Economia Mainstream - Mankiw Contra MMT
Um guia do cético para a Teoria Monetária Moderna – por Greg Mankiw
1 - Em primeiro lugar, em nosso sistema monetário atual, com juros pagos sobre as reservas, qualquer dinheiro que o governo imprima para pagar uma conta provavelmente acabará no sistema bancário como reservas, e o governo (por meio do Fed) precisará pagar juros sobre essas reservas. Isto é, quando o governo imprime dinheiro para pagar uma conta, está, na verdade, tomando emprestado. O dinheiro pode ficar como reserva para sempre, mas os juros aumentam ao longo do tempo. Um proponente da TMM apontará que os juros podem ser pagos imprimindo ainda mais dinheiro. Mas a base monetária em constante expansão terá mais ramificações. A demanda agregada aumentará devido a um efeito riqueza, eventualmente estimulando a inflação. (Isso depende da demanda por liquidez, creio eu. Vai se manter? Diminuir? Aumentar? E do que está acontecendo na economia real, também na ponta da oferta, claro. Aí entram as discussões sobre hiato e etc. Mas ok, é uma possibilidade) (...) Em segundo lugar, se não forem pagos juros suficientes sobre as reservas, a expansão da base monetária aumentará os empréstimos bancários e a oferta de moeda. As taxas de juros devem então cair para induzir as pessoas a manter a oferta monetária expandida, novamente pressionando para cima a demanda agregada e a inflação. (Verdade. O contrário seria supor que a oferta se expande na mesma proporção e automaticamente em relação à demanda).
2 - Ademais, o governo não controla a demanda por liquidez. Pode até tentar enganar o mercado, mas não deve ter muito sucesso: Terceiro, o aumento da inflação reduz a quantidade real de moeda demandada. Essa queda nos saldos monetários reais, por sua vez, reduz os recursos reais que o governo pode reivindicar por meio da criação de dinheiro. Na verdade, é provável que haja uma curva de Laffer para senhoriagem. Um governo que age como se não tivesse restrições financeiras pode rapidamente se ver do lado errado dessa curva de Laffer, onde a capacidade de imprimir dinheiro tem pouco valor na margem. (...) Diante dessas circunstâncias, um governo pode decidir que não pagar suas dívidas é a melhor opção, apesar de sua capacidade de gerar mais dinheiro. Ou seja, o default do governo pode ocorrer não porque seja inevitável, mas porque é preferível à hiperinflação.
3 - Parênteses para um texto de 93 de Fernando de Holanda Barbosa: "No Brasil o Programa de Ação Econômica do Governo Castello Branco (PAEG) procurou criar um mercado de títulos da dívida pública com a introdução das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), um título com correção monetária, para que o Governo Federal fosse capaz de se financiar através de um instrumento não inflacionário. Esta experiência fracassou porque a regra de correção monetária foi mudada de maneira casuística em diversas oportunidades, e o governo deixou de ter a credibilidade necessária para colocar no mercado títulos de longo prazo. A conseqüência natural foi o financiamento de grande parte do déficit público através da emissão de moeda." E, mais na frente, tratará dos perigos do "imposto inflacionário": O imposto inflacionário é bastante peculiar pois o público pode evitar o seu pagamento sem que isto se configure num ato ilegal, bastando que ele reduza o estoque real de moeda que deseja reter. Para conseguir o mesmo montante de financiamento quando o estoque real de moeda diminui, a taxa de inflação tem que aumentar para compensar a queda da receita, criando uma dinâmica perversa que conduz a um processo hiperinflacionário. (O texto traz recomendações que poderiam tornar o então futuro Plano Real ainda melhor a meu ver, como a crítica ao câmbio fixo).
4 - Mankiw afirma que a MMT exagera a crítica aos exageros das "TQM". Essa afirmação exagera o caso contra a visão dominante. Em dados decenais dos EUA desde 1870, a correlação entre a inflação e o crescimento da moeda é de 0,79. Os dados entre países exibem uma correlação igualmente forte (MANKIW, 2019, p. 109–110). (...) No entanto, os macroeconomistas convencionais também vão além do raciocínio da teoria quantitativa mais simplista. Eles enfatizam que a demanda por moeda pode ser instável, que distinguir ativos monetários e não monetários é difícil em um mundo de rápida inovação financeira, que o crescimento monetário futuro esperado pode influenciar a inflação atual quando as pessoas estão forward-looking e que vários fatores além da política monetária influenciam a demanda agregada e a inflação. Eles também reconhecem que, segundo os arranjos de política atuais, os bancos centrais têm como meta as taxas de juros no curto prazo e a inflação no longo prazo e que os agregados monetários desempenham um papel pequeno. Mas essas ideias refinam a teoria quantitativa da moeda em vez de refutá-la.
5 - Seus proponentes admitem que “todo gasto (privado ou público) é inflacionário se impulsionar a demanda agregada nominal acima da capacidade real da economia para absorvê-la” (MW&W, p. 127).
6 - Em particular, pode-se ver o trabalho posterior sobre determinação de salários e preços como o estabelecimento da centralidade do regime keynesiano destacado na pesquisa anterior sobre desequilíbrio. Quando as empresas têm poder de mercado, elas cobram preços acima do custo marginal, portanto, sempre querendo vender mais aos preços vigentes. Em certo sentido, se a maioria das empresas possui algum grau de poder de mercado, então os mercados de bens normalmente estão em um estado de excesso de oferta. Essa teoria do mercado de bens é frequentemente associada a uma teoria do mercado de trabalho com salários acima do equilíbrio, como o modelo de salário-eficiência. Como resultado, o regime keynesiano de excesso de oferta generalizado não é apenas um resultado possível para a economia, mas o típico. (...) Essa lógica me leva de volta à TMM. A conclusão de que “as economias normalmente operam com capacidade produtiva livre” pode ser interpretada no sentido de que as economias estão geralmente no regime keynesiano de excesso de oferta generalizado. Neste sentido, a TMM é semelhante à análise novo keynesiana. (...) Neste ponto, vale a pena distinguir o nível natural de produção e o emprego de nível ótimo. O nível natural é o nível em que a economia se encontra na média e para o qual a economia gravita no longo prazo, enquanto o nível ótimo é o nível que maximiza o bem-estar social. Quando o excesso de oferta generalizado é a norma devido ao poder de mercado generalizado, o nível natural está abaixo do nível ótimo. A inflação tende a aumentar quando o produto e o emprego excedem seus níveis naturais, mesmo que permaneçam abaixo de seus níveis ideais. (Creio que os keynesianos ingênuos errariam as expectativas dos grandes capitalistas com poder de mercado. Eles não vão deixar o sistema sair da sobreoferta. Reagiriam aumentando os preços). Afinal, os responsáveis pela definição de preços não visam maximizar o bem-estar social. Eles visam maximizar o bem-estar privado e o fazem atingindo seus mark-ups alvo de preços acima do custo marginal.
7 - A TMM teria o controle de preços a propor? Na prática, isso é possível? Não parece que tem sido.
8 - Concordo que a economia normalmente opera com excesso de capacidade, no sentido de que a produção da economia muitas vezes fica aquém do seu ótimo. Mas essa conclusão não significa que os formuladores de políticas raramente precisam se preocupar com as pressões inflacionárias.
9 - Em outro texto do mesmo "site": ... O próprio Milton Friedman, ao contrário do que muita gente pensa, não assume que V seja constate, inclusive coloca V em função de outras 6 variáveis. Todo mundo sabe desde muito tempo, monetaristas incluso, que uma expansão de base pode não levar a um aumento no nível de preço dependendo de como V e Y se comportem, e existem infinitas possibilidades neste sentido. Está muito longe de ser algo novo para a economia neoclássica.
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