Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XV
Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XV
Pgs. 453-482:
311 - O capítulo 19 é "Mercado de fatores e distribuição de renda". O prêmio por diploma só aumenta. Porém, nos EUA, o percentual de pessoas com diploma também tem aumentado, o que dificulta tal diferenciação e a leva para os próprios diplomados.
312 - Diferença entre insumo e fatores de produção - terra, capital e trabalho - é o horizonte temporal. Fatores rendem repetidamente. Vários ciclos de produção. O insumo se esgota no consumo. Comprar ações é aumentar o capital físico.
313 - Na reconstrução pós-Katrina os salários médios aumentaram cerca de 30% na região até atrair mais trabalhadores para lá.
314 - A distribuição de renda por fator nos EUA em 2010 era a seguinte: 68% para remunerações de empregados (contra 72% em 1972); 4,8% para juros; 15,4% para lucros; 3% para aluguéis e 8,8% para renda de proprietários. Estima-se que, na Inglaterra, de 1780 a 1850, a parcela da terra representada na renda nacional caiu de 20% para 9%. A parcela do capital foi de 35 a 44% (não inclui a terra?). Krugman alerta, entretanto, que alguns desses proprietários do "8,8%" são autônomos e donos de próprios negócios que se assemelham a trabalhadores. Não vivem sem trabalhar. (Faltou ele deixar claro se os dados são antes dos impostos e transferências. Estou supondo que sim).
315 - ...Tem outro porém no sentido inverso. Muito rendimento do trabalho é rendimento do capital humano acumulado em anos de educação. Um cirurgião pode se parecer pouco com um trabalhador comum.
316 - Para se contratar mais um trabalhador, o valor do produto marginal do trabalho deve exceder o custo. Num mercado perfeitamente competitivo, pode-se dizer que a quantidade ótima de produto (e consequentemente o número ótimo de trabalhadores) será definida pela equalização entre preço de mercado e o custo marginal. Todo tomador de preço iguala o custo marginal ao preço de mercado e ao valor do produto marginal da última unidade produzida, seja para qual fator for. Capital, trabalho...
317 - A conjuntura vai mudar tudo. Se aumenta o preço do bem produzido, há deslocamento da curva de oferta do bem e da curva de demanda por trabalho e a quantidade de trabalhadores sob o mesmo salário de um setor pode aumentar (depende da elasticidade da oferta de trabalho se o salário vai precisar aumentar). Se há queda no preço, a tendência é redução da demanda de trabalho. Aumento ou diminuição da oferta de outros fatores também irá alterar a demanda por trabalho (desmatar mata não-aproveitada pra ter mais terra agricultável pode elevar a demanda por trabalho, por exemplo).
318 - Krugman coloca que o aumento da produtividade do trabalho advinda da evolução tecnológica eleva a demanda por trabalho e, assim, os salários. (Não sei bem se é a melhor maneira de colocar as coisas, mas há lógica). De toda forma, ele mesmo diz que o progresso tecnológico pode influenciar em qualquer direção. Aumentar ou diminuir a demanda pelo fator.
319 - Por tudo exposto, o salário de equilíbrio é o valor de equilíbrio do produto marginal do trabalho. Esse valor será igual para todos os produtores de um dado mercado:
320 - A mesma lógica serve para os mercados de terra e capital. Ex: fazendeiro empregará hectare adicional à produção até o ponto que o custo/preço/arrendamento dele iguale ao valor do produto marginal dele. Do contrário, pode ser melhor gastar com outro fator e/ou ficar quieto. A distribuição de renda, assim, de uma economia se dará segundo a produtividade marginal de cada fator. O "valor" da última unidade de fator "contratada/empenhada/utilizada". Vale também para o caso de ele já ser proprietário, pois há a questão do "custo de oportunidade" que guia todas as nossas lógicas.
321 - Krugman adverte que tudo isso só vale em equilíbrio. Se a empresa, setor ou economia está produzindo fora da quantidade ótima (o que é possível), o salário não refletirá o valor da produtividade marginal do trabalho.
322 - Por que às vezes parece que a teoria não vale? Segundo Krugman, o valor do produto marginal do trabalho implica, mesmo por essa teoria, que alguns trabalhadores de uma empresa/setor/economia produzirão mais do que recebem. Afinal, o salário que equilibra as quantidades ótimas é o do último contratado, em tese o menos produtivo. Excedentes do "consumidor" (demanda por trabalho) são gerados, portanto. Ademais, outro erro comum é não-incluir os demais benefícios no cálculo da remuneração. Seguro-saúde e outros custos.
323 - Por tudo exposto, quando empresas podem concorrer pelo mesmo trabalhador (o mercado de trabalho não é totalmente livre mundialmente em razão de restrições à imigração e outros limites legais), o valor da produtividade marginal do último contratado será igual em todas essas empresas. Se for diferente, segundo a teoria, é porque essas empresas não estão competindo por ele.
324 - Passa a analisar as questões de discrepância:
325 - Talento, capital humano acumulado, natureza desagradável da atividade (caminhoneiros de carga perigosa ganham mais que os normais)... Fatores de diferenciação de renda. Há outros. Uma pesquisa de 2006 revelou o porquê de homens serem remunerados 24% a mais na ciência e engenharia que mulheres. O nível de experiência e a idade média eram bem maiores entre os homens. Tempo no emprego tem grande possibilidade de originar essa discrepância ao mesmo nível de formação.
326 - Outros fatores que tornarão mais difícil ainda explicar discrepâncias: poder de mercado (sindicatos); salários de eficiência e discriminação.
327 - A sindicalização era de 30% algumas décadas atrás. Hoje, nas empresas privadas, só alcança 7%. Segundo Krugman, isso mostra que a questão do "poder de mercado" tem pouca força hoje em dia. Também descarta que oligopsônios de empregadores sejam muito relevantes nos EUA.
328 - Salário de eficiência é bom em atividades em que é interessante reduzir a rotatividade. Seja pelo fator "gerar confiança" (tipo pagar a mais uma babá em relação ao "preço de mercado" ou da "produtividade marginal do trabalho") ou pelo custo de selecionar e treinar de novo. Como alguns trabalhadores são bons em esconder mau (abaixo do esperado) desempenho, coloca Krugman, procura-se motivar os que entregam realmente o esperado com salários acima do equilíbrio. Assim, nesses mercados, costuma haver uma falha - já que implica gastos sociais desnecessários - no sentido de existir alta procura pelo emprego (há mais demanda que oferta ao preço que acaba virando o de mercado, digamos).
329 - Como discriminação racial ou de qualquer tipo é possível nos mercados? Primeiro que nenhum mercado é perfeito, explica Krugman. Nem toda discriminação resultará num nível de lucro inviável. Segundo que, em alguns casos, o próprio governo incentivará enormes diferenças de capital humano entre as raças, conforme aconteceu na África do Sul durante o apartheid. Quase tudo era estatizado/nacionalizado a fim de garantir "bons empregos" aos brancos. Índice de nacionalização era maior que nos países "comunistas", diz Krugman. Racismo institucional nos países ditos democráticos também ajuda a explicar as diferenças que persistem. (Mankiw foi mais fundo nesse estudo da discriminação mostrando, em alguns casos, que o próprio mercado pode "demanda-la")
330 - Por fim, sobre a teoria da produtividade marginal, Krugman diz que, no geral, funciona. mas que não necessariamente é moralmente justa. Também admite que não há explicação clara do porquê de o 1% ter aumentado sua renda familiar em 277% de 1979 a 2007 enquanto que os trabalhadores com diploma de ensino superior e avançado apenas 24,3%. Já os trabalhadores com diploma de ensino médio viram sua renda familiar cair em 7,8%. Diz que talvez exista "merecimento" nisso, mas que não estão claros os motivos. Se é isso mesmo.
331 - Quanto à oferta de trabalho, Krugman relembra que o aumento do preço pode levar tanto à predominância do efeito renda (trabalhar menos horas) quanto a do efeito substituição (trabalhar mais horas). A evidência histórica sugere que o efeito renda domina no longo prazo. Hoje, com salários nos EUA de oito a dez vezes maior que no fim do século XIX, os trabalhadores optam por trabalhar menos que naquela época. A curva de oferta, portanto, tende a se inclinar pra trás, não para a frente.
332 - A partir de 1960 houve incremento de grande números de mulheres no mercado de trabalho dos EUA. Oferta mudou por questões socioculturais. Aparelho domésticos facilitaram o trabalho do lar gerando menor tempo de trabalho em tais atividades (ex: máquina de lavar).
333 - De 1990 a 2009 os EUA passaram por bônus demográfico. Oferta cresceu. A tendência se inverteu após isso. A oferta agora se desloca para a esquerda, mesmo com a imigração pelo que entendi. Esses deslocamentos dependem também da ampliação de oportunidades de mercado - local, nacional ou atpe global - de trabalho.
334 - Efeito renda/riqueza no aumento de salários significa deslocamento ao longo da curva, não o deslocamento da curva. É coisa micro/curto prazo. Já o efeito renda quanto à riqueza desloca a própria curva. Se sou mais rico (tinha 100k dólares em ações que viraram uma década depois 400k, por exemplo), tendo a ofertar menos trabalho. Não é mero deslocamento dentro da curva, mas da própria.
335 - Jornadas máximas de trabalho podem ser (e creio que o sejam), para grande parte dos trabalhadores, mera decorrência do efeito renda agindo ao longo do tempo.
336 - O efeito renda da alta de salário é muito mais significativo (geralmente o salário é 100% da renda de uma pessoa pobre) que a analise que foi feita da magnitude do efeito renda para bens isolados. Assim, uma diminuição do salário, por exemplo, certamente implicará diminuição do lazer, dominando-se o efeito substituição. Existem casos mais complexos porém, talvez muito mais comuns do que se pode imaginar, como os indivíduos com curva dobrada.
337 - ...Tudo isso é fruto da valoração de um ponto ótimo, que maximiza a utilidade marginal do trabalho para cada indivíduo. Para salários muito baixos, o efeito substituição pode ser bem relevante, sendo melhor "mal trabalhar" direito. Por sinal, caso todas as pessoas decidissem valorar mais seu tempo de lazer, trabalhando e consumindo menos, dá pra imaginar uma boa queda na produção total.
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