Robert Murphy - A teoria do valor-trabalho, Uma crítica a Kevin Carson
Robert Murphy - A teoria do valor-trabalho, Uma crítica a Kevin Carson
1 - Afirma que discorda de Carson, mas que ele é honesto. E, mais importante, eu jamais considerara as origens da distribuição atual dos títulos de propriedade, e Carson apresenta bons argumentos para dizer que a defesa libertária típica da relação patrão/empregado talvez seja bastante ingênua, devido ao desconhecimento do desenvolvimento histórico do capitalismo.
2 - No contexto de uma economia monetária, obviamente, uma teoria econômica do valor deve explicar os preços nominais de vários bens e serviços Nesse sentido, uma teoria econômica do valor é, na verdade, apenas uma teoria acerca da formação de preços.
3 - Anota sobre o valor-trabalho: Este procedimento é muito semelhante, é claro, ao processo pelo qual os austríacos atribuem toda a produtividade líquida aos “fatores originais” da terra e do trabalho.
4 - A teoria do valor-custo tem os seus méritos. Oferece, sim, uma explicação consistente dos preços de mercado, particularmente dos preços relativos; o produto X custa duas vezes mais do que o produto Y porque produzir o primeiro custa duas vezes mais do que produzir o segundo.
5 - Críticas: Aplica-se apenas a bens reprodutíveis. Evidentemente, a teoria do valor-custo só é capaz de explicar os preços de mercado de bens reprodutíveis. Cita quadro de Van Gogh. (Pra mim, Murphy já começou errado, já que a explicação é inclusive simples. Qual o trabalho envolvido para reproduzir algum "quadro de van Gogh" ou algo tão importante quanto? Pois bem, é por aí. Vale muito pelo mesmo motivo que um monopólio pode alterar totalmente o preço de algo).
6 - Carson, ao propor algo meio que híbrido, ameniza o "erro de Ricardo". Carson: Como demonstrei, ele sabia muito bem que a sua lei do valor era apenas uma lei particular; sabia, por exemplo, que o valor de bens escassos repousa sobre um princípio muito diferente. Ele errou apenas na medida em que atribuiu um valor bastante exagerado à extensão de validade de sua lei, e praticamente imputou-lhe validade quase universal.
7 - O ponto central da argumentação de Murphy me parece ser algo como "TVT é a mecânica de Newton" e a Teoria da utilidade marginal é a de Einstein. "Se não houvesse explicação melhor, então, sim, decerto não seria “fatal” que a teoria do trabalho explicasse apenas tendências de longo prazo, e somente para uma classe limitada de mercadorias; uma compreensão parcial é melhor do que nenhuma".
8 - Admite que os "preços de equilíbrio" de Bawerk não são exatamente consensuais mesmo entre os austríacos. É verdade que mesmo essa noção de equilíbrio é hipotética; o preço de mercado real, em um dado momento, pode não ser o preço de equilíbrio. Também é verdade que muitos austríacos, na esteira de Ludwig Lachmann (1906-1990), questionam a validade de tal constructo hipotético. Mas, quanto aos austríacos que continuam a endossar a noção de preço de equilíbrio (embora admitam que este talvez nunca possa ser alcançado, no mundo real, senão aproximadamente), eles ainda assim permanecem perfeitamente coerentes ao preferir a sua explicação à de Ricardo. Como o próprio Carson admite, a falta de realismo (isto é, o fato de o preço de equilíbrio não igualar exatamente o preço de mercado real, num dado momento) ocorre em ambos os campos. A diferença está na generalidade da teoria: o subjetivista moderno possui uma teoria de preço que procura explicar os preços, sensíveis ao tempo, que se formariam num mercado, caso todas as oportunidades de “puro lucro” fossem aproveitadas. Esses preços de equilíbrio, hipotéticos e oscilantes, incorporariam alterações na procura dos consumidores, interrupções na oferta e todas as outras mudanças, desde que antecipadas, e a teoria aplicar-se-ia também a bens não reprodutíveis.
9 - Adiante, Carson cita John Stuart Mill, que exprime este ponto com grande clareza: É, pois, estritamente correto dizer que o valor de coisas cuja quantidade se pode aumentar à vontade não depende (a não ser acidentalmente, e durante o tempo necessário para a produção ajustar-se) da procura e da oferta; pelo contrário, é a procura e a oferta que dependem do valor. Existe uma procura de determinada quantidade da mercadoria ao seu valor natural ou de custo, sendo a ela que a oferta procura ajustar-se a longo prazo). (é um trecho do livro de Stuart Mill, que tem na coleção "Os Economistas").
10 - Resume o ponto de Carson: Ainda que o teórico do trabalho admita que o preço de mercado é determinado, em qualquer momento, pela oferta e pela procura, se essas forças são, elas próprias, ditadas pelo princípio do trabalho, não será então a teoria do trabalho, em certo sentido, mais fundamental?
11 - Sua resposta (Murphy): Não precisamos responder a esta pergunta, pois a sua premissa não é verdadeira. A procura (e não a quantidade de demanda), com efeito, independe completamente de quaisquer considerações de custo; Mill demonstra desleixo ao dizer que a procura depende do valor. Para a corrente econômica dominante, a oferta é determinada, evidentemente, pelo custo (marginal). Contudo, isso não reduz as coisas ao princípio do trabalho (ou custo); na melhor das hipóteses, demonstra, como Alfred Marshall (1842-1924) insistiria, que é um erro atribuir valor de troca à oferta ou à procura. (Murphy está ignorando que a procura vai depender da oferta, a qual vai depender do "custo" - trabalho -? Como vou ter oferta ilimitada, por exemplo, com tempo de trabalho limitado? Só se o conhecimento tecnológico fosse ilimitado e olhe lá)
12 - Traz um exemplo com charutos a $5. De repente, há um grande aumento na procura por charutos (ou seja, a curva de procura move-se para a direita, no gráfico). A menos que a curva de oferta seja perfeitamente elástica, o novo preço de equilíbrio aumentará para, digamos, $8. Isso se dá "devido aos custos marginais mais altos em níveis mais elevados de produção". (...) Logo, embora seja verdade que a utilidade marginal de um bem pode ser influenciada por considerações de custo (porque fatores de custo podem influenciar na quantidade de um bem), é também verdade que as curvas de procura dos consumidores podem influenciar no custo de produção de uma mercadoria (porque os fatores de demanda podem influenciar na quantidade de um bem). (Correto, mas consumidores não possuem recursos nem tempo infinitos. Este tempo de trabalho/poder-de-consumo que está sendo direcionado aos charutos está sendo (mantidas demais condições, como relação consumo-poupança) retirado de algum outro lugar (bem consumido), que está tendo seu tempo de trabalho socialmente necessário diminuído, enquanto talvez algumas empresas menos produtivas deste "bem 2" quebrem)
13 - Lembra que os austríacos contestam que a "ponta da oferta" seja objetiva: Austríacos puristas negam a existência de algo como “custo real”, insistindo em que todos os custos de produção são, de fato, custos de oportunidade, definidos como avaliações subjetivas de oportunidades perdidas.
14 - Carson nega que o trabalho abstrato seja o fundamental para medir o valor e toda a teoria objetiva marxista. Propõe meio que uma teoria subjetiva do valor-trabalho que é difícil de entender em que exatamente se diferencia da "utilidade marginal". Fica uma coisa híbrida, criticada pelos dois lados ao que entendi. Carson explica, adiante, por que o trabalho é o único custo “real”, ao passo que os demais custos são apenas custos de oportunidade (sendo, portanto, artificiais).
15 - Em outras partes Carson, com sua teoria de que "o trabalho é o único custo real (que não é mero "custo-oportunidade") não me parece negar a teoria objetiva não... (enfim, confuso, eu teria que ler o livro por mim mesmo e não pelas seleções de Murphy): "Nestas linhas, Carson diz que “o valor de troca de um bem é fruto do trabalho envolvido em sua fabricação; é a desutilidade do trabalho e a necessidade de convencer o trabalhador a oferecer os seus serviços para o processo de produção – fator único entre todos os “fatores de produção” – que geram o valor de troca”
16 - Carson: Os subjetivistas [...] trataram como um pressuposto a estrutura existente dos direitos de propriedade sobre os “fatores”, e passaram então a demonstrar como o produto seria distribuído entre tais “fatores”, de acordo com a sua contribuição marginal. Com esse método, se a escravidão ainda existisse, um marginalista poderia, afetando seriedade, escrever sobre a contribuição marginal do escravo para o produto (imputada, é claro, ao senhor de escravos), e a respeito do “custo de oportunidade” implicado no uso do escravo para este ou aquele fim. A tudo isso, Murphy responde que sim, poderia. Não é uma questão "moral". (O problema, Murphy, é essa ideia da "produtividade zero" do escravo, por exemplo. Naturalizar tudo. Trabalhador ganha pouco porque a produtividade é baixa. Escravo ganha nada porque sua produtividade é próxima à zero ou zero, é mera ferramenta, sei lá).
17 - Bawerk e a preferência temporal: "o preço de mercado (mesmo no longo prazo) de um vinho de vinte anos será maior do que o de um vinho de dez anos, mesmo que a quantidade de trabalho implicada na produção das duas garrafas seja praticamente a mesma". TVT não explicaria isso. Não entendi a defesa de Carson, não vi muita razão. (Até porque não parece ser a minha). A crítica (de Murphy) da crítica de Carson fez menos sentido ainda. Claro que a pessoa perderia mais se o vinho com "intenção de venda em 20 anos" fosse roubado.
18 - Murphy conclui: Além disso, tudo o que é verdadeiro na teoria do custo (trabalho) pode ser incorporado à teoria subjetivista do valor.
19 - (Acho que todo o debate é bem mais longo que esse texto aí. Eu não quis discutir ponto por ponto. Apenas algumas pinceladas).
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