trabalhadores de que necessitarão quando as coisas melhorarem. É por isso que esse comportamento das empresas é chamado de entesouramento de mão de obra.


170 - O aumento do emprego não reduz o desemprego na mesma proporção. Quando o emprego aumenta, nem todas as novas vagas são preenchidas pelos desempregados. Algumas dessas vagas vão para pessoas classificadas como fora da força de trabalho (também chamadas de população não economicamente ativa), isto é, que não procuravam emprego ativamente. Ademais, alguns desalentados resolvem virar "desempregados", o que mantém a taxa alta. Enfim... O desemprego responde menos do que proporcionalmente a movimentos no emprego, que responde menos do que proporcionalmente a movimentos no produto.


171 - Começa a relacionar produto, moeda real e moeda nominal. Odeio esses inícios de capítulos, pois joga mil fórmulas e complicações para concluir "lições" ridiculamente simples: Se o crescimento da moeda nominal for maior do que a inflação, o crescimento da moeda real será positivo, bem como o crescimento do produto. E para mim, ele repetirá a mesma coisa mais na frente, inclusive com outras fórmulas chatas: No médio prazo, a inflação deve ser igual ao crescimento da moeda nominal menos o crescimento normal do produto. Se definirmos crescimento ajustado da moeda nominal como o crescimento da moeda nominal menos o crescimento normal do produto, a equação (9.8) poderá ser expressa como: no médio prazo, a inflação é igual ao crescimento ajustado da moeda nominal. ... Uma maneira de pensar sobre esse resultado é dada a seguir. Um nível crescente de produto implica um nível crescente de transações e, desse modo, uma demanda crescente por moeda real. Portanto, se o produto está crescendo a 3%, o estoque real de moeda também deve crescer a 3% ao ano.


172 - Coeficiente de Okun, analisado de 1960 a 1980, deu bem baixo para muitos países. Japão chega é estranho. 1% de crescimento acima do esperado diminui o desemprego em 0,02%. Nas décadas seguintes, chegou a 0,11%, ainda baixo. Deve-se, segundo Blanchard, ao alto grau de segurança no emprego das empresas japonesas. Reino Unido e toda sua desregulamentação de 1980 em diante causou um coeficiente maior que nos EUA (0,51% contra 0,15% nas décadas anteriores).


173 - Relacionando tudo, coloca o seguinte: 



174 - A partir de tudo isso, descreve, à pg. 172, os efeitos de um aperto monetário de um ano pelo BC. Ao final de uns três anos: De modo mais informal, o aumento temporário no desemprego compra uma diminuição permanente da inflação.


175 - Desinflação e curva de Phillips: Para que o lado esquerdo da equação seja negativo — isto é, para que a inflação diminua —, o termo (u"t" - u"n") deve ser positivo. Em outras palavras, a taxa de desemprego deve ser maior do que a taxa natural. Afirma que a dor de uma desinflação pode ser menor e gradual ou rápida e dolorosa, digamos: Note que, em cada caso, o número de anos/­ponto de excesso de desemprego exigido para reduzir a inflação é o mesmo, a saber, 10: 1 ano × 10% de excesso de desemprego no primeiro cenário, 2 anos × 5% no segundo e 10 anos × 1% no último


176 - ... Dá um exemplo práticos das possíveis complicações disso. Missão do BC: reduzir a inflação de 14 para 4% em um ano ... Como você acabou de ver, isso exigiria uma taxa de desemprego 10% superior à taxa natural durante um ano. Com uma taxa natural de desemprego de 6%, isso exigiria aumentar a taxa de desemprego efetivo para 16% por um ano. Segundo a lei de Okun, utilizando um valor de 0,4 para  e uma taxa de crescimento normal do produto de 3%, o crescimento do produto teria de atender à seguinte condição: ut - ut - 1 = -( gyt - gy) 16% - 6% = -0,4 ( gyt - 3%) Isso implica um valor para gyt = -(10%)/0,4 + 3% = -22%. Em suma, o crescimento do produto deveria ser igual a -22% durante um ano! Diz que seria tanta falência e caos que talvez fosse melhor ir mais devagar.


177 - ...Aí entra a crítica de Lucas. Não basta a curva de Phillips levar em conta as expectativas. Tem que ser ponderado que as mesmas também mudam com a credibilidade da política econômica. Se o BC anuncia que vai combater a inflação, pode ser que "pe" já fique logo menor que "p", o que pouparia muito sofrimento. Por exemplo, se os fixadores de salários se convencessem de que a inflação, que andava na casa dos 14% no passado, seria de apenas 4% no futuro e se eles formassem expectativas de acordo, então a inflação cairia para 4%, mesmo se o desemprego permanecesse na taxa natural de desemprego. Usa linguagem algébrica também para demonstrar. Não vi necessidade. Ainda Sargent:  Além disso, argumentava ele, seria muito mais provável que um programa claro e rápido de desinflação tivesse credibilidade do que um programa prolongado que oferecesse inúmeras possibilidades de mudança e dissidências políticas ao longo do caminho.


178 - Fischer e Taylor criticaram, baseados na rigidez dos salários principalmente, as concepções de Sargent e Lucas. Os acordos salariais muitos seriam imutáveis por certo tempo mesmo com anúncios de mudanças na política econômica. Isso poderia atrasar muito ou tirar muito da efetividade de uma desinflação mesmo quando o BC que a promove tem grande credibilidade. John Taylor enfatiza ainda a questão da justaposição das decisões salariais. Os contratos não são feitos ao mesmo tempo e tendem a não mudar radicalmente do que outra categoria fez ou conseguiu há um ou poucos meses atrás. ... Os salários vigentes na época da mudança na política econômica resultam de decisões tomadas antes de a mudança ter ocorrido. Devido a isso, a trajetória da inflação no futuro próximo está em grande parte predeterminada. Se o crescimento da moeda nominal fosse reduzido de maneira abrupta, a inflação poderia não cair muito imediatamente, e o resultado seria uma diminuição da moeda real e uma recessão.



179 - ...O problema, porém, é este: Assim como Lucas e Sargent, Taylor não acreditava que a desinflação pudesse realmente ser implementada sem um aumento do desemprego. Para começar, ele entendeu que a trajetória de desinflação desenhada na Figura 9.3 poderia não ter credibilidade. O anúncio neste ano, por exemplo, de que o Fed diminuirá o crescimento da moeda nominal daqui a dois anos provavelmente causará um problema sério de credibilidade. Os fixadores de salários questionarão: se a decisão pela desinflação já foi tomada, por que o Banco Central deseja esperar dois anos? Sem credibilidade, as expectativas de inflação podem não mudar, acabando com a esperança de desinflação sem um aumento da taxa de desemprego. Enfim, todos enfatizaram o papel das expectativas, mas Taylor tinha mais fé na abordagem com ênfase gradualista aparentemente. 


180 - Trata do sacrifício - mais de dez anos com excesso de desemprego - que houve na economia dos EUA dos anos 80 (Reagan e Volcker). Foi mais ou menos o que era esperado pelo "enfoque tradicional". Esse resultado se deveu à falta de credibilidade da mudança na política monetária ou ao fato de que a credibilidade não é sufi ciente para reduzir de maneira substancial o custo da desinflação? (No gráfico abaixo, coloca que a queda temporária abrupta dos juros em meados de 1980 foi por medo da recessão que parecia dar as caras... , a credibilidade da postura desinflacionária do Fed certamente foi erodida pelo comportamento do Fed em 1980. A credibilidade foi restabelecida de forma progressiva em 1981 e 1982)





181 - Por fim, resume os estudos de Laurence Ball - 65 desinflações em 19 países. Algum período de desemprego acima do natural parece inevitável. Ademais, as desinflações mais rápidas estão associadas a razões de sacrifício menores. Essa conclusão fornece alguma evidência para sustentar os efeitos de expectativa e de credibilidade enfatizados por Lucas e Sargent. (...) As razões de sacrifício são menores em países que têm contratos salariais mais curtos. Isso fornece alguma evidência para sustentar a ênfase dada por Fischer e Taylor à estrutura dos acordos salariais.


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