Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXVII
Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXVII
Pgs. 720-743:
610 - A parte XII é sobre "flutuações econômicas no curto prazo". Capítulo 33 é sobre "demanda agregada e oferta agregada". As flutuações na economia são frequentemente chamadas ciclo de negócios. Os "padrões" são meio que aleatórios/imprevisíveis. Meio que não tem, digamos. Nas crises, o investimento desaba. Não há confiança. Desemprego aumenta.
611 - Embora o investimento seja aproximadamente um sétimo do PIB (ao menos nos EUA), os declínios no investimento respondem por cerca de dois terços do declínio no PIB durante as recessões.
612 - A neutralidade da moeda no curto prazo é tese minoritária hoje em dia. Há avôs da contestação a isso. Com esse ponto de vista, na Inglaterra do século XVIII, Hume observou que, quando a oferta de moeda se expandia, após a descoberta de ouro, era preciso algum tempo até que os preços aumentassem; enquanto isso, a economia se beneficiava com maior número de empregos e de produção.
613 - Trânsito e trabalho adoecem pelo jeito: ... nos Estados Unidos e em outros países prósperos, a saúde física parece melhorar, em média, durante uma crise econômica. Gasta-se menos com lazeres supérfluos destrutivos e come-se mais em casa. Saudável. (...) Em um trabalho de 2003, Healthy living in hord times (Vida saudável em tempos difíceis), Christopher J. Ruhm, economista da University of North Carolina, em Greensboro, constatou que a taxa de mortalidade cai quando o desemprego aumenta. (Realmente isso só deve servir pra país rico). (...) Em 2006, David Potts publicou o livro The myth of the great depression (O mito do Grande Depressão) que trata da história social da Austrália na década de 1930. Nele relata que a taxa de suicídios na Austrália disparou naquela década, mas a saúde geral melhorou e as taxas de mortalidade diminuíram; após aquele período, as taxas de suicídio também caíram.
614 - Coloca que oferta e demanda agregados não são a mesma coisa que oferta e demanda na micro. Na questão micro, os bens substitutos fazem com que o gráfico possa ter comportamento bem diferente. Essa substituição microeconômica de um mercado por outro é impossível quando analisamos a economia como um todo.
615 - A curva de demanda agregada é sempre inclinada negativamente. Uma queda no nível de preços aumenta a quantidade demandada de bens e serviços. Quando o nível de preço cai, a riqueza real aumenta, as taxas de juros caem e a taxa de câmbio se deprecia. Esses efeitos estimulam as despesas de consumo, investimento e exportações líquidas. Uma maior despesa nesses três componentes da produção significa que uma maior quantidade de bens e serviços é demandada. (...)
615.1 - Explicando melhor o segundo aspecto: um nível de preços menor reduz a quantidade de moeda demandada pelas famílias; à medida que as famílias tentam converter moeda em ativos que rendem juros, as taxas de juros caem, estimulando os gastos de investimento.
616 - Efeitos sobre IEL: Como acabamos de ver, um menor nível de preços nos Estados Unidos reduz a taxa de juros norte-americana. Reagindo a isso, alguns investidores dos Estados Unidos procurarão maiores retornos, investindo no exterior. Por exemplo, à medida que as taxas de juros dos títulos do governo dos Estados Unidos diminuem, um fundo mútuo poderia vender seus títulos norte-americanos a fim de comprar títulos do governo alemão. A medida que o fundo mútuo tenta converter seus dólares em euros para comprar os títulos alemães, ele aumenta a oferta de dólares no mercado de câmbio de moeda estrangeira. Depreciação cambial. O que, por sua vez, leva a comprar mais bens made in USA. Dupla pressão para aumentar a exportação líquida, já que caem as importações. Aumenta a quantidade demandada de bens e serviços.
617 - Nível de preço cair significa que "seu dólar", cidadão americano, passa a valer mais. Ficam três opções. (1) Economizar/poupar esse excedente que surgiu (mesmo pressionando por juros mais baixos), (2) aumentar o consumo ou (3) investir no exterior (mesmo pressionando a depreciação futura e aumentando IEL). Pois bem ... Qualquer que seja sua opção, a queda no nível de preços provoca um aumento na quantidade demandada de bens e serviços.
618 - Há vários fatores que podem retrair ou expandir a demanda agregada. De maneira inversa, imagine que um boom do mercado de ações deixe as pessoas mais ricas e menos preocupadas com a poupança. O aumento resultante nas despesas de consumo significa maior quantidade demandada de bens e serviços para qualquer nível de preços dado, de modo que a curva de demanda agregada se desloca para a direita. Outro fator são os impostos.
619 - Decisões sobre o investimento também mudarão a demanda agregada. O quanto as empresas querem ou precisam investir ou confiam que podem. Um crédito fiscal governamental pode influenciar isso. Expansionismo monetário também. O mesmo para compras do governo.
620 - ...Por fim, há as influências externas sobre a exportação líquida. Por exemplo, quando a Europa passa por uma recessão, compra menos bens dos Estados Unidos. Isso reduz as exportações líquidas norte-americanas em todos os níveis de preços e desloca a curva de demanda agregada da economia dos Estados Unidos para a esquerda. Especulação cambial também causa efeitos do tipo, lembra. Seja em que sentido for. Enfim, são vários fatores os que podem deslocar a demanda agregada.
621 - Agora sobre a curva de oferta. No longo prazo, é vertical (acredita-se). Não tem a ver com a demanda agregada. Tem a ver com os fatores de produção. Existiria, portanto, uma "taxa natural de produção". É o produto potencial, economia de pleno emprego.
622 - Mankiw entusiasta da abertura: A abertura para o comércio internacional tem efeitos similares aos da invenção de novos processos industriais, pois faz com que um país se especialize em indústrias de alta produtividade, de modo que isso também desloca a curva de oferta agregada de longo prazo para a direita.
623 - Por que as mudanças no nível de preços afetam a produção no curto prazo? ("a curva de oferta agregada tem inclinação positiva no curto prazo"): a) salários rígidos: não caem imediatamente numa crise, em razão dos contratos. Nível de preço cai uns 5% e a empresa não pode repassar esse lucro menor aos contratos. Nas palavras de Mankiw: os salários nominais se baseiam na expectativa de preços e não respondem imediatamente quando o nível real de preços é diferente do esperado. Assim, o governo pode entrar na história expandido a oferta monetária e evitando deflação e a redução da oferta abaixo do potencial natural da oferta agregada.
624 - ...b) preços rígidos, em razão dos custos de menu. Em outras palavras, como nem todos os preços se ajustam imediatamente a mudanças das condições econômicas, uma queda inesperada no nível de preços deixa algumas empresas com preços mais altos que o desejado, e esses preços altos deprimem as vendas e induzem as empresas a reduzir a quantidade de bens e serviços que produzem. (Até apostas erradas podem levar a isso). ... O mesmo raciocínio se aplica quando a oferta de moeda e o nível de preços ficam acima do que as empresas esperavam, quando originalmente estabeleceram os preços. Enquanto algumas empresas aumentam os preços imediatamente, em resposta ao novo ambiente econômico, outras ficam para trás, mantendo os preços em níveis mais baixos que o esperado. Esses preços atraem os consumidores, o que induz as empresas a aumentar o número de vagas e a produção. Assim, durante o período em que essas empresas operam com preços defasados, existe uma associação positiva entre o nível geral de preços e a quantidade produzida. Essa associação positiva é representada pela inclinação positiva da curva de oferta agregada no curto prazo.
625 - ...c) percepções equivocadas: ofertantes confundem queda de nível de preço geral com queda de nível de preço relativo e passam a reduzir a produção (ou mesmo trocar de setor num caso extremo). Enfim, interpretação incorreta dos sinais que os preços mandam. Demora pra perceber que não foi só o preço "deles" que caiu. Outro exemplo (mas igual): De forma similar, trabalhadores podem perceber uma queda em seus salários nominais antes de notar uma queda nos preços dos bens e serviços que eles compram. E podem inferir que a remuneração pelo trabalho está temporariamente baixa e reagir reduzindo a quantidade de trabalho que oferecem.
626 - Resume: A nova variável importante que afeta a posição da curva de oferta agregada de curto prazo é a expectativa das pessoas quanto ao nível de preços.
627 - Guerras, crises imprevistas e grandes ondas de pessimismo: ... como as famílias e as empresas agora desejam adquirir menor quantidade de bens e serviços a qualquer nível de preços, o evento reduz a demanda agregada. Investem e consomem menos, devido às incertezas. O nível de preços cai. Profecia autorrealizável. Essa queda no nível esperado de preços altera os salários, os preços e a percepção das pessoas, que, por sua vez, influencia a posição da curva de oferta agregada de curto prazo. Por exemplo, segundo a teoria de salários rígidos, depois que trabalhadores e empresas esperam um nível de preços mais baixos, começam a negociar salários nominais menores; a redução de custos de mão de obra incentiva as empresas a contratar mais trabalhadores e a expandir a produção, em qualquer nível de preços. Portanto, a queda no nível de preços esperado desloca a curva de oferta agregada de curto prazo para a direita, de OA1 para OA2 , na Figura 8. Esse deslocamento permite que a economia se aproxime do ponto C, onde a nova curva de demanda agregada (DA2) cruza a curva de oferta agregada de longo prazo. Tudo isso aí abaixo em gráfico:
628 - ...Em outras palavras, o efeito de longo prazo de um deslocamento na demanda agregada é uma mudança nominal (o nível de preços é menor), mas não uma alteração real (a produção é a mesma). (...) No longo prazo, os deslocamentos na demanda agregada afetam o nível geral de preços, mas não afetam a produção.
629 - Lembra, porém, que formuladores de políticas podem acelerar todo esse processo recompondo a demanda agregada, o que tem seus desafios.
630 - PIB trianual (média histórica de uns 10%) dos EUA na História:
631 - Grande depressão: O PIB real caiu perto de 27% de 1929 a 1933, e o desemprego subiu de 3% para 25%. Ao mesmo tempo, o nível de preços caiu 22 % nesses quatro anos. ... A maioria dos economistas responsabiliza, principalmente, a queda na oferta de moeda: de 1929 a 1933, a oferta de moeda caiu 28%. (...) Outros economistas têm sugerido razões alternativas para o colapso na demanda agregada. Por exemplo, o preço das ações caiu cerca de 90% durante esse período, comprimindo a riqueza das famílias e, assim, as despesas de consumo. Além disso, os problemas bancários podem ter diminuído as despesas de investimento. Naturalmente, todas essas forças podem ter agido juntas para contrair a demanda agregada durante a Grande Depressão. (Essa segunda coisa me parece claramente ligada à primeira). Posteriormente, dá mais dados da crise de 29. No pânico bancário, 9000 bancos foram fechados entre 1930 e 1933. Quando eles retiraram seus fundos, o empréstimo e a criação de moeda normais do sistema bancário foram conturbados. A oferta de moeda entrou em colapso, resultando em uma queda de 24% no índice de preços ao consumidor de 1929 a 1933. Essa deflação elevou a carga real das dívidas das famílias. (Mais motivo pra gastar/consumir/investir menos). O crédito para uma possível retomada "sumiu". (...) Mankiw arremata: Provavelmente a fonte mais importante de recuperação após 1933 foi a expansão monetária, facilitada pela decisão do presidente Franklin D. Roosevelt de abandonar o padrão ouro e desvalorizar o dólar. De 1933 a 1937, a oferta de moeda aumentou, o que interrompeu a deflação. A produção na economia cresceu cerca de 10% ao ano, três vezes a sua taxa normal.
632 - Boom da II Guerra: As compras do governo de bens e serviços quase quintuplicaram entre 1939 e 1944. Essa enorme expansão da demanda agregada quase dobrou a produção de bens e serviços da economia e levou a um aumento de 20% no nível de preços (embora controles generalizados do governo sobre os preços tenham limitado esses aumentos). O desemprego caiu de 17% em 1939 para cerca de 1 % em 1944 - o menor da história dos Estados Unidos.
633 - Trata também dos vários fatores da crise de 08, seja da galera que argumenta pela "falta de regulamentação financeira" (securitizações imprudentes e afins), seja pela ótica dos que criticam juros artificialmente baixos e políticas de estímulo exageradas que fizeram preços residenciais dobrarem de 95 a 2006 para depois caírem 30%. O grande número de execuções hipotecárias por inadimplência fez despencar o valor geral das casas, o que tornava impossível aos devedores "subprime" pagar as dívidas mesmo com a venda das residências. Uma segunda repercussão foi que as várias instituições financeiras que possuíam títulos hipotecários sofreram enormes perdas
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